No Brasil, um país de proporções continentais e profundas desigualdades, o acesso à saúde ainda é, para milhões de pessoas, um privilégio geográfico, social e econômico. Ao menos 34% da população, especialmente em áreas periféricas e rurais, carece de acesso à atenção básica à saúde, segundo o Instituto de Estudos para Políticas de Saúde. A cada novo levantamento demográfico, a realidade se impõe: enquanto há capitais com excesso de médicos e especialistas, vastas regiões do Norte, Nordeste e interior do país vivem verdadeiros desertos assistenciais.
Dados recentes da Demografia Médica no Brasil (2023) revelam uma fotografia inquietante. Estados como o Maranhão, Pará e Amazonas possuem uma média inferior a 1,3 médico para cada mil habitantes – muito distante da realidade de São Paulo ou Distrito Federal, onde essa razão supera 4,5 médicos por mil habitantes. O mesmo padrão se repete (e agrava-se) quando falamos de acesso a especialistas: ginecologistas, pediatras, psiquiatras e cardiologistas são quase inexistentes em dezenas de municípios do interior do Brasil.
Diante desse cenário, é impossível ignorar que o modelo tradicional de assistência em saúde – baseado na presença física, em estruturas hospitalares e na concentração de especialistas em grandes centros urbanos – simplesmente não dá conta da missão de cuidar de todos. E, talvez, nunca tenha dado. O desafio, perante uma análise fria, não é ter mais médicos, mas sim ter um novo modelo.
O Brasil, assim como o restante do mundo, enfrenta não apenas uma crise de escassez, mas uma crise de modelo. Não é uma questão de formar mais médicos, mas de redesenhar como o cuidado em saúde é entregue. A resposta não está apenas em mais pessoas, mas em como capacitamos pessoas, tecnologias e processos para cuidar melhor, de forma mais inteligente, mais acessível e mais próxima das necessidades reais da população.
É exatamente aqui que entra a proposta de negócios de impacto como a Ana Health – uma plataforma de saúde integral, que une ciência, tecnologia e uma visão profundamente humana para cuidar da saúde física, mental e social das pessoas. Por meio de uma combinação de telessaúde, inteligência artificial, análise de dados e acompanhamento contínuo, a empresa não substitui os médicos – amplia o alcance deles. Profissionais de saúde passam a ser apoiados por ferramentas de IA que ajudam na triagem, no monitoramento, na priorização de pacientes e até na construção de jornadas de cuidado personalizadas, considerando os Determinantes Sociais da Saúde, algo raramente levado em conta na saúde tradicional.
Imagine um município como Novo Airão, no Amazonas. Uma cidade com pouco mais de 19 mil habitantes, cercada pela Floresta Amazônica e banhada pelos rios Negro e Jaú. Grande parte da população vive em comunidades ribeirinhas, onde o acesso a serviços de saúde é extremamente limitado. Para muitos, uma simples consulta com um clínico geral exige horas – às vezes, dias de espera para que um médico se desloque até o local. E se o problema exige um especialista, como um psiquiatra ou endocrinologista, a alternativa costuma ser viajar até Manaus, a quase 200 quilômetros de distância, com custos e desafios logísticos que tornam o cuidado, na prática, inacessível para boa parte dos ribeirinhos. É exatamente nessas realidades que a tecnologia deixa de ser uma conveniência urbana e se torna uma ferramenta de justiça social e de equidade em saúde.
A proposta da Ana Health transcende a teleconsulta convencional. Por meio de uma arquitetura robusta de inteligência artificial treinada com dados locais – clínicos, socioeconômicos, culturais e geográficos –, a plataforma consegue identificar quem mais precisa de cuidado, que tipo de cuidado é necessário e qual é o momento certo de intervir. E, talvez mais importante, faz isso de forma ativa e contínua, não esperando que as pessoas adoeçam para, então, serem cuidadas.
Se um morador ribeirinho com hipertensão deixa de responder às mensagens da equipe de saúde, o sistema dispara automaticamente um alerta inteligente, priorizando esse paciente para uma abordagem rápida da equipe assistencial. Se uma mulher, vivendo em uma comunidade isolada às margens do Rio Negro, está há meses sem acompanhamento ginecológico – algo recorrente na região, dada a total ausência de ginecologistas –, a IA da Ana Health ativa protocolos preventivos, sugere consultas, orientações ou encaminhamentos, muitas vezes antes mesmo que um problema de saúde se manifeste clinicamente.
A inteligência artificial não é apenas uma ferramenta. Ela se comporta como um radar populacional de cuidado, capaz de enxergar onde o sistema tradicional não enxerga e de agir onde, historicamente, só havia silêncio, espera e abandono assistencial. Esse não é um futuro distante. Já está acontecendo. Profissionais de saúde que trabalham com a Ana Health não estão mais sozinhos diante de planilhas, prontuários físicos ou tentando, no escuro, decidir quem deve ser priorizado. A inteligência artificial da plataforma funciona como um copiloto, que organiza filas invisíveis, que recomenda conteúdos, orientações, consultas, ou mesmo conversas terapêuticas baseadas no perfil individual e no contexto social de cada pessoa.
O efeito? Mais cuidado, para mais pessoas, de forma mais justa e eficiente. Mais do que isso: profissionais deixam de ser sobrecarregados com tarefas burocráticas e podem se concentrar no que realmente importa – cuidar. O Brasil tem hoje uma oportunidade histórica. E não é uma oportunidade apenas tecnológica; é uma oportunidade moral, social e econômica. Reduzir a dependência de modelos presenciais, derrubar as barreiras físicas e geográficas e democratizar o acesso à saúde é, mais do que nunca, uma questão de justiça.
E aqui é preciso ser categórico: a tecnologia não é inimiga do cuidado. Pelo contrário, ela é o que nos permite cuidar de quem antes estava invisível. A IA, a telemedicina, os sistemas de monitoramento e os dashboards inteligentes não substituem o médico — eles ampliam sua capacidade de gerar impacto, sobretudo onde o cuidado nunca chegou. Na ponta, quem mais se beneficia são justamente as populações mais vulneráveis: trabalhadores informais, moradores de periferias urbanas, comunidades rurais e ribeirinhas, pessoas que nunca foram prioridade no modelo tradicional de saúde.
Conclusão: o impacto social não é consequência. É estratégia. Se existe uma lição inequívoca da crise global de saúde e do próprio panorama brasileiro, é que não há mais espaço para modelos de saúde que não sejam sustentáveis, escaláveis e, sobretudo, inclusivos.
A proposta da Ana Health é, portanto, mais do que um modelo de negócio. É uma visão de mundo. Um mundo no qual cuidar das pessoas, com o apoio da tecnologia, é mais do que possível – é urgente, viável e necessário. E, se bem implementado, capaz de gerar não apenas retorno econômico, mas também aquilo que é mais precioso: vidas preservadas, sofrimento evitado e equidade social promovida. Porque, no fim, cuidar de quem cuida é, e sempre será, o maior investimento que qualquer sociedade pode fazer.
Olívio Alves de Souza Neto e Víctor Cussiol Macul.