A healthtech de saúde vascular Archo Medical acaba de concluir uma rodada de investimento no valor de R$ 5,7 milhões. O aporte irá auxiliar na conclusão do desenvolvimento de um dispositivo para tratamento do aneurisma da aorta, condição que atinge a principal artéria do corpo e pode ser fatal. Com testes pré-clínicos em andamento e protótipos funcionais também em fase de testes em laboratório, a expectativa da startup é realizar o primeiro implante humano de sua solução para a região das artérias ilíacas a partir do terceiro trimestre de 2025, bem como lançar a tecnologia no mercado até o final do ano.
Com esse primeiro produto em fase final e outro, que trata do segmento do arco aórtico, já em desenvolvimento, a Archo Medical visa tornar-se uma plataforma de conectores endovasculares universais, atendendo de forma mais ampla os diferentes tipos de casos e complexidades nas doenças da aorta. Para isso, criou o conceito de endopróteses conectoras multi-lúmens (EndoHub), que permite cuidar de aneurismas complexos em regiões de difícil acesso do corpo humano.
Para o CEO da Archo Medical, Henrique Luckmann, executivo com mais de 30 anos de experiência na indústria de dispositivos médicos no Brasil, América Latina e EUA, o investimento captado atesta o nível de maturidade e o momento promissor em que o negócio se encontra.
“Essa captação demonstra o quanto estamos evoluindo. O que estamos fazendo é disruptivo em todos os aspectos, não só em produtos, mas também em processos, inclusive no que se refere à fase regulatória com a Anvisa, que está bem avançada. Temos orgulho em constatar como esse produto foi desenhado e como está sendo construído para representar uma virada de chave em relação ao que se tem no mercado hoje”, afirma Luckmann.
Modernização em uma área tradicional
Ainda segundo o CEO, os procedimentos endovasculares realizados atualmente foram criados há mais de duas décadas. Por isso, o dispositivo da Archo Medical busca eliminar complicações frequentes nas técnicas com stents paralelos, como goteiras e vazamentos, além de possibilitar a conexão com vasos alvos em diferentes situações anatômicas.
“Isso é possível graças a um design proprietário único, construído a partir de uma estrutura acoplada à um stent autoexpansível que garante a sua fixação e eficiência, dentre outros benefícios. Nossos produtos são projetados para serem compatíveis e otimizar as principais endopróteses já existentes no mercado”, explica Henrique Luckmann.
Após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso comercial, a healthtech prevê o início das vendas no Brasil, com a expansão da regulamentação para comercializar em toda a América Latina. Em paralelo, a empresa deseja iniciar os testes clínicos do seu segundo dispositivo em desenvolvimento, no segundo semestre de 2025, a fim de ter mais uma solução com a etapa de testes em humanos concluída.
Do início à expansão internacional
A Archo Medical foi fundada em 2018, em Santa Catarina, pelo médico cirurgião vascular Pierre Galvagni Silveira e pelo engenheiro mecânico Andrea Piga Carboni. A ideia do negócio surgiu em 2014, quando Pierre percebeu a necessidade dos médicos cirurgiões, de diferentes partes do mundo, em obter soluções não só universais e duradouras, mas também inovadoras.
“Mesmo que técnicas minimamente invasivas já tenham sido criadas, eu e meu sócio trabalhamos em um conceito que fosse capaz de preencher as lacunas tecnológicas existentes. Como resultado, chegamos a essa solução exclusiva e universal, que atende as principais limitações deste tipo de técnica, como fixação, vedação, resistência à fadiga, navegabilidade, perfil e adequação à anatomias complexas”, explica o co-fundador, doutor Galvagni.
Devido ao caráter universal da solução, a startup entrou com o pedido de uma patente internacional, atingida em 2022. Hoje, a Archo Medical possui uma holding no exterior e uma Limited Liability Company (LLC) sediada em Delaware, nos Estados Unidos.
A sede da healthtech, no entanto, mantém-se na capital de Santa Catarina, Florianópolis, onde ainda possui um laboratório próprio, equipado com um simulador de fluxo. Esse equipamento tem grande relevância, já que substitui os testes em animais e permite a realização de testes funcionais dos protótipos dos produtos.
A Archo Medical conta também com uma “sala limpa” própria, como são chamadas as estruturas capacitadas para os testes finais. Em breve, o local passará por credenciamento e certificação para ser possível a montagem final dos produtos. Além disso, a empresa coleciona parcerias importantes na realização dos testes pré-clínicos, a exemplo do Laboratório de Engenharia Biomecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (LEBm-HU/UFSC), que conta com equipamentos de última geração e equipe altamente qualificada.
Um marco importante do negócio ocorreu no último ano, quando a Archo Medical foi selecionada pela Anvisa em um edital de fomento do governo brasileiro, por ter um dos dez melhores projetos entre 160 empresas submetidas à avaliação. Outra validação veio da Stark Investment Banking, primeiro banco de investimento digital do Brasil, responsável por ajudar empresas de médio porte e startups a navegar no mercado de investimentos, que estimou um valuation superior a US$ 100 milhões para a healthtech, após a conclusão dos primeiros testes em humanos.
De acordo com o COO da Stark e especialista em M&A pela London Business School, Gualtiero Schlichting, essa conclusão ocorreu após extensa avaliação do setor. “A Stark vem acompanhando os movimentos do setor e avaliou mais de dez transações que ocorreram neste mercado no decorrer dos últimos anos, todas com foco no desenvolvimento de produtos e novas tecnologias para os mesmos segmentos de atuação da Archo Medical. Em média, após finalizada a etapa dos testes em humanos, as empresas foram avaliadas em US$ 251 milhões. Considerando a relevância, o grau de inovação da solução, o local de desenvolvimento da tecnologia e os próximos passos que estão sendo dados pela Archo Medical, estimamos esse valuation de US$ 100 milhões, também após a conclusão dos primeiros testes em humanos, o que indica um caminho muito promissor para o negócio” afirma.