O câncer no sistema nervoso central equivale a até 1,8% todos os tipos de tumores malignos do mundo. Deste total, 88% se localizam no cérebro. No Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), uma nova terapia para um tipo de tumor cerebral, os gliomas de baixo grau, entusiasmou especialistas do mundo inteiro. A pesquisa mostrou que o uso de vorasidenibe posterga em 28 meses a necessidade de radioterapia neste tipo de tumor com alteração molecular do gene IDH1 ou IDH 2. “Este deve ser o primeiro de vários tratamentos novos para os tumores do sistema nervoso central que surgirão em breve”, preconiza médica Clarissa Baldotto, diretora do Núcleo de Integração Oncológica da Oncologia D’Or.
A oncologista, que é doutora em ciências médicas pelo ID´Or, explica que há tempos não surgiam novas terapias para os gliomas. Esse e outros tratamentos que deverão aparecer resultam em muito da atualização da classificação dos tumores do sistema nervoso central, feita em 2021 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O trabalho revisitou a classificação que, em 2016, provocou uma ruptura no método tradicional do diagnóstico calcado nas características morfológicas dos tumores. A partir desta deste ano, a OMS adicionou o perfil molecular dos nódulos para realizar a classificação. O ingresso na era molecular permitiu a descoberta de alterações genéticas associadas aos tumores do sistema nervoso central.
“Agora refinamos o diagnóstico, porque aprendemos a olhar o DNA do tumor e fazer sua classificação”, afirma Clarissa. “Antigamente, tratávamos os tumores como se fossem uma coisa só”, esclarece. Entre os tratamentos em fase de testes estão imunoterapias e uma vacina terapêutica para o glioblastoma, que teve resultados positivos nos estudo clínico fase 2. “Mas tudo isso resulta da evolução do diagnóstico”, completa.
Câncer de cérebro
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), os tumores no sistema nervoso central estão entre os 11 tipos de câncer mais comuns no Brasil, sem contar o câncer de pele não melanoma. O instituto estima que este ano serão diagnosticados no Brasil 11.490 novos casos desses tumores (6.110 em homens e 5.380 em mulheres).
O câncer no cérebro é uma doença silenciosa. Na maioria dos casos é descoberto quando a pessoa começa a ter dor de cabeça constante, desmaios ou convulsões. O acesso mais fácil à ressonância magnética agilizou o diagnóstico. “Antes, as pessoas passavam por vários médicos até descobrir a doença”, conta Clarissa. Não há prevenção ou indicação para rastreamento, exceto para pessoas que passaram por radioterapia na infância ou têm algumas síndromes raras.
Os tumores de cérebro se dividem em primários e secundários. Os tumores primários se originam nas células localizadas no cérebro ou próximo a ele. Podem ser benignos ou malignos. Os tumores secundários são metástases de tumores que surgiram em outros órgãos e alcançaram o cérebro. São sempre malignos.
Os gliomas são um grupo de tumores primários que têm origem nas células gliais e representam 80% dos tumores malignos do sistema nervoso central2. Eles se dividem em gliomas de alto e baixo grau de malignidade. O primeiro é bastante agressivo, evolui de forma rápida e causa altas taxas de mortalidade. É mais comum na população com 50 anos ou mais. Já o segundo é de progressão lenta e acomete pessoas de todas as idades. O paciente pode viver anos com tratamentos sequenciais que envolvem cirurgia, seguida de quimioterapia e radioterapia. O estudo apresentado no Asco apresentou mais uma boa alternativa de tratamento para este tipo de tumor com alteração molecular do gene IDH1 ou IDH 2.