O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 700 mil novos casos de câncer no país no próximo ano, sendo o Sul e o Sudeste onde se encontram 70% da incidência dos casos. Destes, mais de 21 mil casos deverão ser de pâncreas ou fígado. Este foi o primeiro ano em que a instituição incluiu estes tipos de cânceres na estimativa nacional por serem problema de saúde pública em regiões brasileiras e também com base nas estimativas mundiais.
Segundo o Inca, o câncer de fígado aparece entre os dez mais incidentes na região Norte, estando relacionado a infecções hepáticas e doenças hepáticas crônicas. O câncer de pâncreas está entre os dez mais incidentes na região Sul, sendo seus principais fatores de risco a obesidade e o tabagismo. No Paraná, o Inca estima que serão diagnosticados cerca de 830 novos casos de câncer de pâncreas e 680 de fígado, uma taxa de 7,08 e 5,79 casos para cada 100 mil habitantes, respectivamente, apenas em 2023. A doença pode se manifestar de forma assintomática por muito tempo. Quando há sintomas, em geral se trata de doença mais avançada e os mais comuns são dor, icterícia (pele e olhos amarelados), perda de peso, fraqueza, anorexia, náuseas, diarreia e vômitos.
Segundo Eduardo Ramos (foto acima), médico especialista em cirurgia do pâncreas e fígado do Centro de Cirurgia, Gastroenterologia e Hepatologia (CIGHEP) do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) de Curitiba, o adenocarninoma é o tipo de tumor maligno mais comum no pâncreas e responsável por cerca de 95% dos casos.
“O tratamento com intenção de cura é através da cirurgia, associado ou não à quimioterapia. Porém, apenas cerca de 20% dos pacientes são candidatos à cirurgia no momento do diagnóstico. Os procedimentos cirúrgicos vão depender da localização do tumor e a cirurgia pode ser realizada de forma convencional ou por robótica, técnica minimamente invasiva e que permite maior visibilidade e precisão”, explica Ramos.
A dificuldade de diagnosticar precocemente o câncer de pâncreas também é um obstáculo para o tratamento. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, aponta que 36% dos casos de câncer de pâncreas não estão sendo vistos em tomografias e ressonâncias magnéticas.
“Nos exames de imagem, algumas vezes, o radiologista pode não reconhecer os sinais de que pode ter um câncer de pâncreas. O pâncreas, como uma víscera que fica atrás do abdômen, não é tão bem acessível por ecografia, por exemplo. Em relação a tomografia e ressonância, existem alguns sinais sutis que vão ser evidenciados nesses exames e que o radiologista tem que estar preparado para reconhecer”, comenta Ramos.
Câncer de fígado
No fígado, o câncer mais comum é o hepatocarcinoma, responsável por cerca de 90% dos casos. Ele ocorre principalmente em pacientes com diagnóstico prévio de cirrose. De acordo com a médica hepatologista Cláudia Ivantes, a grande maioria dos pacientes não possui sintomas nos estágios iniciais. “Os sintomas mais frequentes são perda de peso, perda do apetite, fraqueza ou dor abdominal. O diagnóstico muitas vezes é feito através de exames de imagem de rotina, principalmente em pacientes que estão em acompanhamento por algum tipo de hepatite ou cirrose”, explica.
Para Daphne Morsoletto, médica hepatologista da equipe, em geral as tomografias e ressonâncias são suficientes para o diagnóstico. “Como pacientes com quadro de cirrose hepática já estão em acompanhamento médico, os exames de imagem são suficientes para o diagnóstico e as biópsias são realizadas apenas em casos selecionados”, diz a especialista.
O tratamento do câncer de fígado é individualizado, complexo e multidisciplinar, envolve cirurgia para a retirada do tumor, quimioembolização, radioembolização, ablação (queimar o tumor) ou até transplante hepático. O transplante é indicado quando há danos avançados no fígado e o órgão é totalmente removido e substituído por outro de um doador falecido, ou parcialmente de um doador vivo.
“Infelizmente nem todos os pacientes podem ser transplantados e isto é definido por lei. Pacientes com tumor único de até 5 cm, ou até 3 tumores, sendo que nenhum maior do que 3 cm, podem ser transplantados”, explica Ramos, cirurgião da equipe.
Outros dados
O tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).
Em homens, o câncer de próstata é predominante em todas as regiões, totalizando 72 mil casos novos estimados a cada ano do próximo triênio, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Nas regiões de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), os tumores malignos de cólon e reto ocupam a segunda ou a terceira posição, sendo que, nas de menor IDH, o câncer de estômago é o segundo ou o terceiro mais frequente entre a população masculina.
Já nas mulheres, o câncer de mama é o mais incidente (depois do de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. Nas regiões mais desenvolvidas, em seguida vem o câncer colorretal, mas, nas de menor IDH, o câncer do colo do útero ocupa essa posição.
Segundo o Inca, o cálculo das estimativas de câncer utiliza as bases de dados de incidência (casos novos) , provenientes dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) e dos óbitos, oriundas do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). A partir da relação entre incidência e mortalidade (I/M), modelos estatísticos são utilizados para definir a melhor predição. Essa escolha depende da disponibilidade das informações, conferindo maior ou menor precisão.