No coração do sistema de saúde brasileiro, o esgotamento profissional é uma preocupação crescente. Conhecido também como burnout, esse mal silencioso já atinge dois em cada três médicos no Brasil, segundo a pesquisa Saúde Mental do Médico, conduzida pelo Research Center, núcleo de pesquisa da Afya. A alta incidência da síndrome está relacionada com a carga burocrática associada ao prontuário eletrônico e isso já é corroborado por estudos. Um levantamento publicado pela revista especializada JAMA Network revela que mais de 50% dos casos de burnout nos profissionais da medicina estão diretamente ligados às tarefas administrativas exigidas por esses sistemas.
Para ajudar no combate deste problema crônico, a Sofya entra em cena. A inteligência artificial de raciocínio clínico plug and play, projetada para estruturar dados médicos, interpretar resultados de diagnóstico de vários testes e auxiliar em decisões clínicas complexas, tem conseguido abreviar e dar eficiência aos encargos administrativos. Com uma acurácia de 91%, a ferramenta hoje se apresenta como um antídoto contra o estresse, trazendo alívio para a rotina exaustiva dos profissionais em diversos hospitais, como o Hospital de Amor.
De acordo com Igor Couto, CEO e co-fundador da Sofya, a plataforma conta com um modelo de transcrição otimizado para compreender o vocabulário específico da saúde em português. “Ela integra-se perfeitamente com terminologias e padrões médicos globais, garantindo que cada ponto de dados seja preciso, confiável e relevante a nível internacional. Isso aumenta a eficiência da análise de dados, capacitando os profissionais de saúde a tomar decisões mais inteligentes para obter resultados superiores aos pacientes”, relata.
Tecnologia transformando o cuidado
Nos Estados Unidos, por exemplo, anualmente, quase 800.000 pacientes são prejudicados por erros de diagnóstico. A maioria deles estava associada a erros cognitivos, de acordo com um estudo recente de John Hopkins (Newman-Toker et al. 2024). O erro médico é a terceira causa de morte nos EUA (Makary e Daniel 2016).
O esgotamento mental não só resulta em consequências graves para a saúde do profissional, mas também afeta seriamente sua performance no ambiente de trabalho. “Estamos falando de erros médicos graves, diminuição na qualidade do cuidado ao paciente, incidentes de segurança e, consequentemente, uma notável redução na satisfação dos pacientes”, avalia o CEO da Sofya.
Por meio da solução, médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde conseguem reduzir em mais de 40% o tempo gasto com a burocracia, ao mesmo tempo em que elevam o nível de precisão e personalização no cuidado aos pacientes. A Sofya foi alinhada e otimizada para três subtarefas distintas, cada uma focada num aspecto diferente da informação do paciente e da interação do sistema de saúde:
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Resumo Clínico do Paciente (FHIR IPS): Criação de um resumo abrangente do histórico social e clínico do paciente para fornecer uma visão completa de seu histórico médico e pessoal;
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Impressão Clínica (Impressão Clínica FHIR): Resumindo informações objetivas de vários exames de pacientes, auxiliando na formulação de impressões clínicas e planos de tratamento precisos;
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Encontro Médico (Encontro FHIR): Documentar sistematicamente os principais elementos de cada encontro médico para agilizar a documentação clínica.
Um futuro cada vez mais inteligente
A expectativa é de que em um futuro próximo a plataforma seja implementada na maioria dos hospitais e clínicas do Brasil e também possa expandir para os EUA. Essa ambição pela expansão da tecnologia reflete não apenas o sucesso da solução em si, mas principalmente o potencial transformador da IA na medicina.
Além desses benefícios, o especialista destaca ainda que a Sofya pode se tornar uma ferramenta vital justamente no combate ao burnout, monitorando padrões de trabalho, níveis de estresse e sinais de esgotamento entre médicos. “Por meio de insights e recomendações precisas, é possível ajustar cargas de trabalho, oferecer suporte e intervenções focadas no bem-estar dos profissionais, prevenindo o esgotamento antes que ele se torne, de fato, um problema”, conclui Couto.