Apesar da sua contribuição ao longo da história da medicina, os dados oriundos de experimentos animais muitas vezes não são totalmente aplicáveis aos seres humanos. Mas, os experimentos com animais levaram a terapias humanas importantes, como marca-passos, procedimentos cirúrgicos e analgésicos e ao cultivo de organoides.
No processo de cultivo de organoides, geralmente se parte de células-tronco pluripotentes ou multipotentes, dependendo do tipo de tecido que se deseja replicar. No caso de amostras de tecido que já passaram por algum grau de diferenciação celular, as células são isoladas e reprogramadas para um estado semelhante ao das células-tronco, conhecido como “células-tronco induzidas” (iPS), que possuem a capacidade de se diferenciar em diversos tipos celulares. Alternativamente, organoides podem ser derivados a partir de tecido adulto, retendo características específicas do tecido de origem.
Hans Clever, imunologista e biologista molecular, pesquisador principal no Hubrecht Institute, professor de genética molecular no University Medical Center Utrecht (Holanda), ajudou a desenvolver organoides específicos para órgãos e afirma que a chave para o valor dos organoides é que eles ajudam a levar os cientistas a uma visão sobre uma função biológica central. “Pode-se encontrar princípios em organoides com muita facilidade porque é extremamente bem controlado, e você controla tudo muito mais do que jamais faria em experimentos com animais.”
Como os organoides podem ser produzidos a partir das células de um ser humano específico, eles também podem ajudar a testar um medicamento ou tratamento nas células de um paciente. Os organoides derivados de pacientes podem abrir um caminho ainda mais rápido para a medicina personalizada. Isso permite que drogas sejam testadas para cada indivíduo, como remédios personalizados para o câncer.
“Organoides fornecem uma ferramenta abrangente para pesquisas biológicas e médicas, possibilitando estudos relevantes sobre desenvolvimento, doenças, terapias medicamentosas, toxicidade, regeneração, câncer, neurociência e mais. Especialmente na pesquisa do câncer, a tecnologia dos organoides passou a ser utilizada como um grande avanço ao permitir que sejam cultivados em laboratório pequenas amostras de tumores do paciente, e posteriormente, testados os efeitos de medicamentos nesses organoides”, Clever.
Os PDOs (organoides derivados de pacientes) são o fruto de uma medicina revolucionária, personalizada e de precisão ao possibilitar a terapia com medicamentos específicos para aquele paciente, com potenciais de terapias com maior eficácia e menos efeitos colaterais.
No Brasil, os investimentos da Invitrocue na tecnologia de organoides levaram ao desenvolvimento do teste Onco-PDO. O cultivo celular tridimensional que melhor reflete as condições observadas in vitro do seu tumor de origem. A tecnologia do teste inovador permite recriar em um ambiente controlado organoides a partir das células do tumor do paciente que foram retiradas por biópsias ou durante cirurgia. Esses organoides derivados do paciente são nutridos, crescem e se auto-organizam em laboratório de forma similar àquela observada no organismo. Ao expor os PDOs a diferentes tratamentos, é possível avaliar quais terapias induziram a morte das células cancerosas, fornecendo dados para que os médicos oncologistas possam ter uma melhor compreensão da resposta do tumor e assim traçar um plano terapêutico mais assertivo, ou seja, um tratamento personalizado.
O teste Onco-PDO leva em conta que cada paciente é único, e isso ajuda o médico a traçar a melhor escolha para aquele paciente específico. Alguns tumores mostram-se resistentes a certos medicamentos e saber previamente as respostas das células tumorais do paciente para os diferentes tratamentos em laboratório contribui para a tomada de decisão dos médicos oncologistas.
Disponível no Brasil para câncer de mama, pulmão, colorretal, pancreático, gástrico, próstata e ovário, o teste Onco-PDO permite que o médico escolha oito de 60 drogas para teste e o resultado demonstrará como as células responderam em laboratório, sendo uma ferramenta de alto valor para o médico oncologista. O relatório, gerado em até 21 dias, fornece informações de como os organoides derivados do paciente responderam aos diferentes tratamentos testados.