O Índice de Desempenho da Saúde Suplementar (IDSS), divulgado anualmente pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), tem um papel essencial no setor de planos de saúde. Criado para reduzir a assimetria de informações e permitir a comparação entre as operadoras, o IDSS sempre teve como propósito estimular o aprimoramento do setor e garantir a entrega do melhor serviço possível aos beneficiários.
Embora a avaliação não traga penalizações diretas, sua divulgação pública tem implicações estratégicas relevantes para as operadoras de saúde. Aquelas que pontuam bem utilizam o desempenho como um diferencial competitivo, enquanto aquelas com notas baixas enfrentam desafios tanto na captação de clientes quanto na manutenção de contratos.
Essa realidade é particularmente visível no setor corporativo: grandes companhias frequentemente consideram a nota do IDSS como critério de elegibilidade para a contratação de planos de saúde. O impacto também se reflete em processos de licitação, já que muitos órgãos públicos exigem uma pontuação mínima para que operadoras possam concorrer em seus certames.
Internamente, é comum que patrocinadores estabeleçam objetivos específicos de IDSS, e operadoras da modalidade autogestão costumam atrelar a performance da operadora a bonificações e metas estratégicas. Em muitos casos, a participação nos resultados (PPR) dos funcionários está vinculada ao desempenho da operadora na avaliação da ANS.
Esses fatores demonstram claramente como a nota da Agência Nacional de Saúde se tornou um indicador estratégico de qualidade, servindo tanto como uma métrica de desempenho interno quanto como um critério de mercado para novos negócios.
Por outro lado, apesar de sua relevância no meio corporativo, o índice ainda é pouco conhecido entre os beneficiários. A própria ANS vem se esforçando para ampliar a transparência do IDSS, por exemplo, a agência adotou uma Resolução Normativa que obriga as operadoras a publicarem a nota em seus sites e manterem os registros dos últimos cinco anos disponíveis para consulta – mas, na prática, o que se observa é que essa informação ainda não chega ao grande público de forma efetiva.
Não é novidade que o setor de saúde suplementar no Brasil enfrenta desafios constantes em sua imagem pública. Reclamações sobre negativa de atendimento, reajustes e dificuldades no acesso a procedimentos são frequentes, e alimentam uma percepção negativa por parte dos consumidores. Diante desse contexto, o IDSS pode ser um aliado cada vez mais relevante, funcionando como um critério adicional na escolha de um plano de saúde.
Se mais pessoas considerarem a nota na hora da decisão, operadoras com melhor desempenho tendem a ser mais valorizadas, pressionando aquelas com baixa pontuação a se aprimorar. Além disso, ao dispor de avaliações claras sobre o serviço que pretendem contratar, os beneficiários têm melhores condições de fazer escolhas mais informadas e baseadas em critérios técnicos de desempenho – o que diminui as chances de frustrações e reclamações futuras.
Ao longo do tempo, temos visto que, ao buscar atender melhor aos indicadores do IDSS, as operadoras acabam aperfeiçoando sua gestão e oferecendo serviços de maior qualidade. Para se sair bem na avaliação, muitas empresas investem em prevenção, melhoram o acompanhamento de grupos vulneráveis (como idosos, mulheres e crianças) e implementam programas de medicina preventiva. Além disso, a multidisciplinaridade do índice exige a integração de diferentes setores da operadora, tais como contas médicas, regulação, qualidade, tecnologia da informação, apenas para citar algumas.
Dessa forma, a adaptação aos critérios do IDSS não deve ser encarada apenas como uma obrigação regulatória, mas como um caminho para a excelência na gestão da saúde. Operadoras que seguem essa lógica tendem a obter melhores resultados, não só na nota final, mas também na satisfação de seus beneficiários e na eficiência de seus processos internos.
Flávio Exterkoetter, fundador e CEO da Blendus.