A adoção de tecnologias no sistema público de saúde brasileiro enfrenta desafios inerentes de um país continental. Embora existam esforços para modernizar a gestão e o atendimento dos pacientes, diversos fatores impedem uma transição suave e completa para um sistema de saúde mais tecnológico.
Atualmente, 97% dos estabelecimentos públicos de saúde no Brasil possuem computadores instalados, mas 85% possuem sistema eletrônico para registro de pacientes e só 42% mantêm informações clínicas e cadastrais no prontuário eletrônico, de acordo com o TIC Saúde 2022. É uma jornada complexa que envolve uma combinação de investimentos em infraestrutura, capacitação de profissionais, superação de resistências culturais e regulamentações adequadas. Superar esses desafios é fundamental para melhorar a eficiência, a qualidade e a acessibilidade dos serviços de saúde oferecidos à população.
Diretor da unidade de saúde pública da MV, Vandré Dall Agnol afirma que disseminar a tecnologia na saúde pública é indispensável. “É preciso saber todos os detalhes, como está a vacinação, até quando há medicamentos na farmácia, como anda a fila para cirurgias. Todos esses dados são facilmente acessíveis quando estão interligados num sistema de informações funcional”, explica.
Alguns desafios e obstáculos que acontecem em muitas instituições de saúde já são identificados e podem ser solucionados. A MV, multinacional brasileira que desenvolve softwares para a saúde, mapeou alguns desafios constatados em diversos hospitais públicos do Brasil.
Infraestrutura de tecnologia e acesso à internet
Um dos principais desafios é garantir uma infraestrutura adequada e acesso à internet em todas as áreas, especialmente em regiões remotas ou menos desenvolvidas. A disponibilidade de recursos tecnológicos, como computadores, dispositivos móveis e conexões estáveis à internet, é essencial para o uso efetivo da tecnologia na saúde pública. Dados da primeira edição do relatório MoVing The Future da MV mostram que apenas 6% dos hospitais da região Norte utilizam a internet para armazenamentos de informações, incluindo o prontuário eletrônico do paciente (PEP).
Privacidade e segurança de dados
A implementação da tecnologia na saúde pública requer medidas robustas de privacidade e segurança de dados. É necessário garantir que as informações de saúde dos indivíduos sejam protegidas contra acesso não autorizado, vazamentos ou uso indevido. As políticas de privacidade devem estar alinhadas com as regulamentações de proteção de dados. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) desempenha um papel fundamental na área da saúde, garantindo a privacidade e a proteção dos dados pessoais dos pacientes. Com a crescente digitalização e o uso de tecnologias na saúde, é essencial que as instituições estejam em conformidade com a LGPD para evitar o acesso não autorizado, o compartilhamento indevido e o uso inadequado das informações de saúde. Além disso, a LGPD incentiva a adoção de boas práticas de governança e segurança de dados, contribuindo para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde e para a prevenção de incidentes de segurança cibernética que possam comprometer a integridade dos dados e a confiança dos pacientes.
Capacitação e treinamento dos profissionais de saúde
Novas tecnologias requerem capacitação e treinamento. Isso inclui conhecimentos sobre como coletar, gerenciar e interpretar dados, além de habilidades na utilização de sistemas eletrônicos de saúde, telemedicina, entre outras. A falta de treinamento adequado pode ser um obstáculo para a adoção e o uso eficaz das soluções.
Integração com sistemas de saúde existentes
A implementação da tecnologia na saúde pública deve ser integrada aos sistemas de saúde existentes para garantir a interoperabilidade e a troca eficiente de informações. A integração com registros eletrônicos de saúde, sistemas de gestão hospitalar e outras plataformas de saúde é fundamental para facilitar o compartilhamento de dados e melhorar a coordenação do cuidado.
Aceitação e adesão dos usuários
A aceitação e adesão dos usuários, sejam eles profissionais de saúde, sejam pacientes, são fatores críticos para o sucesso da implementação da tecnologia na saúde pública. É necessário fornecer uma interface amigável, educar os usuários sobre os benefícios da tecnologia e envolvê-los no processo de implementação para garantir sua participação ativa e engajamento. Enfrentar esses desafios e considerações na implementação da tecnologia na saúde pública é fundamental para colher os benefícios da digitalização, como o acesso a informações em tempo real, melhorias na eficiência e qualidade do atendimento, tomada de decisões baseada em evidências e promoção da saúde da população de forma abrangente.