sexta-feira, outubro 18, 2024
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Comunicação Não-Violenta e as relações interpessoais

por Denise dos Santos
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A Comunicação Não-Violenta (CNV), idealizada por Marshall Rosenberg na década de 1960, propõe uma forma de comunicação baseada no respeito mútuo e em soluções que podem beneficiar todas as relações interpessoais. Em um mundo marcado por constantes mudanças, a CNV nunca foi tão essencial para construir relações saudáveis, especialmente quando enfrentamos desafios de convivência e diálogo. A dificuldade em nos comunicarmos não é nova; é um sintoma que reflete problemas mais profundos nas interações humanas, e isso se manifesta claramente nas relações familiares e dentro das empresas.

A CNV pode ser explicada por meio de quatro pilares principais, que orientam as interlocuções mais eficazes. O primeiro pilar é a distinção entre observação e juízo de valor, que propõe a separação entre o que realmente aconteceu e as interpretações subjetivas que fazemos dos fatos. O segundo pilar é a distinção entre sentimentos e pensamentos, incentivando uma clareza maior sobre o que sentimos em determinadas situações, sem confundir essas emoções com julgamentos. O terceiro pilar é a distinção entre necessidades e estratégias, que busca identificar as necessidades que estão por trás dos sentimentos, facilitando a criação de soluções mais eficientes. Por fim, o quarto pilar trata da distinção entre pedidos e exigências, promovendo a formulação de solicitações de maneira que haja abertura para um diálogo construtivo, evitando imposições.

Estudos afirmam que o uso da CNV no contexto familiar pode transformar a forma como pais e filhos interagem, promovendo uma educação que valoriza as diferenças e as vê como complementares, em vez de ameaças. Crianças que crescem em um ambiente de diálogo e respeito, onde limites são estabelecidos de forma clara e empática, têm mais chances de desenvolver habilidades interpessoais saudáveis. Conforme amadurecem, elas passam a ser mais responsáveis por suas ações, e isso é fundamental tanto na escola quanto no ambiente familiar. Crianças que não aprendem sobre comunicação e limites crescem e reproduzem essas lacunas no ambiente escolar e profissional na fase adulta. Já na adolescência, o uso da CNV ajuda a criar um ambiente de confiança, permitindo que os jovens explorem novas experiências, enquanto mantêm um apoio sólido da família e de uma rede de cuidados ampliada.

No ambiente corporativo, o impacto da CNV é realmente é transformador. Atualmente, até quatro gerações coexistem no mercado de trabalho: baby boomers, X, Y e Z. Cada uma dessas gerações tem experiências, expectativas e estilos de comunicação diferentes. O que funciona para os baby boomers, por exemplo, pode não fazer sentido para a geração Z, exigindo novas formas de interação. Isso também se reflete nos modelos de gestão: sistemas hierárquicos rígidos e o trabalho presencial obrigatório vêm sendo questionados pelos mais jovens, que cada vez mais exigem autonomia e flexibilidade para atingirem o melhor de seus potenciais e criatividade. Neste cenário, a CNV oferece uma ferramenta fundamental para preencher essa lacuna.

A prática da escuta ativa e da comunicação respeitosa no mundo corporativo permite que as equipes resolvam conflitos de forma mais eficaz e fortaleçam a confiança mútua. Não se trata apenas do que é dito, mas também do aspecto subjetivo. Ignorar a importância do diálogo aberto pode levar à deterioração das relações profissionais e à queda na produtividade. Valorizar as conversas respeitosas, ajuda a criar uma cultura de colaboração e engajamento.

Na perspectiva psicanalítica, quem está em paz consigo mesmo e ouve seus próprios sentimentos está mais preparado para escutar o outro de maneira efetiva. Isso é essencial para liderar pelo exemplo, criando um ambiente onde todos se sintam ouvidos e respeitados. Parafraseando o poeta Alberto Caeiro: “Não é suficiente ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso que haja silêncio dentro da alma”. Esse silêncio interior permite a escuta ativa, fundamental para o sucesso das relações interpessoais.

A prática da CNV, portanto, deve ser incentivada por pais, educadores e líderes, para que os indivíduos estejam preparados para se comunicar de maneira mais empática e assertiva. No ambiente de trabalho, essa prática pode evitar conflitos desnecessários e promover um clima organizacional mais saudável.

Adotar a CNV em nossas interações diárias transforma a maneira como nos relacionamos com os outros e contribui para um ambiente mais harmonioso e colaborativo. Quando nos esforçamos para ouvir e entender o outro, criamos espaços onde todos se sentem valorizados e respeitados, o que favorece não só o crescimento pessoal, mas também o fortalecimento das comunidades e organizações em que estamos inseridos.

Denise dos Santos, psicanalista. Tem especialização em clínica Lacaniana pelo Instituto Espe. Bacharel em Secretariado Executivo Bilíngue e Especialista em técnicas para cuidados integrativos pela Unifesp.

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