Desde 2014, é celebrado o Setembro Amarelo, uma iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), que tem por objetivo dar destaque às questões que podem prevenir o suicídio.
De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.
O que é de conhecimento geral é que praticamente 100% de todos os casos de suicídio são relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas de maneira equivocadas, por isso tem sido grande a movimentação de pessoas que procuram por especialistas para evitar chegar a medidas tão drásticas.
Para se ter uma ideia, a Doctoralia, maior plataforma de saúde e agendamento de consultas do mundo, realizou levantamento comparativo sobre o volume de agendamentos de consultas com psicólogos e psiquiatras e indica que houve crescimento tanto no presencial quanto para telemedicina (modelo que ganhou expressão desde 2020). As teleconsultas com psiquiatras foram mais de 88 mil (2020), 215 mil (2021) e já chegaram a 161 mil (2022). Já no modelo presencial, os números são ainda mais expressivos, sendo 273 mil (2020), 446 mil (2021) e mais de 317 mil (2022).
“Durante a pandemia houve um aumento considerável no relato de sintomas ansiosos e depressivos, além de insônia e abuso de substâncias, sobretudo o álcool. Tudo isso fez com que as pessoas, tão logo isso fosse possível, buscassem mais auxílio psiquiátrico e psicológico. Com o tempo confirmou-se que tais relatos correspondiam, de fato, a um aumento da prevalência de transtornos psiquiátricos”, afirma Fernando Fernandes, parceiro da Medictalks e médico psiquiatra do Programa Transtorno do Humor do Instituto de Psiquiatria da USP.
O suicídio é um fenômeno multifatorial e muito completo. Por isso é difícil delimitar apenas uma causa que leva a esse ato. É sempre uma confluência de motivos que muitas vezes não estão sob o controle das pessoas. Mas é possível condensar os principais fatores de risco em dois grandes grupos.
“O primeiro deles é a presença de vínculos e senso de pertencimento da pessoa. Esse é um importante fator protetor contra o suicídio. Em contrapartida, a ausência de vínculos ou vínculos precários podem ser um risco para a pessoa. Esses vínculos podem ir desde o núcleo familiar, passando pela rede de apoio mais próxima, como amigos mais próximos e com maior grau de cumplicidade do paciente, se expandindo para diversos outros vínculos sociais mais amplos, como comunidade do bairro e igreja, entre outros”, ressalta Fernandes.
Outro ponto importante a se destacar é a presença de transtornos psiquiátricos. O suicídio está associado a um transtorno psiquiátrico em mais de 90% dos casos, por isso a detecção precoce e o tratamento adequado dos transtornos psiquiátricos são um fundamento importante na prevenção de suicídio. Portanto, é importante contar com o auxílio de especialistas logo no surgimento dos sintomas, pois só assim será possível fazer o tratamento adequado desde o início, minimizando os riscos desse desfecho.