Nós, brasileiros, temos o privilégio de ter um sistema público universal de saúde que, em várias áreas, serve de referência para o mundo. E isso não é um exagero. O Sistema único de Saúde (SUS) deve ser incansavelmente enaltecido pelo conceito de ampliação de acesso à saúde, disponibilidade de atendimento e serviços transformadores, e pelo esforço de uma equipe de profissionais sempre empenhada em melhorar a vida de mais de 200 milhões de pessoas. Os programas para oncologia, HIV e transplantes, além do Programa Nacional de Vacinação, estão entre os melhores do mundo. Mas eis que surge uma grande questão: será que o atual modelo de saúde está mais próximo da conquista da almejada sustentabilidade?
Após participar de eventos sobre essa temática nos últimos tempos, não tenho dúvida de que caminhamos rumo a um ecossistema saudável e justo. Ainda vivenciamos desafios e esperamos um caminho tortuoso a percorrer, mas já existe o senso comum entre gestores, indústria e profissionais de saúde nos âmbitos público e privado sobre a urgência da prática e adoção de uma medicina preventiva, preditiva, participativa e integralizada.
Se a tecnologia provoca uma revolução constante em diferentes aspectos nas nossas vidas, ela também vem revolucionando a medicina e contribui para o equilíbrio no setor. Um exemplo prático é o das consultas à distância que amplificaram o acesso da população aos profissionais de saúde, diminuem filas desnecessárias e reduzem os custos para o sistema e para a população.
Outro avanço considerável diz respeito à importância da coleta de dados e informações que é facilitada pela tecnologia, como estratégia de mudança. É assim que poderemos reconhecer o perfil do paciente, analisar a necessidade de cada um para mudar os parâmetros de atendimento e oferecer opções inteligentes em serviços de saúde. Tanto a inteligência artificial como a criação de algoritmos preditivos permitem um cruzamento poderoso de dados, resultando em mais saúde e menos desperdícios para toda a cadeia. O desafio, no entanto, está na implantação de toda essa comunicação de dados em larga escala e de forma integrada.
O objetivo é que os dados de cada um dos brasileiros estejam disponíveis e possam ser acessados em qualquer serviço de saúde do território nacional. Claro que há chão pela frente para isso, mas vamos conseguir. E, neste contexto de armazenagem e compartilhamento de dados, creio que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não deva ser encarada como uma sombra na busca pela interoperabilidade de dados. Acho que a legislação beneficia a todos ao associar segurança e transparência ao processo.
Para o equilíbrio pleno desse complexo ecossistema, a tecnologia é aliada por também trazer novas técnicas cirúrgicas, medicamentos modernos, dispositivos de ponta e terapias com maior custo-efetividade. Gostaria de chamar a atenção para as cirurgias minimamente invasivas, e para como elas reúnem benefícios à saúde do paciente, para o dinamismo das filas de espera, e redução de custos para os envolvidos.
Sem grandes incisões, essas intervenções possibilitam redução no tempo de internação, número reduzido de complicações e retornos hospitalares, quantidade menor de dias de afastamento do trabalho e custo-efetividade. Exemplos são vistos com cirurgias bariátricas ou metabólicas, ortopédicas para tratar pacientes com escoliose e câncer, entre outras. Outro procedimento minimamente invasivo que merece destaque pelos benefícios citados acima é o da trombectomia mecânica para o tratamento de pacientes vítimas de AVC (acidente vascular cerebral).
Enfim, do lado tecnológico, existem cada vez mais soluções factíveis para aperfeiçoarmos o sistema de saúde do país. Vivemos um momento rico de experiências positivas. Reconhecer, conhecer e avançar são atitudes que farão a diferença. Teremos um ano desafiado por grandes necessidades e reformulações na saúde, mas creio que progrediremos bastante.
*Igor Zanetti é diretor de acesso e assuntos corporativos da Medtronic Brasil.