Equipamentos que “respiram pelo paciente”, ou que possibilitam a realização da Oxigenação por membrana extracorpórea, ECMO, pelos termos médicos, estão sendo utilizados para os pacientes com Covid-19 extremamente graves, nos quais a função pulmonar temporariamente não oferece condições adequadas de trocas gasosas e a ventilação mecânica por respiradores não tem efetividade.
Internado há semanas por complicações de Covid-19, Maguito Vilela (MBD), eleito prefeito de Goiânia neste domingo, 29, com 52% dos votos, é um dos pacientes entubados em uso da tecnologia ECMO. Em caso grave e de idade avançada, ele está no Hospital Albert Einstein de São Paulo desde 27 de outubro, quando foi diagnosticado com até 75% de acometimento dos pulmões e baixa saturação de oxigênio no sangue. Ao portal G1, o médico pneumologista Marcelo Rabahi, que acompanha a evolução do prefeito eleito, afirmou que hoje testarão se o paciente já consegue respirar sem a ECMO. Segundo o Dr. Celso Freitas, infectologista e diretor médico da LivaNova, empresa global de tecnologia médica, líder mundial em soluções cardiovasculares, o equipamento faz um bom papel como pulmão artificial adicional e possibilita mais tempo e condições de recuperação ao paciente.
Enquanto os respiradores mecânicos ajudam pacientes a “respirar” quando seus pulmões funcionam parcialmente, facilitando a entrada de oxigênio até os pulmões e a retirada do gás carbônico na expiração, os equipamentos para ECMO são utilizados em pacientes nos quais o pulmão simplesmente perdeu temporariamente sua capacidade de realizar estas funções. Praticamente, é como se a máquina “respirasse” por eles. Ela drena o sangue de uma veia, remove o dióxido de carbono, acrescenta oxigênio, aquece o sangue e depois retorna o sangue para uma artéria. Ao permitir que o sangue seja oxigenado externamente, a máquina permite que o pulmão se recupere e o paciente tenha possibilidade de melhora.
“O ventilador mecânico (respirador) não substitui a função do pulmão do paciente, ele só fornece um fluxo de ar para o interior dos pulmões. Já este equipamento funciona como um pulmão adicional, para pacientes com COVID-19 cuja função pulmonar foi muito reduzida, e possibilita que o paciente tenha tempo e condição clínica para se recuperar”, explica Celso Freitas. O equipamento da LivaNova, chamado S5CP5, foi desenhado para uso em ECMO e atender as necessidades especiais de determinados pacientes com COVID-19 no mundo e no Brasil.
O Hospital Israelita Albert Einstein – onde está internado Maguito Vilela – adquiriu no início da pandemia três destes equipamentos. “São equipamentos de alta tecnologia e de grande complexidade, que fazem a respiração e circulação do sangue automaticamente fora do paciente quando seu pulmão se torna incapacitado. Estes não estão presentes em todas as UTIs — nem do mundo, nem do nosso país. Já tínhamos algo semelhante, mas agora estamos ainda mais preparados para poder oferecer aos pacientes mais graves pela Covid-19 ou por outra doença que deteriore o pulmão uma chance maior de recuperação, explica Sidney Klajner, presidente da instituição.
Segundo Luiz Fernando Caneo, médico do INCOR e ex-presidente da ELSO (Extracorporeal Life Support Organization) Latino Americana, responsável por interligar centros que oferecem o ECMO (Oxigenação Extracorpórea com membrana) na América Latina, este equipamento vem de encontro às necessidades do mercado. “Ele realiza as operações vitais de respiração fora do paciente quando o pulmão falha. O maior problema hoje é a demanda aumentada por esses dispositivos e o treinamento das equipes multiprofissionais para usarem essa tecnologia. Isso não é uma coisa que pode ser feita da noite para o dia, tão pouco por centros que não se prepararam para oferecer esse tratamento antes da pandemia”.
O tratamento intensivo em recursos e mão-de-obra exige que um cirurgião insira os dispositivos envolvidos no paciente, uma equipe clínica altamente treinada para operar a máquina e equipe de suporte que deve monitorar o paciente o tempo todo. Segundo Dr. Caneo, publicações médicas recentes apontam que aqueles hospitais ao redor do mundo que estavam preparados para utilizar essa tecnologia estão mostrando resultados surpreendentes em pacientes extremamente graves onde o tratamento convencional com ventilação mecânica atingiu o seu limite. No Brasil existem cerca de 23 centros reconhecidos e reportando seus resultados a ELSO, e alguns hospitais de excelência preparados para essa terapia, mas nem todos possuem equipamento próprio. Para Dr. Luiz Fernando, esta pandemia tornou evidente a importância da ECMO no tratamento de pacientes graves com insuficiência respiratória. “A ECMO ocupa hoje um importante papel no aumento da sobrevida dos pacientes no tratamento da insuficiência respiratória grave refratária comparada à ventilação mecânica convencional. Cabe aos centros hospitalares de excelência se prepararem para essa demanda tanto na aquisição de equipamentos, quanto ao treinamento de equipes especializadas, para que possam oferecer uma medicina diferenciada aos seus usuários”, conclui.