Com a pandemia de coronavírus, a startup de biotecnologia catarinense BiomeHub viu o seu faturamento saltar para R$ 12 milhões em 2020 – valor dez vezes maior do que o registrado no ano anterior, o seu primeiro de atuação. A healthtech é um das pioneiras no Brasil no desenvolvimento de um método preciso e seguro de testagem em massa para a COVID-19. A metodologia, conhecida como testagem em pool, agiliza e reduz custos com o procedimento. Desde o início da pandemia, a BiomeHub já testou cerca de 100 mil pessoas, 30 mil delas só na capital Florianópolis, onde fica sua sede.
Em 2021, mira o mercado de soluções tecnológicas baseadas no microbioma humano, onde também já atua. No último semestre, a empresa teve uma retomada de crescimento nessa sua fatia dos negócios e, mesmo em meio a pandemia, registrou em 2020 um aumento de 50% na demanda por estes serviços. Neste ano, a empresa pretende manter o aumento de 20% ao mês com suas soluções baseadas no microbioma humano e lançar dois novos produtos.
“A demanda por testes para a COVID-19 foi responsável por 75% do nosso faturamento em 2020. Mas, mesmo se a pandemia não tivesse acontecido, teríamos dobrado o valor em relação ao ano anterior, com a procura por nossos outros serviços. Este ano, vamos compensar a natural redução de testes de coronavírus, em razão do início da vacinação, com o incremento vindo de nossas soluções de microbioma humano e lançamento de novos produtos”, explica Luiz Felipe Valter de Oliveira, CEO da startup e doutor em Genética e Biologia Molecular.
A empresa pretende colocar no mercado, até o fim deste primeiro semestre, um teste de microbioma cérvico-vaginal, chamado de HerBiome, hoje em fase de validação. Também está de olho no mercado odontológico, para o qual também lançará um teste. O Probiome, um teste do microbioma intestinal que ajuda médicos a entenderem melhor a relação do microbioma intestinal dos seus pacientes com a condição clínica que está sendo analisada, já está no mercado, e sua procura cresceu mais de 50% em 2020. “Um dos pontos que fazem com que tenhamos uma alta capacidade de inovação é a qualidade e quantidade de colaboradores com mestrado e doutorado que fazem parte da nossa equipe”, diz Oliveira.
A BiomeHub é uma spin-off da empresa de biotecnologia catarinense Neoprospecta. Fundada em 2019, em Florianópolis (SC), a startup desenvolve tecnologias relacionadas à análise de microbioma com foco em saúde humana. É uma das únicas healthtechs a desenvolver soluções tecnológicas baseadas no microbioma humano no Brasil e, com menos de dois anos no mercado, já é reconhecida nacionalmente como referência em tecnologia e conhecimento sobre o tema para a promoção da medicina preventiva e de precisão. Focada na aplicação de tecnologia de NGS ( sequenciamento genético de nova geração), a empresa fornece apoio essencial à investigação de doenças complexas, que incluem distúrbios metabólicos, diabetes e doenças inflamatórias intestinais, entre outros.
“Todos os produtos que desenvolvemos têm o foco, de alguma forma, em promover a saúde ou proteger o indivíduo. Nosso foco é fornecer tecnologias de ponta em análise de microbioma para o desenvolvimento de conhecimento, diagnósticos e novos tratamentos baseados em microbiomas”, destaca o CEO.
No ano passado, com o surgimento da pandemia de coronavírus, investiu no desenvolvimento de um método de testagem em massa de assintomáticos, chamado de triagem molecular para SARS-CoV-2, pautado em três pilares: escalabilidade, resultado rápido e baixo custo. A economia em relação aos preços praticados pelo mercado de testes RT-PCR individuais pode chegar a 60% – quanto maior o número de pessoas testadas, menor o valor.
Para dar conta da demanda pelos testes – que desde o início da pandemia já foram aplicados em trabalhadores da indústria, comércio e serviços, em servidores públicos, militares e jogadores de futebol -, a startup antecipou a ampliação de seu laboratório, em Florianópolis. A obra, que estava prevista para ser feita em 2021, teve investimento de R$ 2 milhões e foi realizada em 40 dias, entre abril e maio de 2020. Hoje, a capacidade atual de testagem no laboratório é de 500 mil testes por mês.
“Sabe-se que o spray de gotículas que liberamos através da respiração, da tosse e do espirro, é o fator mais relacionado à capacidade de contaminar as pessoas. Quanto mais alta a carga viral de um indivíduo, mais essas gotículas expelidas têm chance de contaminar outras pessoas. Como estudos mostram que a carga viral de sintomáticos e assintomáticos é basicamente a mesma, é fundamental também identificar e isolar os portadores do vírus que não apresentam sintomas e são vetores importantes na transmissão do vírus”, explica Oliveira.
Como funciona a testagem em pool
Ela é realizada em grupos de 16 pessoas por meio de testes do tipo RT-PCR – os mais precisos para detectar a presença do vírus ativo num indivíduo. Nesse modelo de testagem em grupo, são coletadas duas amostras da nasofaringe (nariz) de cada indivíduo assintomático. Um dos materiais coletados fica reservado em um tubo individual, enquanto a outra amostra é testada no modo coletivo no método RT-PCR em tempo real. Os resultados saem em até 24 horas. Caso alguém do grupo esteja contaminado, são realizados os testes individuais e os mesmos ficam isolados até a descoberta de quem do grupo está infectado pela doença. Em caso de o “grupo testar negativo”, todos são liberados com um único teste.
A metodologia é semelhante à utilizada pela cidade chinesa de Qingdao, em outubro do ano passado, para evitar um novo surto de coronavírus no país. Após identificar 12 casos ligados a um hospital que trata pacientes vindos do exterior, as autoridades testaram todos os seus 11 milhões de habitantes em cinco dias, em lotes de 10 pessoas. Dessa forma, as autoridades locais conseguiram rastrear e isolar os casos positivos rapidamente.