Os resultados financeiros das operadoras de saúde, há algum tempo, têm mostrado um cenário preocupante: os custos estão crescendo em um ritmo mais acelerado do que receitas. Essa disparidade é evidente em diversas notícias e estudos, que apontam não apenas o aumento substancial em valores, desde procedimentos médicos, medicamentos e tecnologias até questões mais operacionais, como incrementos em coberturas e judicializações.
Uma pesquisa global recente da WTW revelou um aumento global no custo dos planos de saúde de 7,4% em 2022 para um recorde de 10,7% em 2023. A mesma pesquisa demonstra a tendência projetada pelas seguradoras para 2024: em torno de 9,9%. Logicamente, esse número sofre influências regionais: na América Latina, por exemplo, a projeção gira em torno de 11,6% para 2024.
As operadoras enfrentam dificuldades para repassar esses custos aos planos de saúde, o que tem levado a alternativas como a redução de coberturas (o downgrade), a verticalização dos serviços, os incentivos à incremento em modelos de co-participação, entre outros. O downgrade, por exemplo, tem sido utilizado para substituir redes de hospitais credenciados por opções menos onerosas, sem comprometer a qualidade do atendimento. Este movimento foi inclusive alvo de ajustes de regras pela ANS, limitando-o em casos de alta sinistralidade na região.
A verticalização dos serviços já está em prática, não apenas pela inclusão de hospitais próprios, mas também pelo investimento em diversas clínicas de especialidades, buscando reduzir a dependência de prestadores externos.
Recentemente, o Senado Brasileiro propôs uma medida controversa (ainda em tramitação), sobre a possibilidade da oferta de planos de saúde sem cobertura para internação, visando tornar os planos mais acessíveis e reduzir significativamente os custos para as operadoras. No entanto, especialistas alertam que isso pode resultar em atendimentos inadequados nos casos mais graves, afetando a saúde dos beneficiários a longo prazo.
Além disso, as operadoras estão focadas em engajar seus beneficiários para o uso consciente dos serviços, evitando o excesso de solicitações de reembolsos e fraudes, como a divisão de notas fiscais de consultas.
A discussão vai além da regulação; é necessário que todos os envolvidos busquem sinergia através de métodos como o compartilhamento de informações, semelhante ao que temos no Open Finance, onde o paciente é o “dono” de suas informações e opte por liberá-las a instituições e profissionais. Esse modelo permite engajar a rede por meio de incentivos e direcionamentos baseados no uso de informações compartilhadas, além de estratégias como a autorização de novos exames com base na recência de pedidos anteriores, visando a reutilização conforme a criticidade e urgência, entre outros.
A discussão é longa, mas é hora de começar a realizá-la de maneira integrada, para que a solução de um lado não prejudique o outro no futuro. O objetivo é que todos os players da cadeia de saúde saiam ganhando.
Alexandre Sgarbi, Diretor da Peers Consulting & Technology.