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Startup de tecnologia liderada por mulheres usa IA para motivar brasileiros a se cuidarem melhor

por Redação
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Adriemilly Rigo não estava se sentindo bem. Ela ganhou peso, sentia-se cansada e desenvolveu enxaquecas crônicas. Então, seu médico disse que ela tinha Esteatose Hepática – popularmente conhecida como ‘Gordura no Fígado’ –, uma condição metabólica séria que, se não tratada, pode levar à insuficiência hepática. “Para falar a verdade, eu era muito sedentária, não praticava muito esportes e não me cuidava muito bem”, diz ela.

Adriemilly ficou assustada. Então, quando seu supervisor perguntou se ela queria experimentar um novo aplicativo de saúde e bem-estar oferecido por sua empresa, ela se inscreveu. Depois de seguir os conselhos de refeições saudáveis e iniciar um programa de exercícios, seus sintomas estão hoje sob controle e ela está se sentindo melhor do que há anos. “Tem sido maravilhoso para mim”, diz Adriemilly. “Agora eu me desafio mais e mais a cada dia.”

Adriemilly Rigo está priorizando sua saúde com a ajuda de um aplicativo com inteligência artificial generativa chamado RadarFit. Lançada em 2020 por um trio de empreendedoras, a startup brasileira de tecnologia já acumulou mais de um milhão de usuários com uma estratégia única de gamificação projetada para incentivar hábitos saudáveis.

Embora também atenda pessoas físicas, o foco da RadarFit é fornecer um programa abrangente de saúde e bem-estar para clientes corporativos. “Para as empresas, resolvemos o problema dos altos custos relacionados a problemas de saúde dos funcionários e da necessidade de alto investimento em benefícios de saúde”, diz  Jade Utsch Filizzola, CEO da RadarFit.

Como muitos países que passam por uma rápida urbanização, o Brasil está lutando contra altas taxas de doenças cardíacas e condições metabólicas como diabetes e Esteatose Hepática Não Alcoólica, também conhecida como Esteato-hepatite. A prevalência de Esteose Hepática Não Alcoólica no Brasil é estimada em cerca de 35,3%, a mais alta da América Latina, em comparação com o índice de 25% em todo o mundo, de acordo com o banco de dados Global Burden of Disease. Embora tenham um tratamento caro e sejam potencialmente mortais, muitas condições crônicas, incluindo a Gordura no Fígado, podem ser prevenidas – ou mesmo revertidas – com uma dieta e exercícios adequados, de acordo com o Journal of Hepatology. Essa é uma das razões pelas quais mais empresas como a de Adriemilly se inscreveram na RadarFit. Em poucos anos, a startup conquistou mais de 60 clientes corporativos – e está a caminho consolidar 80 clientes comerciais até o final deste ano.

Desenvolvido na nuvem da Microsoft, o app da RadarFit é executado no Azure OpenAI Service da Microsoft e usa o Microsoft Copilot Studio para automatizar o marketing e analisar dados e avaliações dos usuários.

O impacto da RadarFit na saúde dos funcionários “foi uma grande surpresa para nós”, diz Samuel Lopes Fontes, que é diretor de Finanças e RH da Cooabriel, empregadora de Adriemilly Rigo. Sob a sugestão persistente, mas amigável, do aplicativo RadarFit, “as pessoas que diziam não ter tempo para ir à academia começaram a acordar mais cedo para se exercitar e cuidar de si mesmas”, diz Samuel. Em outra mudança de comportamento, hoje, os colaboradores estão pedindo à empresa para disponibilizar mais frutas e vegetais frescos na cozinha dos funcionários.

Há dois anos, 27 dos 470 funcionários da Cooabriel se inscreveram no programa da RadarFit. Agora, à medida que a notícia se espalhou, 59 estão participando e, nos primeiros seis meses deste ano, as queixas de saúde caíram pela metade, de acordo com Samuel.

Instigado pelo aplicativo de IA Generativa da RadarFit, Samuel, que, como Adriemilly, também desenvolveu Esteatose Hepática – embora a dele tenha sido detectada em um estágio mais inicial – melhorou sua dieta, começou a correr mais e diz que seu médico declarou sua doença em remissão.

Existem milhares de aplicativos e sites que fornecem conselhos de saúde e bem-estar, e muitos outros milhões de pessoas que aspiram a viver estilos de vida mais saudáveis, mas não conseguem seguir adiante. Mas, é aí que a gamificação entra na jogada.

“A causa raiz da dificuldade de alcançar uma vida saudável é a falta de resultados imediatos”, diz Jade Filizzola. Mesmo que uma pessoa faça 60 minutos de exercício ou faça uma refeição saudável, “ela não obtém instantaneamente a saúde e o corpo que deseja”, diz ela. “Essa falta de recompensa imediata é o que desencadeia a falta de motivação.”

O aplicativo RadarFit usa IA generativa, combinada com um sistema de pontos, para incentivar escolhas mais saudáveis. Dados anonimizados do usuário capturados do carregamento de imagens de refeições e outras atividades são usados para gerar “tags” – ou rótulos – que geram recomendações personalizadas com base em cada hábito saudável registrado pelos usuários. Um avatar, que “aprende” a partir das inserções do usuário, recomenda refeições e atividades físicas adaptadas aos objetivos individuais de saúde dele. Os pontos concedidos por escolhas saudáveis podem ser trocados por doações para causas sociais ou ambientais ou por produtos como eletrodomésticos e eletrônicos.

Diferentes categorias de pontos reconhecem que algumas tarefas são mais difíceis do que outras. Por exemplo, um treino de 15 minutos equivale a 3 pontos, enquanto um treino de 60 minutos ou mais pode valer 9 pontos. Uma refeição saudável pode ganhar 31 pontos, destacando a importância deste hábito, enquanto tarefas importantes como beber um copo d’água, que são mais fáceis, ganham 5 pontos.

O aplicativo RadarFit também permite que os usuários acompanhem seu progresso em comparação com os colegas. Um tipo de competição amigável que estudos mostraram que pode atuar como um estímulo adicional para manter o engajamento (algo que e é familiar para qualquer pessoa que tenha praticado mais após comparar suas pontuações com outros usuários em aplicativos de idiomas populares, por exemplo). Os usuários também podem optar por não participar de competições da empresa.

A diretora de tecnologia da RadarFit, Tatiany Duarte, que projetou seu primeiro videogame aos 15 anos, diz que combinar o uso da IA generativa a gamificação transforma o que poderia ser uma tarefa temida em algo positivo e envolvente. “Isso torna o processo muito mais divertido”, diz ela.

Os clientes corporativos obtêm um único painel de dados detalhados dos funcionários que mede a atividade em quatro métricas principais – alimentação saudável, hidratação, meditação e atividade física. É importante ressaltar que todas as informações apresentadas no painel são anônimas e agregadas. Embora os dados do usuário sejam usados localmente para personalizar a experiência do usuário, todas essas informações são processadas de maneira criptografada para garantir segurança e privacidade. Os usuários também são notificados de que seus dados são anonimizados durante o processo de registro, nos termos de uso e política de privacidade.

As empresas têm acesso a uma visão geral das tendências e comportamentos de seus funcionários, mas não recebem informações que identifiquem indivíduos específicos. Por exemplo, o painel pode mostrar que 70% dos funcionários atingiram suas metas de hidratação na semana passada, mas não revelará quem especificamente atingiu ou não os objetivos. Esses dados também permitem que os departamentos de Recursos Humanos meçam o retorno de seu investimento no bem-estar de seus funcionários, ao mesmo tempo em que monitoram, em um nível macro, como a gamificação está afetando a saúde deles.

Antes da RadarFit, diz Jade Filizzola, as empresas que buscavam uma abordagem abrangente de saúde e bem-estar para seus funcionários tinham que administrar vários programas, cada um com suas próprias métricas e custos associados. Ao organizar várias atividades sob o mesmo guarda-chuva, “unificamos a solução por meio da tecnologia”, diz Jade.

As fundadoras dizem que a ideia original para a RadarFit surgiu de suas próprias lutas para encontrar tempo para cuidar de si mesmas e, ao mesmo tempo, construir um negócio. Jade Filizzola e a diretora Financeira Jennifer Faria se conheceram na faculdade, onde ambas tiveram aulas de negócios com foco em empreendedorismo. Tatiany Duarte, a CTO, herdou seu interesse pelo empreendedorismo de sua família e vendeu seu primeiro negócio pouco antes de ser abordada por Jade para ajudar a construir a infraestrutura de tecnologia da RadarFit.

A startup liderada por mulheres recebeu um grande incentivo no ano passado da Women Entrepreneurship (WE), uma iniciativa da Microsoft Brasil, que inclui outros oito financiadores corporativos e fornece capital, consultoria e orientação para incentivar mais mulheres a iniciar seus negócios.

Em novembro de 2023, a RadarFit recebeu mais de R$ 2,5 milhões da WE Ventures (aproximadamente o equivalente a cerca de US$ 456 mil). A startup investiu os recursos para melhorar a funcionalidade de sua solução e acelerar a expansão fora do Brasil. Usando o Azure OpenAI Studio e o Copilot Studio, a RadarFit também adicionou um recurso de meditação guiada projetado para aliviar a fadiga, o estresse e a insônia, solicitando que os usuários tirem um tempo para exercícios respiratórios ou recitem mantras projetados para acalmar a mente.

Como qualquer startup, a RadarFit teve sua parcela de desafios no processo de crescimento. Sua primeira ideia, um marketplace on-line para produtos de saúde e bem-estar, não foi bem-sucedida, mas as cofundadoras continuaram interessadas no segmento de saúde. A semente da ideia que se tornou a RadarFit o que é hoje começou a germinar quando elas recrutaram cerca de 5.000 amigos e familiares para trocar conselhos e incentivos de bem-estar pelo WhatsApp. A abordagem da comunidade ganhou força, mas era impossível de escalar. Com Tatiany a bordo, elas finalmente puderam se concentrar no desenvolvimento de uma estratégia de tecnologia que lhes permitisse desenvolver suas ofertas e atrair mais clientes de maneira sustentável.

Em seus primeiros dias de lançamento, a RadarFit dependia fortemente de um grupo de especialistas humanos – incluindo um médico, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo – para revisar e validar o progresso relatado pelo usuário, diz a CFO da RadarFit, Jennifer Faria.

Para ganhar pontos, os usuários devem fazer upload de fotos de refeições e atividades físicas que documentem seu progresso. Inicialmente, cada imagem era revisada manualmente para calcular o valor nutricional e estimar as calorias queimadas ou os passos caminhados ao longo do dia. Logo, milhares de usuários estavam enviando fotos – e os revisores humanos do RadarFit ficaram sobrecarregados. A tecnologia inicial de IA ajudou a aliviar o atraso nas avaliações, mas ficou aquém das expectativas.

No ano passado, a RadarFit migrou sua plataforma para o Azure OpenAI Service e OpenAI GPT4, que Tatiany Duarte diz ser fundamental para a análise avançada de refeições. Para automatizar totalmente as revisões de refeições e exercícios sob a supervisão dos especialistas no assunto da RadarFit, elas também implantaram o software de reconhecimento de imagem Azure AI Vision da Microsoft. O novo sistema alimentado por IA acelerou o processo de revisão e recompensa – e removeu uma tentação familiar a qualquer pessoa que faz dieta: trapacear. Em seu zelo para ganhar prêmios, alguns usuários pegavam imagens da Internet e as enviavam no lugar de suas refeições ou atividades reais. Agora, o aplicativo com inteligência artificial da RadarFit rejeita automaticamente capturas de tela de refeições que claramente não se originaram do usuário.

“A inteligência artificial nos permite fazer muito com uma equipe enxuta”, diz Jade Filizzola.

O app RadarFit também usa o Copilot Studio para personalizar ainda mais a experiência do usuário. Depois que a pessoa insere suas metas de saúde, sugestões e informações detalhadas são fornecidas em linguagem natural por meio do avatar. Por exemplo, alguém que gosta de atividades ao ar livre pode receber uma notificação sugerindo que faça uma caminhada ou um passeio de bicicleta.

Jade Filizzola acredita que a IA permitirá que a RadarFit se torne cada vez mais capaz à medida que mais pessoas se inscrevem e compartilham suas metas e progresso de saúde. “Agora que temos uma grande base de usuários”, diz ela, “podemos acessar esses dados para analisar o comportamento e melhorar ainda mais a experiência do usuário”.

Samuel Lopes Fontes, diretor de finanças e RH da Cooabriel, diz que notou a melhoria na funcionalidade do aplicativo após a atualização da IA e decidiu que era hora de experimentar a meditação. “Eu tinha visto pessoas fazerem isso nos filmes, mas nunca tinha meditado antes e não tinha ideia de como fazer”, diz ele. Mas uma vez que ele seguiu as instruções do aplicativo RadarFit e isso passou a fazer parte de sua rotina, o usuário foi fisgado. Agora ele dedica tempo, todas as manhãs, para praticar. Se um trabalho inesperado ou uma obrigação familiar o impede de fazer seu exercício de respiração, Samuel diz: “Eu realmente sinto falta”.

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