De acordo com dados Observatório Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados), empresas e famílias gastaram no ano passado cerca de R$ 253,05 bilhões para custear planos de assistência médico-hospitalares e R$ 267,95 bilhões com atendimentos particulares. Esse cenário demonstra a importância de investir em saúde preventiva e, cada vez mais, na gestão de saúde.
Durante o VII Fórum Asap Aliança, evento que reuniu grandes nomes do setor da saúde nacional e internacional para discutir temas relacionados ao bem-estar da população, o gerente de saúde da Amazon, Jacson Barros, ao falar sobre as tendências e o futuro da gestão de saúde populacional destacou que é preciso ter o cuidado de olhar o indivíduo e ver toda sua jornada e existem três pontos principais a serem colocados como tendências no setor: interoperabilidade de dados, cloud computing e inteligência artificial.
“A interoperabilidade é a capacidade de diferentes sistemas de informação, dispositivos e aplicados se conectarem, de maneira coordenada, de modo a garantir que pessoas, organizações e sistemas computacionais interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente”, explicou Barros, ao lembrar que a tecnologia pode ser usada em prol da equidade de acesso na saúde brasileira. “Garantir um atendimento completo é um desafio de todos, não só da saúde. É momento de abraçar as novas tendências para cuidar da saúde da população”, finalizou.
Já o presidente da Asap (Aliança para Saúde Populacional), Cláudio Tafla, destacou durante painel que o principal desafio dos sistemas de saúde atualmente é acolher a população idosa. “E a resposta dessa pergunta está na garantia de três pilares: equidade, igualdade e acessibilidade”, garantiu. O diretor da Asap Fábio, por sua vez, ressaltou durante a discussão sobre as necessidades de mudanças no sistema de saúde, sejam financeiras ou na conduta do paciente oncológico, que se deveria ter o controle nutricional desde o início do tratamento.
No bloco sobre “estratégias de engajamento e recompensa em programas de saúde”, a gerente de atendimento integral a saúde da Petrobrás, Elisabeth de Melo, destacou que o principal desafio é captar os trabalhadores, principalmente os que enfrentam sedentarismo e obesidade, para pensarem em saúde. Por isso, a empresa iniciou programas de “gincanas contra o sedentarismo” em que, por exemplo, as pessoas tinham que se juntar e caminhar em pedômetros espalhados pela empresa. “O programa foi um sucesso e contou com grande adesão dos trabalhadores. Era comum ver as pessoas andando por toda a empresa para bater a meta”, contou Elisabeth. Já Eduardo Marques, da gestão de saúde corporativa do Grupo Fleury, chamou a atenção para a importância da comunicação e de se criar estratégias e até trocar equipes para atingir esse objetivo. “Construímos uma marca, falamos sobre os cuidados com a saúde, seja ocupacional, seja físico”. Desde então, o grupo liderado pelo especialista passou a usar pessoas-chave, como médicos, para falar com o trabalhador. “Fizemos isso, para que nosso colaborador entenda que sua saúde e seu bem-estar são metas do nosso programa”, apontou.
A palestrante Sley Guimarães, fundadora do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida, afirmou que um estilo de vida saudável poderia reduzir 93% dos casos de diabetes e 81% dos casos de infarto, além de evitar doenças psicológicas e deu três sugestões para as empresas investirem em saúde: treinamento de lideranças com ações voltadas para todos; educação em saúde; e sensibilização para a mudança com ativação de comportamentos saudáveis.
No painel sobre os “Rumos da saúde brasileira”, o destaque foi para números atualizados do Ministério da Saúde que confirmam um aumento no número de brasileiros com câncer, provocado, inclusive, pela longevidade da população, a importância do tratamento precoce e como a telessaúde pode ajudar a oferecer um tratamento mais humanizado para o paciente. Segundo o coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, Fernando Maia, entre 2023 e 2025 a expectativa é de que sejam registrados 704 mil novos casos de câncer por ano.
Atualmente, a doença é a segunda causa de morte no país, entre adultos de 30 a 69 anos de idade, mas, em 2030, pode se tornar a primeira. Para mudar esse cenário, “é preciso reduzir os fatores de risco, realizar o diagnóstico precoce, incorporar novas tecnologias, avaliar os desfechos desses tratamentos e definir novos modelos de atenção ao câncer”, sugeriu Maia.
O professor de medicina da USP, médico Chao Lung Wen, destacou que o envelhecimento da população não só aumenta as chances de doenças crônicas como também do câncer, por isso a importância da prevenção. “Criar uma rede de cuidados integrados é essencial para isso”. O especialista também lembrou que investir em tecnologia é necessário para atingir bons resultados nesse sentido, como a telessaúde e ferramentas de inteligência artificial. “O diagnóstico de câncer mexe como o emocional, assim é preciso oferecer um tratamento integrado. A telessaúde é o melhor recurso para isso, inclusive, oferecendo uma atenção de forma humanizada”, comentou. Para ele, a “tecnologia não desumaniza, quem desumaniza são pessoas pouco humanas”.