“A saúde digital é uma realidade que ainda precisa ser construída. Mais do que isso, o caminho para alcançá-la em sua integralidade é longo e desafiador”, afirma o CEO da MV, Paulo Magnus. Na opinião dele, a pandemia trouxe evoluções em prol de uma saúde digitalizada, mas, à exceção da telemedicina, muitas das disrupções já entraram em descompasso com o futuro que esperávamos no pós-pandemia.
Para que seja possível alcançar o topo dessa montanha chamada transformação digital da saúde, Magnus elencou três principais desafios que enxerga como críticos e que precisam ser endereçados: engajamento do paciente, integração de dados e, por fim — mas longe de ser menos importante —, regulação. “O paciente é digital, mas a saúde, nem tanto”.
De fato, um dos pontos muito discutido e necessário para aperfeiçoar os serviços da saúde é a interoperabilidade e um conceito que a descreve é o Open Health, ou seja, todos os elementos que compõem a cadeira da Saúde — do próprio paciente, aos hospitais, farmácias e outros players — terão acesso aos dados dos indivíduos que autorizarem o compartilhamento. É uma conexão maior entre diversas instituições, em que o mesmo dado do paciente que foi utilizado em um hospital pode ser usado em um novo atendimento, em um local diferente, por meio da integração entre sistemas.
Ferramentas interoperáveis como, por exemplo, o prontuário eletrônico do paciente (PEP), que revolucionou a saúde brasileira, terão protagonismo dentro dessa agregação de dados e que tanto beneficiará o bem-estar de milhões de brasileiros. O PEP, inclusive, é um dos exemplos de digitalização que mais trouxeram benefícios ao setor de saúde e aos pacientes. Foi em 27 de dezembro de 2018 que podemos oficialmente considerar a regulamentação do PEP, estabelecido pela lei conhecida como Lei do Prontuário Digital (nº 13.787/2018) e foi graças ao empenho em modernizar o trabalho das unidades de saúde e facilitar o acesso às informações de pacientes que surgiu o conceito de prontuário eletrônico há vinte anos.
Os processos manuais traziam alguns problemas que refletiam no cuidado assistencial: da ilegibilidade de registros e perda de informações, ao risco de exames serem feitos com atrasos, de medicação aplicada fora da exatidão necessária em tempo para o cuidado com o paciente e, até mesmo, o risco especialmente crítico de prescrição inadequada de medicamentos que eventualmente pode levar a óbito.
É o que mostra o estudo liderado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA), publicado em agosto deste ano no periódico PLOS ONE, que apontou que, em média, 10% dos pacientes internados em hospitais sofrem com eventos adversos relacionados a erros de medicação (EM). Além do impacto econômico global causado por EM que chega a consideráveis US$ 42 bilhões anuais (ou 0,7% do gasto total mundial em Saúde), o ponto mais importante da análise é: metade desses erros são evitáveis.
Dos hospitais da América Latina pesquisados, um montante entre 2,5% e 18,4% das internações hospitalares estava associado a eventos adversos; destes, 84% eram evitáveis e outros 30% resultaram em óbito — número elevado e inadmissível, sobretudo se considerarmos que tais ecossistemas poderiam facilmente ser controlados por meio do uso do PEP. “No entanto, felizmente, temos em vista iniciativas como o Projeto de Lei 3814/20, em discussão no Congresso Nacional e cujo objetivo é levar a uma integração de dados na saúde e ao prontuário eletrônico único para que possa ganhar ainda mais robustez e escala”, complementa Alceu Alves, vice-presidente da MV.