quinta-feira, novembro 21, 2024
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Interoperabilidade é chave para o avanço do open health, dizem especialistas

por Erivelto Tadeu
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O open health, modelo aberto de compartilhamento de dados de saúde que se pretende implementar no Brasil, ganhou destaque nos últimos anos, principalmente em razão dos problemas que ficaram evidenciados com a pandemia de Covid-19, mas para a sua materialização ainda será preciso superar inúmeros desafios. Umas grandes barreiras a serem vencidas é a chamada interoperabilidade entre os diferentes sistemas de informação das empresas que compõem o ecossistema — laboratórios, convênios, hospitais e operadoras de planos de saúde.

Para debater sobre as dificuldades que ainda atrapalham a evolução do sistema de saúde brasileiro para um modelo aberto, o Fórum Saúde Digital reuniu dois especialistas no assunto: David Schlesinger, cofundador e CEO da Mendelics, e Antonio Silva, diretor de estratégia e acesso da Roche Farma Brasil, que tiveram como moderador Guilherme Machado Rabello, head de inovação do InovaInCor, núcleo de inovação do Instituto do Coração (InCor) de São Paulo.

Todos foram unânimes é destacar que o setor de saúde no Brasil é um dos mais tradicionais e conta com diversos sistemas de informação além de um número gigantesco de dados, portanto, ainda precisa vencer enormes barreiras para se alcançar a interoperabilidade  dos sistemas e o open health possa evoluir.

Schlesinger iniciou sua exposição observando que a “abertura” dos dados na área da saúde não é tão simples quanto se imagina. “Às vezes mostrar os dados de saúde, torná-lo público, não é tão simples. Primeiro, tem a questão da privacidade. E, quando se resolve essa questão, há ainda o risco de se criar alguns incentivos que podem ser errados. Existe a chamada Lei de Parkinson, que não tem nada a ver com a doença, segundo a qual toda métrica que é transformada em objetivo, deixa de ter valor como métrica.”

O médico neurogeneticista citou como exemplo a hipótese de dois hospitais, um ao lado do outro, em que se começa a publicar toda semana a mortalidade no pronto-socorro de cada um deles. “O que vai acontecer? Os planos de saúde vão escolher com base no índice de mortalidade e o hospital, por sua vez, vai passar a ter um incentivo, na sua triagem, de excluir os pacientes que têm alta chance de morrer. Isso pode criar um ciclo vicioso. Então simplesmente abrir os dados para todo mundo não é necessariamente uma solução fácil. E soluções fáceis para problemas difíceis é algo muito comum, mas geralmente não são boas opções.”

Schlesinger enfatizou que é preciso que os dados estejam estruturados. Por isso, disse ele, a digitalização do sistema de saúde é muito importante. Esse processo está acontecendo lentamente por inúmeras razões, segundo ele. “Falar que o prontuário eletrônico é uma solução mágica não é verdade. Como diz Charlie Munger [investidor, empresário e ex-advogado imobiliário norte-americano] se você quer encontrar soluções é preciso achar os incentivos. O incentivo do médico é atender mais pacientes e fazer isso digitando ali no computador, em um prontuário hiperestruturado e detalhado, é ótimo para o administrador, mas é péssimo para o médico, porque ele vai perder metade do tempo ou mais preenchendo o prontuário. Então simplesmente dar um prontuário também não é uma boa solução”, afirmou.

O executivo reforçou que é preciso que haja uma zeladoria para os dados. “É necessário que todos que detenham dados tenham incentivos para compartilhá-los e esses incentivos em geral são econômicos. Tem que haver um incentivo econômico também para que as pessoas aceitem compartilhar seus dados de maneira anonimizada. E, por fim, alguém ou alguma entidade pública ou privada que faça a zeladoria desses dados”, finalizou.

Ênfase na colaboração

O diretor da Roche Farma Brasil, Antonio Silva, disse que é preciso levar em consideração o Plano de Ação de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028 do governo federal, já que ele contém algumas diretrizes que podem contribuir para a evolução do open health no país. O plano, explicou ele, foi elaborado em torno de três grandes eixos de ação e de sete pilares que, ao serem atendidos, levarão gradativamente a um avanço. De acordo com ele, não vai haver solução “se cada um ficar olhando para a sua própria avenida”. “Hoje, em todas as áreas da saúde, se trabalha em trincheiras. E quando olhamos para frente vemos que a medicina personalizada já é uma realidade. Terapia gênica já é uma realidade. Isso é o que espera a gente para o futuro. E ainda estamos discutindo a saúde que não conseguimos introduzir no Brasil, que é saúde populacional — que são dados epidemiológicos ou de uma população, mas que não tão disponíveis para quem necessita para tomar decisão. Então, é preciso avançar claramente na interoperabilidade”, enfatizou.

Ao tratar do pilar colaboração, Silva diz que tem que se pensar na implementação do modelo ágil, com método MPP, early experience, etc. “Nós criamos uma federação, envolvendo a Roche, a TechTools e o governo municipal de uma pequena cidade do sul de Minas para um projeto de saúde. Inicialmente se pensou em campanhas de awareness, mas isso foi descartado. “Não sou contra, mas as campanhas de awareness não têm sido efetivas. Elas não conseguiram mudar a tendência, por exemplo, de que 30% das mulheres chegaram à fase metastática de câncer de mama nos últimos 20 anos.

Segundo explicou Silva, para o projeto na cidade de Minas foi definido que era preciso fazer uma busca ativa. “Acionamos a secretaria municipal, com apoio da secretaria estadual e dos parceiros, e desenvolvemos um aplicativo com inteligência artificial para fazer o rastreio e conseguir buscar essa mulher para que ela vá proativamente fazer a mamografia. O projeto tem como alvo 1.100 mulheres e já conseguimos rastrear 400 mulheres. Ele nos trouxe uma série de aprendizados sobre o que funciona e o que não funciona, mas o principal é que nos mostrou o quão complexo é, mesmo em um pequeno município, fazer a interoperabilidade, já que tivemos que lidar com dez sistemas diferentes. Imagina, então, a complexidade quando pensamos nos cerca de 5.500 municípios brasileiros”, observou.

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