Alta do endividamento e inflação pressionam vendas no varejo farmacêutico, aponta índice

O setor farmacêutico registrou queda de 1,5% nas vendas em fevereiro de 2024, segundo dados do Índice de Varejo Stone (IVS). A retração também aparece no comparativo anual, com queda de 2,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior — o primeiro resultado negativo do setor em mais de um ano.

De acordo com Matheus Calvelli, Stone, o desempenho reflete um conjunto de fatores econômicos que têm afetado diretamente o consumo. “Apesar do mercado de trabalho ainda estar aquecido, houve sinais de desaceleração, com a taxa de desemprego subindo para 6,5% e a criação de empregos formais perdendo força. O alto endividamento das famílias, somado ao aumento da inflação, pressiona o orçamento doméstico”, afirmou.

Embora a análise do IVS não detalhe categorias específicas de produtos, Calvelli aponta que itens como perfumaria e cosméticos, mais sensíveis ao poder de compra, podem ter puxado a queda. Já os medicamentos de uso contínuo, por sua estabilidade na demanda, tendem a amenizar o impacto geral no setor.

A queda ainda é tratada com cautela. Para Calvelli, é cedo para afirmar se há uma mudança estrutural no padrão de consumo. “O setor foi um dos de melhor desempenho no ano passado, registrando uma alta acumulada de mais de 2%. Mais meses de análise são necessários para entender como as vendas vão se acomodar ao momento econômico do país”, explicou.

O executivo também destacou que o índice é dessazonalizado, ou seja, já desconta efeitos como o fim de campanhas promocionais ou a incidência de doenças respiratórias — comuns nessa época do ano.

Embora o IVS não faça distinção entre farmácias de rede e estabelecimentos independentes, Calvelli observa que os efeitos da retração podem ter sido diferentes entre eles. “Grandes redes têm maior capacidade de oferecer descontos, negociar com fornecedores e operar em canais digitais — fatores que podem ter mitigado parte do impacto negativo.”

Questionado sobre os efeitos na cadeia de suprimentos, Calvelli afirmou que é cedo para estimar consequências relevantes. “Uma queda na demanda pode levar a ajustes na produção e na logística, mas este é o primeiro recuo expressivo do setor em muito tempo”, ponderou.

Se por um lado o consumo desacelera, por outro a digitalização do setor avança. Segundo o executivo, o varejo farmacêutico tem investido fortemente em aplicativos e serviços de entrega rápida, o que contribuiu para um desempenho positivo no índice digital do IVS, que capta vendas realizadas em canais diretos digitais.

Comparado a outros setores considerados essenciais, como supermercados (-2,6%) e combustíveis (-1,9%), o varejo farmacêutico demonstrou resiliência relativa. Ainda assim, a retração é vista com atenção. “Com possíveis reajustes de preços e políticas públicas voltadas à saúde, há chance de recuperação, desde que haja melhora no cenário macroeconômico”, concluiu.

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