No Rio Grande do Sul, Hospital Banco de Olhos realiza mais de um quarto dos transplantes de córneas

Em 27 setembro é comemorado o Dia Nacional de Doação de Órgãos, data criada para conscientizar da importância deste ato e incentivar que as pessoas façam uma boa ação que pode salvar até oito vidas. No Rio Grande do Sul, o transplante mais realizado é o de córneas, que no ano passado registrou mais operações (785) do que todos os outros órgãos juntos (715). Como referência no procedimento, o Hospital Banco de Olhos São Pietro (HBO) realizou 207 destas cirurgias e busca aumentar o protagonismo para reduzir a fila de espera. No Brasil, o número de pessoas aguardando pelo transplante quase triplicou após a pandemia, saindo de 10.734 em 2014 para 28.937 em junho de 2024, de acordo com dados da Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

No ano passado, o índice de transplantes atingiu melhor marca desde 2015, ano em que a fila do transplante de córnea foi zerada e assim, permanecendo inexpressiva durante 6 anos. Hoje a espera é de um ano e tem 985 pessoas na fila, sendo 240 apenas no HBO. O cenário piorou por conta da pandemia, momento crítico da saúde global, em que havia poucas informações sobre a propagação das doenças e dos riscos para os receptores dos órgãos. Durante o período, as cirurgias foram interrompidas e o tempo de espera aumentou.

“Toda a organização para a captação de uma córnea, em termos de estrutura e pessoal, foi afetada na pandemia. Os grandes hospitais de Porto Alegre não conseguiam desempenhar de forma plena esse serviço, seja porque o assistente social não entrava mais no hospital ou por questões de acesso aos familiares dos falecidos. Na pandemia, só recebíamos córneas de Caxias do Sul, pelo trabalho exemplar que foi feito lá”, contextualiza Otávio Magalhães, oftalmologista do Hospital Banco de Olhos São Pietro.

No início da pandemia, as pessoas infectadas com a COVID-19 não podiam doar. No entanto, hoje não é mais obrigatório o exame negativo para a doação, desde que o óbito não tenha relação com a doença. Em 2023, apesar do índice superior ao dos anos anteriores à pandemia, os profissionais de saúde buscam alternativas para realizar mais captações e voltar a zerar a fila. Responsável sozinho por mais de um quarto dos procedimentos realizados no RS, o HBO integra a rede de 33 equipes especializadas em transplantes de córnea no estado.

“Com mais organização, os resultados estão melhorando e a tendência é que sigam em crescimento. As melhoras dos índices será fruto de aprimoramento coletivo. Não apenas da doação, mas de toda estrutura, da formação da equipe que vai falar com os familiares, passando pela etapa de captação, transporte do órgão para chegar em tempo hábil, além das etapas posteriores”, destaca o especialista, que complementa. “O Hospital Banco de Olhos vem se desdobrando para atender essa demanda e é fundamental para os transplantes de córneas do estado, entregando um número relevante de operações realizadas com aplicação de todas as técnicas possíveis para o procedimento. Não é apenas a quantidade, mas também a qualidade do serviço. O número e os tipos de transplantes feitos no HBO são destaque”.

É importante destacar que a fila de transplantes é única, mesmo que o procedimento seja feito pelo SUS, convênio ou particular. A diferença é a facilidade e disponibilidade de acesso aos serviços para entrar na fila. Entre os diferentes tipos, o transplante de córnea é a mais bem sucedido, com taxa de sucesso superior a 90%, maior que os outros órgãos sólidos como rim, pulmão e coração.

Para doar, são permitidas pessoas entre 2 até 80 anos, desde que não tenham contraindicações como hepatites e HIV. Em termos de captação, a remoção da córnea pode ser feita em até 6 horas em temperatura normal ou até 12 horas com o corpo do doador sob refrigeração. O tecido pode ficar armazenado por até 15 dias em um produto especial que contém antibióticos que o preserve até o momento do transplante.

O transplante é indicado quando há perda da visão por uma causa provocada pela perda de transparência da córnea ou sua deformação excessiva. Por exemplo, se a pessoa possui uma cicatriz na córnea, mas o restante do olho como a parte interna, retina e nervo óptico são saudáveis, o paciente tem a indicação. Hoje, a maior causa do transplante de córnea ainda é o ceratocone avançado, doença comum em jovens, geralmente adolescentes e com alergias. Trata-se da deformação da córnea devido ao hábito diário de esfregar os olhos, o que vai entortando e provocando a doença, deixando-a mais fina e bicuda.

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