O papel do CIO na saúde passou por uma transformação significativa nos últimos anos. Antes responsável principalmente pela infraestrutura de TI, esse profissional agora é visto como agente estratégico da transformação digital nas instituições de saúde. A adoção de tecnologias como inteligência artificial, big data, automação e observabilidade unificada tem impulsionado mudanças profundas, exigindo do CIO uma visão mais ampla sobre governança, interoperabilidade e apoio à decisão clínica. “Hoje esse profissional se posiciona como um arquiteto da transformação digital”, resume Tonimar Dal Aba, gerente técnico da ManageEngine.
Em entrevista ao Saúde Digital News, Tonimar detalha como o CIO tem respondido às novas demandas da alta gestão, que busca soluções com impacto direto na experiência do paciente, na produtividade clínica e na sustentabilidade financeira. O executivo também destaca os principais desafios do setor, como a dificuldade de integrar sistemas, a necessidade de proteger dados sensíveis e o equilíbrio entre inovação e custos. Para ele, o sucesso do CIO está em saber diferenciar modismos de inovações reais e garantir que a tecnologia entregue valor prático, segurança e eficiência ao ecossistema da saúde.
1. Como o papel do CIO da saúde evoluiu nos últimos anos?
O CIO da área da saúde passou por uma reinvenção. Antes voltado quase exclusivamente à manutenção da infraestrutura de TI e ao suporte técnico, hoje esse profissional se posiciona como um arquiteto da transformação digital. Esse novo papel exige visão sistêmica para conectar dados, processos clínicos e operacionais, e apoiar modelos de cuidado centrados no paciente, com utilização de tecnologias que estão transformando o setor, como a inteligência artificial. Ferramentas modernas de ITSM (IT Service Management) e observabilidade unificada têm sido essenciais para ampliar a visibilidade e o controle sobre ambientes críticos, garantindo disponibilidade, conformidade e continuidade assistencial. Pilares fundamentais em qualquer instituição de saúde.
2. Quais são as principais demandas da alta gestão hoje?
A alta gestão busca soluções tecnológicas que transcendam o papel de suporte e assumem protagonismo na geração de valor. Isso se traduz em demandas como: melhor gestão do ciclo do paciente, interoperabilidade entre sistemas, governança de dados e apoio à medicina baseada em evidências. É esperado do CIO entregas tangíveis, como ganho de produtividade clínica, redução de custos operacionais, resiliência cibernética e indicadores acionáveis de performance. A aplicação de dashboards integrados com analytics, com visões em tempo real, é um exemplo de como a tecnologia pode apoiar essa tomada de decisão estratégica.
3. Quais tecnologias estão realmente trazendo impacto para a saúde?
Entre as tecnologias que têm gerado impactos concretos no setor de saúde, destacam-se a inteligência artificial, aplicada com sucesso em diagnósticos, predições clínicas e triagens inteligentes; o big data, que permite uma análise preditiva mais completa e facilita a medicina personalizada; a automação de processos, que reduz gargalos administrativos e operacionais; e a telemedicina, que ampliou o acesso ao cuidado, inclusive em regiões remotas. Também é crescente o uso de soluções em nuvem para garantir escalabilidade e mobilidade, além da implementação de políticas robustas de gerenciamento de identidades e acessos, fundamentais para proteger dados sensíveis. Essas tecnologias, quando aliadas a plataformas de governança de TI e compliance, entregam não apenas inovação, mas segurança e controle em ambientes de missão crítica.
4. Como o CIO pode diferenciar tendências passageiras de inovações estratégicas?
O discernimento entre inovação real e modismos exige uma abordagem crítica e baseada em dados. Cabe ao CIO avaliar o quanto a solução se integra ao ecossistema atual da instituição, a maturidade da tecnologia no mercado e sua adoção por pares do setor, além de indicadores objetivos de eficiência, segurança e qualidade assistencial. É fundamental adotar frameworks de avaliação, como a ITIL, que reúne boas práticas para a gestão eficiente de serviços de TI, e o COBIT, que orienta a governança e o alinhamento da tecnologia com os objetivos do negócio. Além disso, é importante promover provas de conceito (PoCs) em ambientes controlados antes de escalar qualquer solução.
5. A interoperabilidade entre sistemas de saúde ainda é um desafio. Como um CIO pode liderar esse processo sem comprometer eficiência e qualidade do atendimento?
Interoperabilidade não é apenas uma questão de conectividade técnica, mas de governança de dados e integração de processos. O CIO deve adotar padrões abertos (como HL7 FHIR), mapear fluxos de dados entre sistemas clínicos e administrativos, e implementar plataformas de integração (iPaaS) que garantam escalabilidade e segurança. Além disso, é indispensável estabelecer políticas claras de governança de TI e LGPD, com auditoria de acessos, controle de identidades e criptografia de ponta a ponta. Além disso, é fundamental estabelecer políticas claras de governança de TI e conformidade com a LGPD, com práticas como auditoria de acessos, controle de identidades e criptografia de ponta a ponta. Essas medidas ajudam a garantir mais segurança e rastreabilidade, especialmente em setores altamente regulados, como o da saúde.
6. Inteligência artificial, big data e automação são cada vez mais usados no setor. Como o CIO pode garantir que essas tecnologias tragam benefícios reais para médicos e pacientes?
Os benefícios dependem da orquestração entre TI, operação e clínica. O CIO deve envolver os usuários finais no desenho e na customização das soluções, garantindo que as ferramentas resolvam problemas concretos, como tempo excessivo de digitação em prontuários, falhas na comunicação entre setores ou baixa previsibilidade da jornada do paciente. Ao combinar analytics em tempo real com automações inteligentes, é possível otimizar desde agendamentos até protocolos clínicos, melhorando tanto a experiência do paciente quanto a produtividade da equipe.
7. O equilíbrio entre inovação e custo sempre foi um dilema no setor. Como um CIO pode demonstrar retorno sobre investimento e garantir sustentabilidade financeira?
A melhor forma de demonstrar ROI em inovação tecnológica é conectar os projetos a indicadores de negócio, como redução de reinternações, aumento do NPS do paciente, ou eficiência operacional medida em horas poupadas por setor. O CIO deve construir business cases robustos, com estimativas de payback e análises de Total Cost of Ownership (TCO). Ferramentas de monitoramento proativo, auditoria contínua e automação de compliance ajudam a identificar gargalos e otimizar recursos, fortalecendo a argumentação em favor de investimentos estratégicos em tecnologia.
8. Olhando para o futuro, quais habilidades um CIO da saúde precisa desenvolver para se tornar um parceiro estratégico e influente nas decisões de negócio?
O CIO do futuro deve combinar profundidade técnica com visão de negócio e liderança colaborativa. Ele precisa ser capaz de dialogar com áreas clínicas, administrativas e regulatórias, atuando como ponte entre tecnologia e estratégia institucional. Habilidades como pensamento crítico, fluência em dados, domínio de compliance e gestão de riscos serão cada vez mais valorizadas, assim como a capacidade de liderar transformações culturais e digitais em ambientes complexos. Também é essencial estar preparado para lidar com questões éticas relacionadas à privacidade de dados e ao uso de inteligência artificial na saúde. Essa nova geração de líderes de TI precisa ser adaptável, comunicativa e capaz de traduzir tecnologia em valor real para o negócio e para a sociedade.