quinta-feira, novembro 21, 2024
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Vacina contra câncer de pulmão começa a ser testada

por Redação
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Janusz Racz, um homem de 67 anos, se tornou a primeira pessoa no Reino Unido a testar uma nova vacina contra o câncer de pulmão, chamada de BTN116. O imunizante, desenvolvido pela empresa alemã BioNTech, utiliza a tecnologia RNA mensageiro (mRNA), que tem aberto novas portas no combate ao câncer e outras doenças. Um exemplo disso foi o desenvolvimento de algumas vacinas contra a Covid-19, que contam com o mesmo recurso.

O britânico está participando de um ensaio clínico, ainda em estágio inicial, cujo objetivo principal é verificar a segurança da vacina. Este estudo envolve cerca de 130 pacientes, de 34 centros de pesquisa em sete países (Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Hungria, Polônia, Reino Unido e Turquia), incluindo a University College London (UCL), no Reino Unido.

A vacina tem a capacidade de direcionar o ataque do sistema imunológico às células cancerígenas, evitando as células saudáveis e, assim, diminuindo os possíveis efeitos colaterais, visto que ela possui informações sobre marcadores presentes na superfície das células do câncer de pulmão. “Esperamos que, em combinação com o tratamento padrão atual — imunoterapia e quimioterapia — possamos fornecer um reforço imunológico adicional”, disse Siow Ming Lee, líder do estudo clínico no Reino Unido, à imprensa.

Como a vacina funciona?

Apesar do termo “vacina”, esse tipo de terapia não seria capaz de evitar o surgimento do câncer, diferente do que acontece com as tecnologias empregadas na geração para imunizantes habitualmente adotados de forma massiva, como é o caso da Covid-19, gripe, sarampo e tantas outras doenças.

“Quando nos referimos à vacina, há um fator essencial de diferenciação dessa solução na oncologia: para o câncer essas novas frentes da ciência têm como missão favorecer a geração de medicações personalizadas para pessoas já diagnosticadas com tumores. É, portanto, um tratamento adaptado de forma altamente individualizada a partir de especificidades do DNA das células cancerosas de cada paciente, tornando o organismo capaz de gerar respostas imunológicas capazes de reconhecer o ‘inimigo’ e combater a doença”, diz Bernardo Garicochea, oncologista e hematologista da Oncoclínicas.

O ensaio clínico recrutará pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP), desde seu estágio inicial – antes da cirurgia ou radioterapia – até a doença em estágio avançado ou recidiva.

Dose de esperança

Além desta pesquisa, outros estudos recentes mostraram que as terapias baseadas em mRNA podem revolucionar o combate a diversos tipos de câncer. Um deles foi publicado pela revista Science Translational Medicine e mostrou sucesso no tratamento e prevenção do glioblastoma – um tipo agressivo de câncer cerebral, com altas taxas de letalidade. O princípio da vacina contra o câncer é o mesmo daqueles imunizantes conhecidos: utiliza-se um fragmento do tumor para que o sistema imunológico da pessoa crie um sistema de defesa, que ficará armazenado na memória das células. Assim, caso o mesmo tumor surja, o corpo estará pronto para combatê-lo.

“De modo geral, nosso sistema imunológico é ‘programado’ para destruir pequenos cânceres quando começam a se desenvolver. No entanto, as células cancerosas podem contornar a situação e permitir que a doença se espalhe, criando estratégias para evitar serem atacadas pelo organismo. Uma dessas táticas é a produção da survivina – proteína capaz de ajudar o câncer a se esconder do sistema imunológico”, sintetiza o hematologista.

Ele destaca que as vacinas contra o câncer ainda estão em fases de testes. Isso porque, os tumores tendem a se comportar de forma mais complexa do que vírus e bactérias. “O câncer é um desafio, pois além de agir diferente depende de cada pessoa, é uma doença que sofre mutações o tempo todo. Então, você pode ter uma solução para um tipo de tumor, que atinge um grupo de pessoas, mas não para todos. Por isso, inclusive, percebemos que o futuro da oncologia está em tratamentos cada vez mais individualizados, tratando cada tipo de tumor como único”, acrescenta.

Novas frentes no combate ao câncer 

Não é de agora e nem só com as tecnologias para desenvolvimento de vacinas terapêuticas que esse processo de “personalização” no tratamento oncológico vêm se mostrando mais eficaz. A imunoterapia, que cria, a partir da engenharia genética, uma série de medicamentos e procedimentos que utilizam o sistema imunológico do paciente para combater os tumores, têm avançado no combate ao câncer, pois quanto mais se conhece sobre a doença, mais se sabe que as células cancerosas, ou câncer humano, dependem basicamente que certos sistemas do organismo funcionem adequadamente.

“O que aprendemos é que esses sistemas – que são as proteínas que se ativam umas com as outras e levam um efeito final na célula – são redundantes. Isso significa que, às vezes, uma conversa com a outra. Então, imagine que a célula está vivendo um momento muito ruim na vida dela, porque a quantidade de oxigênio no meio não está boa. Ela precisa começar, em primeiro lugar, a economizar oxigênio, em segundo lugar evitar a formação de radicais livres, até que se comece a diminuir o metabolismo. Essa célula vai receber o sinal, que vem do meio ambiente, dizendo que tem pouco oxigênio e vai ativar uma série de proteínas, que vão seguir em cascata, até darem um sinal para o núcleo da célula, diminuindo a atividade metabólica”, diz Garicochea.

De modo geral, uma proteína pode ser usada tanto para um caminho, como para outro. Ou seja, a célula espertamente se utiliza de uma mesma proteína para várias coisas, conseguindo ser condutora de diversos efeitos. “É removido um material do tumor para o estudo do DNA das células ou delas propriamente ditas. Com isso, conseguimos definir o que há de errado na célula cancerosa e é possível bloquear o problema através dos medicamentos que estão surgindo”, explica.

Quanto aos benefícios dos novos tratamentos, o oncologista comenta os principais pontos. “A toxicidade do tratamento é muito menor do que quando se usa quimioterapia ou radioterapia. Além disso, vale destacar também o aprendizado em se descobrir coisas novas, como os fatores de funcionamento das vias de sobrevivência da célula e entendimento do sistema imunológico. Isso vai fazer com que comecemos a tratar os distúrbios metabólicos das células. É esse o futuro que nos espera”, acrescenta Bernardo Garicochea.

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