Quando juntavam as mãos, os Super Gêmeos ativavam superpoderes, que permitiam a ambos mudar de forma de acordo com as circunstâncias, para que pudessem salvar o dia. Décadas depois do sucesso dos personagens fictícios de Hanna-Barbera, outros gêmeos entraram em cena, mas dessa vez pela junção de tecnologias inovadoras, trazendo superpoderes para ajudar a salvar vidas no mundo real.
A integração de tecnologias de ponta estabeleceu um novo nível de interação entre os mundos virtual e físico, evoluindo o conceito de metaverso, que embora pareça precoce para investimentos de longo prazo em certos domínios, promete agregar modelos de negócios inovadores a atividades específicas. Uma forma de especialização desse ambiente é a representação virtual dinâmica do cliente, que simula e aprende a emular e antecipar comportamentos, chamada de Gêmeo Digital do Cliente (DToC, na sigla em inglês).
A tecnologia é assim chamada por permitir a simulação digital de uma ampla gama de situações a partir de qualquer fonte de dados. Ao simular com precisão as experiências, fornecendo contexto e previsões de seus comportamentos futuros, o DToC pode ser usado para modificar e melhorar a jornada de consumo, apoiando novos esforços de digitalização, produtos e serviços.
A tecnologia DToC, apesar de soar futurista, se encontra no período de gatilho de inovação na curva do hype cycle do Gartner referente a 2022, e a expectativa é que leve entre 5 e 10 anos até sua adoção generalizada. Já se sabe, contudo, que será transformadora para as organizações. Até 2026, segundo a consultoria, 25% das pessoas passarão pelo menos uma hora por dia em um metaverso para trabalhar, realizar compras, em atividades relacionadas à educação, redes sociais e/ou entretenimento. Com essa perspectiva, não é surpresa que 70% dos executivos de tecnologia de alto nível em grandes empresas estejam explorando e investindo em gêmeos digitais, como indica pesquisa da McKinsey.
Gêmeos digitais na atenção à saúde
Os gêmeos digitais também estão transformando a experiência de pacientes e profissionais da saúde, e estão entre os quatro pilares da transformação do setor para pacientes e médicos, observa artigo da Cognizant, juntamente com o home care, grupos de suporte à saúde mental, e modelos imersivos de treinamento e educação. Nessa área, o tamanho do mercado global de gêmeos digitais foi avaliado em US$ 462,6 milhões em 2021, e deverá crescer a uma taxa composta anual de 25,6% até 2030, de acordo com levantamento da Grand View Research.
Os gêmeos digitais de saúde (HDT, na sigla em inglês) são uma tecnologia emergente que vem se expandindo rapidamente para compreender melhor os pacientes e seus comportamentos, fornecendo às empresas do setor relatórios em tempo real para decisões baseadas em dados. A tecnologia HDT surge a partir da poderosa interseção da análise alimentada por Inteligência Artificial (IA) e da coleta de dados em tempo real, como descrito em artigo divulgado pela Nature, aproximando os cuidados de saúde da medicina verdadeiramente personalizada.
O modelo HDT, segundo relatório publicado pela Universidade de Cornell, pode ser usado para prever a progressão de doenças e avaliar o impacto potencial de um tratamento específico, além de preparar o paciente para a cirurgia, testar o tamanho de um implante e até sugerir o procedimento ideal para sua colocação de acordo com as ferramentas e tamanhos disponíveis.
Tecnologia em prol da empatia
Aos profissionais da área médica, os HDTs vêm habilitando a abordagem de temas complexos de uma forma prática, como treinar conversas difíceis ou tensas com diferentes perfis de pacientes. Enquanto para muitos a ideia de exercitar a empatia por meio de uma simulação digital pode parecer contraintuitiva, os dados sugerem outra conclusão. Recentemente o ChatGPT obteve uma pontuação 41% maior do que médicos humanos em um estudo divulgado pela JAMA Internal Medicine, que avaliou a empatia nas respostas a perguntas médicas. Uma interação de melhor qualidade abre caminho para resultados mais promissores para os pacientes.
O advento dos HDTs, como mostra estudo feito pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), também permite melhores tomadas de decisões, processos e resultados dos sistemas para atingir os principais objetivos das organizações no aprimoramento da qualidade dos cuidados de saúde, facilitando um melhor acesso dos pacientes aos serviços e, consequentemente, elevando sua vantagem competitiva. O levantamento indica ainda que a utilização de gêmeos digitais para a engenharia de sistemas de saúde pode permitir respostas rápidas para reagir a situações muito dinâmicas que podem ser causadas por desastres naturais ou pandemias como a de COVID-19.
Um dos exemplos mais emblemáticos do uso dos gêmeos digitais foi durante a pandemia. O conglomerado japonês Hitachi utilizou o recurso para criar o CanTwin, um gêmeo digital da cantina da companhia, auxiliando o monitoramento de distanciamento social, inspeção de filas, contagem e rastreamento de pessoas, supervisão de ocupação de mesas de 1.100 trabalhadores.
Diante destas capacidades, os gêmeos digitais representam evoluções importantes na atenção à saúde, apontando para caminhos mais seguros e previsíveis em termos de suporte, avaliação e diagnósticos. Sua integração com outras tecnologias emergentes deve habilitar soluções avançadas para proporcionar uma experiência cada vez mais centrada no paciente (customer centric) e facilitar a jornada dos profissionais de saúde, os verdadeiros super-heróis nesta saga.
César Griebeler, vice-presidente de Tecnologia do Grupo Pulsati.