Nos últimos anos, tem-se discutido bastante sobre o aumento da eficiência nos hospitais, principalmente devido à pressão dos planos de saúde em pagar os procedimentos realizados. Os atendimentos de saúde buscam constantemente ser mais eficientes, mas encontram dificuldades em identificar ineficiências porque muitas etapas operacionais ainda não são mensuráveis, devido à ausência de indicadores. Isso ocorre porque muitos processos ainda são manuais e não geram dados para a gestão.
A pressão financeira sobre os hospitais aumentou consideravelmente, especialmente devido à queda na receita relacionada aos pagamentos dos planos de saúde. Segundo o Observatório Anahp de 2024, o índice de recusa de pagamentos aceitos pelos hospitais (também conhecidos como glosas) subiu de 1,29% para 1,73%, e o prazo médio de pagamentos aumentou 10%, criando uma forte pressão na receita.
Para enfrentar essa pressão financeira, muitos hospitais estão buscando ganhos de eficiência. Ainda de acordo com a Anahp, houve uma variação positiva de 1,70% da receita líquida por paciente-dia e uma diminuição de 10,04% das despesas totais por paciente-dia no mesmo período em 2023. Mesmo assim, os ganhos de eficiência ficaram além do necessário para atingir resultados operacionais sustentáveis.
O aumento da produtividade poderia ser ainda maior se os hospitais tivessem mais dados sobre suas operações. Contudo, muitos processos ainda são manuais e analógicos, o que impossibilita não apenas o ganho de produtividade, mas também a visualização do custo. Um exemplo rápido: uma limpeza concorrente (feita diariamente no leito) custa em média R$50. Se ela não for feita no dia da alta do paciente, pois o leito passa por uma higienização terminal, um hospital com 50 altas por dia pode economizar R$60 mil por mês. É uma economia alta para um processo simples, mas, para isso acontecer, o hospital deve ter um sistema de higienização com dados capaz de avisar os funcionários sobre o que deve ser feito. Assim como esse processo, existem diversos outros que, a partir da digitalização, podem gerar economias significativas.
Como mencionado anteriormente, muitos hospitais não conseguem otimizar suas operações devido à falta de sistemas. A causa dessa falta muitas vezes é atribuída aos custos de aquisição e modernização. Contudo, a economia gerada sempre supera o investimento necessário, e é possível verificar isso através de testes POCs (Proof of Concept, ou Prova de Conceito em português, que testam a teoria antes de colocar em prática) antes da contratação. Sendo assim, o maior empecilho para a digitalização é a falta de cultura de dados. Isso porque, quando uma operação é digitalizada, há um grande esforço na mudança, seja com treinamento na ponta ou análise constante dos dados da área. Isso muitas vezes é visto com maus olhos pelos gerentes operacionais, que acabam impondo barreiras ou boicotando iniciativas de digitalização.
Qual a solução para esse problema? Com experiência isso se torna muito simples, pois é verificada a mesma solução em todos os projetos que foram analisados: um perfil de diretoria do hospital que busca de forma constante cada vez mais eficiência e utiliza os dados de forma rigorosa, quase religiosa. Nota-se que gestores com esse perfil colocam metas para seus subordinados de criação de indicadores e melhorias, que acabam por melhorar drasticamente a operação do hospital.
Esses resultados são visíveis em grandes hospitais como a Rede Mater Dei de Saúde, que viu 6.600 horas das equipes de enfermagem serem poupadas em cinco hospitais do grupo, reduzindo mais de 49% do tempo de atendimento ao paciente ao utilizarem a tecnologia para gerenciamento das operações e atendimento na rede.
A digitalização dos processos hospitalares não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente para a sobrevivência e eficiência das instituições de saúde. Por isso é essencial buscar healthtechs comprometidas em apoiar hospitais nesse processo, fornecendo as ferramentas e o suporte necessários para uma gestão baseada em dados e orientada para resultados.
Gabriel Gebrim, Co-founder, COO e CFO da Quality24.