Em um mundo onde é possível abrir uma conta bancária em minutos pelo celular, pagar com um simples toque e aprender a distância com professores de qualquer lugar do planeta, um setor em especial clama por urgência na digitalização: a saúde.
A chamada “transformação digital” não é mais um luxo ou promessa futura. Para hospitais, clínicas e gestores da área, ela se tornou uma questão de sobrevivência e de salvar vidas com mais precisão, agilidade e humanidade.
Pressões e oportunidades: O que está em jogo?
O cenário global é desafiador, com o envelhecimento da população, aumento da demanda por atendimentos e orçamentos cada vez mais apertados. No Brasil, o gasto com saúde gira em torno de 9,4% do PIB, número expressivo, mas ainda abaixo de países como Estados Unidos (16,6%) e Alemanha (12,7%). A lição é clara, não basta gastar mais, é preciso gastar melhor.
E é nesse ponto que a transformação digital entra como força estratégica. Não se trata apenas de informatizar processos ou trocar papel por telas. É uma mudança estrutural de cultura, gestão e assistência.
O que realmente significa transformar digitalmente a saúde?
Transformar digitalmente não é sobre instalar sistemas. É sobre repensar o cuidado ao paciente desde a base. Na prática, isso se traduz em uso inteligente de dados clínicos e administrativos, automação de tarefas repetitivas, aplicação de IA no apoio à decisão médica, expansão da telemedicina, interoperabilidade entre sistemas e instituições, e plataformas digitais centradas na experiência do paciente.
O objetivo? Um sistema mais ágil, preciso, integrado e sustentável, com o paciente no centro de tudo.
Onde estamos: O retrato da maturidade digital no Brasil
Apesar dos avanços, a maturidade digital dos hospitais brasileiros ainda é mediana. Segundo o relatório “Mapa da Transformação Digital dos Hospitais Brasileiros 2024”, elaborado pela consultoria FOLKS, com base em 189 hospitais em todo o país, a média nacional é de 46,2%. Embora 62% das instituições já contem com o digital em sua estratégia, apenas 18% possuem uma governança estruturada. O prontuário eletrônico chegou a 81% dos hospitais e a prescrição digital a 83%, mas somente 9% das unidades são realmente paperless. Em outras palavras, o caminho começou a ser trilhado, mas ainda há muito a construir.
Digitalizar é ganhar tempo e salvar vidas
Os impactos práticos da digitalização são incontestáveis. Durante a pandemia, plataformas de telemedicina escalaram rapidamente e milhões de brasileiros passaram a receber atendimento remoto em questão de minutos. Casos concretos provam o potencial:
– Inteligência artificial em diagnósticos de pneumonia com 92% de acurácia e 85% de redução no tempo de emissão de laudos;
– Admissão digital de pacientes, reduzindo o tempo médio de entrada de 15 para apenas 1 minuto;
– Automação administrativa, que libera equipes para tarefas assistenciais e não burocráticas.
Além disso, a digitalização aumenta a segurança da informação, reduz deslocamentos desnecessários e fortalece a sustentabilidade institucional.
Os cinco pilares da transformação digital na saúde
1 – Cultura e mindset digital: Tecnologia não é inimiga. Profissionais devem ser capacitados para ver nela uma aliada do cuidado.
2 – Experiência do paciente: Jornada mais fluida, humana e personalizada. É possível, mesmo com tecnologia.
3 – Processos inteligentes e interoperáveis: Fluxos integrados eliminam redundâncias e aceleram decisões clínicas.
4 – Decisão baseada em dados: Dashboards e analytics transformam informação em ação segura e eficiente.
5 – Autonomia e hiperpersonalização: O histórico do paciente o acompanha onde ele estiver, dentro e fora do hospital.
Os obstáculos que ainda persistem
Mas nem tudo são avanços. O setor ainda enfrenta desafios consideráveis, como processos manuais e fragmentados, sistemas legados e desatualizados, falta de conectividade, longas filas de espera, resistência cultural à mudança, ciberataques crescentes e exclusão digital de pacientes e profissionais.
As soluções que estão transformando o jogo
Entre as tecnologias que já estão mudando a realidade da saúde, destacam-se o prontuário eletrônico (PEP), BI e analytics para gestão estratégica, automação de processos (RPA), internet das coisas médicas (IoT), telemedicina e telessaúde, interoperabilidade, IA para triagem e diagnóstico, cibersegurança e governança de dados.
O resultado? Mais acesso, menos desperdício, maior eficiência e melhores desfechos clínicos.
Casos de sucesso: lições que vêm do outro lado do mundo
Na China, o “Sun Yat-sen Cancer Center”, com mais de 45 mil cirurgias por ano, já realiza telecirurgias a distâncias superiores a 12 mil km. No “Hospital Ruijin”, robôs entregam medicamentos e tecnologias de ponta, e oferecem radioterapia por prótons com precisão milimétrica, poupando tecidos saudáveis. Esses hospitais digitalmente maduros mostram que inovação salva tempo, reduz custos e melhora a vida, literalmente.
Saúde digital também é saúde sustentável
Digitalizar também é cuidar do planeta. Com menos papel, menos deslocamentos e mais automação, os hospitais passam a ser também aliados da sustentabilidade. E mais, a transformação digital viabiliza a tão discutida migração do modelo “fee for service” para o “value-based healthcare”, onde o foco deixa de ser o volume de procedimentos e passa a ser o resultado clínico do paciente.
O futuro chegou: Hospital 5.0
O hospital do futuro já está sendo desenhado. Chamado de Hospital 5.0, ele será centrado no paciente, altamente conectado, inteligente, sustentável e eficiente. Com recursos, como IA para diagnósticos precoces, realidade aumentada em cirurgias, chatbots clínicos, interoperabilidade, e infraestrutura robusta e segura.
A transformação digital na saúde não é uma escolha opcional. É uma urgência ética, econômica e operacional. Alinhar tecnologia, cultura e gestão é mais do que modernizar hospitais, é revolucionar o cuidado com as pessoas.
Investir em capacitação, infraestrutura e tecnologias integradas é o caminho para um sistema de saúde mais justo, eficiente e humano. Porque, no fim das contas, cada segundo economizado por uma solução inovadora é um segundo a mais para cuidar de quem mais importa: o paciente.
Andréa Rangel, Head de Negócios em Saúde da Hexa IT