O secretário da Saúde do Estado de São Paulo, David Uip, participou na sexta-feira, 25, da abertura do 2º. Congresso Internacional de Gestão em Saúde ABRAMED, organizado pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, onde colocou os principais desafios para a gestão da saúde pública no estado, cujo orçamento é de R$ 22 bilhões, mas que precisa ainda de R$ 3 bilhões para atendimento em média e alta complexidade.
“Nosso orçamento, apesar de ser maior do que o orçamento de algumas cidades, ele é insuficiente para atender a nossa demanda, por isso, investir na prevenção pode ajudar na redução de custos”, explicou. Nos últimos três anos ele teve um reajuste 12,6%, enquanto a inflação acumulada no mesmo período foi de 20%.
O secretário falou sobre o impacto da crise econômica vivida pelo Brasil na área da Saúde e o alto custo para manter a estrutura que o Estado possui. “A saúde no Brasil atua com base em um modelo hospitalocêntrico, ou seja, não existe um programa estruturado de prevenção, trata-se a doença, que tem um custo muito mais alto. Para o governo, é economicamente inviável seguir este modelo, sendo que 80% dos municípios do Estado têm menos de 30 mil habitantes e o custeio de um hospital é extremamente alto”, afirmou. “Os hospitais do interior trabalham com cerca de 50% de sua capacidade, diante disso, existe uma dívida enorme das Santas Casas. É preciso repensar a estrutura para atender esses municípios sem precisar de novos investimentos”, ponderou Uip.
Ressaltou iniciativas que a Secretaria de Saúde está desenvolvendo, como a PPP (Parceria Público-Privada) para a implantação da central de exames diagnósticos, que pretende centralizar um serviço que hoje é prestado de forma pulverizada. O centro receberá exames feitos pela rede no Estado inteiro, para que seus médicos façam o laudo de diagnóstico com base em imagens e enviem de volta para o solicitante. “Essa iniciativa, que já conta com dez candidatos, vai trazer melhorias na qualidade do serviço prestado e ainda vai baratear o nosso custo”, revelou.
Disse também que o Estado vai abrir uma licitação para logística e produção de medicamentos, e outra para produção de produtos hemoderivados de sangue, que hoje representa um custo de mais de R$ 500 milhões em importação.
Uip revelou que até o final do governo Alckmin mais 10 novos hospitais serão entregues, passando a rede de 93 para 103 unidades. “Para se ter uma ideia do desafio do orçamento do estado, o custeio desses 93hospitais é praticamente o equivalente ao mesmo custo de se construir um hospital por ano”, enfatizou.
Um deles está sendo construído na cidade de Bauru em parceria com a prefeitura local, para atenção básica, com 220 leitos, que servirá também como hospital escola com apoio da USP. “O primeiro vestibular com 60 vagas vai acontecer esse ano”. Outro hospital será na cidade de Piracicaba, nos mesmos moldes, que atenderá a população da região.
Também falou da nova estrutura dos 83 AMEs ambulatórios médicos de especialidades dos quais 36 com equipamentos de ressonância magnética, tomografia e PET-SCAN, para que os médicos possam diagnosticar e fazer pequenos procedimentos, inclusive com anestesia geral. O objetivo é que o atendimento seja realizado pelas AMEs para que os pacientes não precisem ingressar nas filas dos hospitais. “AAME de Heliópolis teve 97% de avaliação entre bom e ótimo”, disse o secretário.
Prevenção
O secretário apontou ainda a importância de reverter o modelo hospitalocêntrico e investir na prevenção. “O diagnóstico precoce, quando bem utilizado, pode trazer mais equilíbrio na gestão da saúde”, explicou. Ele criou um programa de prevenção de câncer de mama chamado de Mulheres de Peito para atender mulheres com mais de 50 anos, em de 300 postos de atendimento e através de uma carreta que percorre deferentes localidades, que “está tendo resultados acima da média”. As carretas são equipadas com aparelho de ultrassom, conversor de imagens analógicas em digitais, impressoras, antena de satélite e computadores.
Gestão pública da saúde
Falou também da importância de se investir para melhorar a qualidade da gestão pública da saúde. Hoje 70% dos municípios paulistas são administradas por prefeitos de primeiro mandato. Das 645 prefeituras, 100 já trocaram secretários da saúde. “Um gestor de hospital público pode ser CEO de qualquer grande empresa, tendo em vista a complexidade e quantidade dos problemas que ele tem de administrar”, exemplificou.
Judicialização da Saúde
O secretário finalizou sua participação no Congresso falando sobre como a judicialização da saúde pode trazer grandes prejuízos para o Estado. Disse que São Paulo já atingiu uma cifra semelhante ao nível Federal por conta das fraudes. “Não podemos generalizar”. É claro que existem alguns casos em que a judicialização é pertinente, porém, já existem modelos estabelecidos que buscam onerar o Estado, nos obrigando a pagar por coisas que não tem o menor sentido. Como exemplou citou o caso da máfia das próteses, que recentemente fraudou o sistema de saúde.
“Recebo muitas intimações que, se não atender em 24 horas, sou ameaçado de prisão. Se não conseguirmos chegar a uma política de ajustes que perceba as dificuldades de cada setor e as mudanças que vem ocorrendo, não conseguiremos caminhar e desenvolver a saúde no Brasil. Tem de haver uma colaboração entre todos os segmentos do setor para garantir a sustentabilidade da saúde”, finalizou.