Nos últimos anos, os serviços de telessaúde cresceram expressivamente e vêm se consolidando, cada vez mais, com o passar do tempo. Segundo o relatório HealthTech Report 2023, da plataforma Distrito, a telemedicina projeta movimentar, globalmente, US$ 857,2 bilhões até 2030, representando um crescimento anual de 18,8%. Esse avanço rápido, inicialmente impulsionado por uma conjuntura emergencial gerada pela COVID-19, marcou uma transformação significativa na maneira como o acesso a serviços médicos é concebido e operacionalizado ao redor do mundo.
No entanto, à medida que a utilização desse modelo de atendimento se consolida, a qualidade e a maturidade dos serviços ofertados ainda se mostram limitadas, apesar do avanço em quantidade. Nesse sentido, a incorporação da Medicina Baseada em Evidências (MBE) como fator primordial da telessaúde pode conferir maior efetividade e confiabilidade aos serviços prestados ao paciente.
O crescimento e o amadurecimento da telessaúde no Brasil
No Brasil, entre 2023 e 2024, a Rede Brasileira de Telessaúde realizou aproximadamente, 4,6 milhões de teleatendimentos, incluindo teleconsultas, telediagnósticos, emissão de laudos à distância e teleconsultorias entre profissionais, segundo dados do Governo Federal. Neste sentido, a ampliação desses serviços ajudou a democratizar o acesso remoto à saúde, especialmente em regiões com oferta limitada de profissionais ou infraestrutura de saúde. Além disso, o teleatendimento agregou conveniência, redução de custos e maior agilidade aos processos burocráticos e assistenciais.
Essa integração entre tecnologia e cuidado médico, contribuiu para impulsionar o segmento de saúde digital, especialmente quando apoiada por soluções de suporte à decisão clínica (SDC). No entanto, a rápida ascensão da telessaúde, motivada pela urgência em ampliar o acesso a serviços médicos, ocorreu muitas vezes sem o amadurecimento necessário em termos de qualificação profissional, diretrizes clínicas e padronização dos fluxos assistenciais.
Como resultado, surgiram inconsistências nos atendimentos, diagnósticos imprecisos e limitações no uso de evidências clínicas, além de barreiras no acesso à tecnologia por parte de pacientes e profissionais. Essas fragilidades revelaram a necessidade de estruturar a modalidade com mais solidez, garantindo que ela seja uma alternativa efetiva, e não apenas emergencial.
Diante dessas lacunas, grande parte das instituições do setor de saúde passaram a investir em soluções que pudessem aprimorar e qualificar os serviços prestados aos pacientes. Segundo pesquisa realizada pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) em parceria com a Wolters Kluwer Health, nos últimos três anos, 70% das instituições participantes investiram mais de R$100 mil em soluções de suporte à decisão clínica. Além disso, 100% dos respondentes afirmaram que essas ferramentas contribuem para ganhos operacionais e para a redução de custos assistenciais.
Esse dado reflete uma percepção crescente de que a tecnologia por si só não garante qualidade clínica. É necessário que ela esteja apoiada em informações clínicas robustas e atualizadas, em sinergia com a MBE.
A importância da MBE para a evolução da telessaúde
O futuro da saúde digital, sobretudo ao que tange a telessaúde, depende significativamente da MBE para que os profissionais tomem decisões alinhadas às melhores evidências científicas disponíveis, associando esse conhecimento à experiência clínica e aos valores individuais do paciente. A integração da MBE, nesse caso, pode auxiliar na correção de falhas comuns, como a ausência de padronização do cuidado, a variabilidade clínica e os erros médicos.
Na prática, a MBE pode ser aplicada à telessaúde por meio de protocolos clínicos integrados a soluções de suporte à decisão, utilização de guidelines validados e fluxos de triagem estruturados por informações baseadas em evidências. A consolidação desses elementos contribui para garantir não apenas a efetividade, mas também a qualidade e a equidade do cuidado prestado ao paciente.
A modalidade, inicialmente impulsionada para suprir uma demanda emergencial, se estabeleceu como um pilar da saúde digital, com potência de permanência e expansão. Para que esse potencial seja cumprido, é necessário avançar do uso pragmático para o uso qualificado da telessaúde. Isso passa por fortalecer os sistemas, qualificar os profissionais e integrar os cuidados a diretrizes clínicas consistentes.
Paulo Guedes, Gerente Regional de Vendas da Wolters Kluwer Health no Brasil.