Boa parte do que se faz em saúde ainda é pouco efetivo, e caro. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a OCDE, entre 30% e 40% dos recursos aplicados em tratamentos podem ser considerados desperdícios. O maior desafio? Medir esse problema com precisão. A dificuldade em associar custos aos resultados clínicos reais ainda impede que sistemas de saúde compreendam onde estão seus gargalos operacionais. Para enfrentar essa lacuna, um estudo inédito na odontologia brasileira se propôs a fazer justamente isso: mapear ineficiências, mensurar desfechos clínicos e apontar oportunidades concretas de ganho em eficiência e valor para o paciente.
Durante atendimentos odontológicos de alto custo, clínicas e consultórios podem enfrentar diversos tipos de desperdícios que impactam diretamente na eficiência operacional e na rentabilidade do negócio. Entre os mais recorrentes estão os desperdícios de materiais, como o uso excessivo de insumos descartáveis, preparo de quantidades superiores ao necessário de resinas e moldagens, além da abertura indevida de kits estéreis que acabam sendo descartados sem uso. Também é comum a perda de materiais por vencimento ou armazenamento inadequado, sobretudo em procedimentos mais complexos e planejamentos longos.
Além do aspecto material, há desperdícios de tempo, financeiros e relacionados à experiência do paciente. Atrasos, retrabalhos por falhas técnicas e uso ineficiente de equipamentos caros comprometem a produtividade clínica. Já erros no planejamento financeiro ou na comunicação com o paciente podem resultar em cancelamentos, novos tratamentos e perda de fidelização. Quando somados, esses fatores não apenas elevam os custos, como afetam a imagem da clínica e a qualidade percebida do serviço, tornando essencial uma gestão integrada e rigorosa para garantir sustentabilidade e excelência nos atendimentos de alto padrão
A pesquisa analisou a relação entre o atendimento prestado e a percepção dos pacientes quanto à estrutura e assistência oferecidas, bem como sua autopercepção da melhora no quadro de saúde após o tratamento. “Na prática, adotar a abordagem de valor em saúde permite equilibrar custos e benefícios, garantindo que cada recurso empregado gere impacto positivo na saúde e satisfação do paciente”, afirma Vladimir Borin, presidente da Uniodonto Campinas.
“Almejamos um futuro em que todos os profissionais adotem a abordagem de saúde baseada em valor, superando práticas automáticas do dia a dia e explorando alternativas de tratamento para minimizar os riscos de procedimentos desnecessários ou excessivos e preservar a saúde do paciente”, completou Fernanda Dominiquini, especialista em Governança Clínica na Uniodonto Campinas.
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O conceito de valor em saúde se baseia em entregar resultados significativos para os pacientes utilizando os recursos de forma otimizada. A abordagem visa melhorar a experiência e os desfechos clínicos, colocando o paciente no centro do cuidado, além de reduzir desperdícios.
Estudo pioneiro em Governança Clínica
A “Análise de custo-efetividade dos desfechos clínicos em periodontopatias” foi realizada pela Hi! Healthcare Intelligence (www.saudehi.com) , uma startup especializada em análises econômicas na área da saúde. Com o uso de tecnologia de cruzamento de dados, a empresa analisou as respostas de 100% dos pacientes que realizaram tratamento de periodontopatia ao longo do primeiro semestre de 2024 e que responderam ao questionários que envolviam desfechos de efetividade e experiência do tratamento recedibo, transformando os dados coletados em métricas internacionais, como PREMS e PROMS. Essas métricas, amplamente utilizadas na Medicina, medem a experiência do paciente e sua autopercepção de saúde, respectivamente.
“O conceito de valor em saúde é uma das esperanças de sustentabilidade dos sistemas de saúde, e tudo começa por entender o que está sendo feito dentro de casa. Com a conclusão do estudo, entregamos desfechos clínicos, métricas de eficiência operacional, custo-efetividade dos tratamentos e satisfação do paciente”, aponta Felipe Fagundes, fundador e CEO da Hi! Dessa forma, com os resultados em mãos, a Uniodonto Campinas pretende expandir essa abordagem para outras especialidades odontológicas e fomentar melhores práticas na saúde suplementar brasileira.
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