Por que a atualização da lista de doenças ocupacionais do MS deve ser um alerta para as empresas cuidarem melhor da saúde do trabalhador

Um total de 165 doenças, dentre elas a Síndrome do Esgotamento Profissional (Burnout), distúrbios musculares, transtornos mentais (como o Transtorno Depressivo Recorrente), transtornos relacionados ao uso excessivo de álcool, café e drogas, Covid-19 e alguns tipos de câncer foram incluídas na relação de doenças relacionadas ao trabalho pelo Ministério da Saúde na semana passada, após 24 anos sem uma atualização.

Chama a atenção, também, a inclusão na lista de comportamentos que podem ser fruto do próprio ambiente de trabalho ao qual somos submetidos, como uso de cocaína e sedativos – e é justamente este o ponto no qual as empresas devem se atentar, afinal, a lista de doenças do Ministério da Saúde não se restringe à perícia do INSS, mas ao reconhecimento de que é necessário tomar medidas preventivas em relação ao adoecimento pelo trabalho.

E por que o trabalhador adoece? As doenças relacionadas ao trabalho podem ter origem na própria atividade – as chamadas doenças ocupacionais, como as ligadas aos movimentos repetitivos (LER e DORT|); as ligadas à coluna; a perda de audição; a asma ocupacional; os problemas de visão; as doenças pulmonares; as varizes; as contaminações, intoxicações e cânceres por exposição a substâncias químicas, dentre outras já relatadas.

Há, ainda, as doenças que podem estar ligadas ao ambiente corporativo, atingindo qualquer trabalhador – e essas são relacionadas ao comportamento. Ansiedade, síndrome do pânico, depressão, Burnout, transtornos comportamentais e mentais são relatados na lista de doenças pelo trabalho do Ministério da Saúde e a origem pode ter nexo com jornadas exaustivas de trabalho, ao excesso de tarefas, à pressão por resultados, ao assédio moral, à humilhação e à falta de descanso. Segundo dados do INSS, as doenças de ordem mental são a segunda causa de afastamento do trabalhado – mas, em alguns segmentos, pode ser a primeira causa.

A ampliação da lista de doenças se fez necessária e importante porque ela legitima a urgência de combater suas causas. Se as empresas adotam ferramentas e estratégias para proteger a saúde do trabalhador no ambiente físico, com campanhas que incentivam o uso de EPI´s, por exemplo, elas também devem se atentar à governança, que necessariamente deve adequar o ambiente corporativo para proporcionar melhor saúde mental e emocional ao trabalhador. E a prevenção, nessas duas situações, continua sendo a melhor ferramenta para se evitar o acidente de trabalho e as doenças relacionadas ao trabalho.

As empresas que investem em ações de prevenção às doenças ocupacionais economizam ao diminuir os índices de afastamentos; reduzir os gastos previdenciários; evitar a interferência nos valores cobrados pelos planos de saúde devido à sinistralidade; deixar de lado a substituição do trabalhador e o custo de treinamento de um novo colaborador para cobrir essa ausência; livrar-se de futuras ações trabalhistas; reter talentos pelo ambiente de trabalho saudável e evitar a queda de produtividade e faturamento pela alta rotatividade de profissionais.

Como cada segmento tem maiores probabilidades de apresentar determinadas doenças ocupacionais, é fundamental que as empresas entendam quais delas estão presentes com mais frequência no ramo em que atuam e se protejam delas, de forma a melhorar o ambiente e criar hábitos saudáveis e positivos em seus trabalhadores.

A ampliação do rol de doenças ocupacionais pelo Ministério da Saúde certamente ajudará na criação de políticas públicas que promovam maior saúde ao trabalhador. Mas, mais do que isso, pode alertar as empresas de que é preciso investir em Segurança do Trabalho para que seus colaboradores tenham um ambiente propício ao bom desenvolvimento profissional.

Diego Gloria, especialista em Segurança do Trabalho, sócio da PLBrasil Health&Safety.

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