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A gestão hospitalar enfrenta um cenário cada vez mais desafiador. Com margens apertadas, aumento da demanda por serviços e exigências regulatórias crescentes, gestores precisam buscar soluções que garantam agilidade, controle e sustentabilidade financeira.
O problema é maior do que parece. No Brasil, até 25% das contas hospitalares são impactadas por glosas, resultando em prejuízos superiores a R$ 5 bilhões por ano somente no segmento de saúde suplementar (dados ANAHP, 2024). Além disso, hospitais de grande porte chegam a processar milhares de documentos mensalmente, e estudos apontam que até 70% das contas apresentam algum tipo de inconsistência documental, elevando o risco de recusas, retrabalhos e atrasos no fluxo financeiro.
E vamos além. Estudos apontam que o ciclo financeiro hospitalar no Brasil é um dos grandes desafios para a sustentabilidade das instituições. O Observatório ANAHP 2023/2024 indica que o ciclo de recebimento pode ser superior a 90 dias em muitas instituições, especialmente em casos com alta incidência de glosas. A FenaSaúde, em notas técnicas recentes, destaca que as glosas podem alongar o ciclo em até 30 dias adicionais, agravando ainda mais a previsibilidade financeira. Complementando essa visão, a Bain & Company ressalta que as margens operacionais médias dos hospitais privados no Brasil ficam entre 4% e 6%, tornando cada dia de atraso no recebimento um risco significativo para o caixa e a operação.
Com isso, o ciclo — que costuma variar entre 45 e 90 dias, podendo ultrapassar 120 dias em casos de glosas — precisa ser gerido com precisão para manter a sustentabilidade financeira e operacional das instituições.
É nesse contexto que a Inteligência Artificial (IA) vem ganhando espaço, não somente na assistência clínica, mas especialmente nas áreas administrativas e financeiras. Nos bastidores dos hospitais, tarefas como faturamento, controle de escalas, agendamento e auditoria de contas ocupam um volume significativo de tempo e recursos humanos. A automação dessas rotinas, por meio da IA, vem permitindo uma mudança importante: menos esforço em tarefas repetitivas e mais foco em planejamento, análise de indicadores e tomada de decisão estratégica.
Instituições que apostam nessas tecnologias já percebem resultados claros. No faturamento hospitalar, por exemplo, soluções baseadas em IA conseguem antecipar falhas na documentação e alertar sobre possíveis glosas antes mesmo do envio às operadoras
Em paralelo, ferramentas inteligentes também ajudam a identificar padrões de uso de leitos e insumos, otimizando a ocupação hospitalar e a gestão de estoques. Outro ganho relevante está na organização de escalas e equipes. Plataformas com algoritmos de aprendizado conseguem montar escalas considerando variáveis como carga horária, perfil assistencial, demanda prevista e até histórico de absenteísmo. O resultado? Redução de horas extras, melhor distribuição das equipes e mais satisfação interna.
O avanço da IA também se reflete na análise de grandes volumes de dados administrativos. Dashboards inteligentes alimentados em tempo real dão aos gestores uma visão clara do desempenho da instituição, permitindo ajustes rápidos, previsões mais precisas e decisões baseadas em evidências.
Embora o investimento inicial possa gerar dúvidas, os retornos obtidos, tanto financeiros quanto operacionais, mostram que a IA é mais que uma tendência, é uma ferramenta concreta de transformação. Afinal, a maturidade digital do hospital passa, inevitavelmente, por sua capacidade de integrar soluções inteligentes ao seu dia a dia.
Ou seja, o momento agora não é mais de pensar se a IA deve ou não fazer parte do dia a dia das instituições como força catalisadora da eficiência operacional Essa fase já passamos. Para os líderes da saúde, o desafio agora não é apenas conhecer o potencial da Inteligência Artificial, mas identificar onde ela pode agregar valor na estrutura existente, com responsabilidade, foco estratégico e comprometimento com a melhoria contínua.
Bruno Lee, diretor estratégico de produtos na Osigu Brasil.