A Gartner, empresa global de pesquisa e consultoria especializada em tecnologia da informação (TI), negócios e inovação estima que os gastos globais com Inteligência Artificial Generativa alcancem quase US$ 700 bilhões em 2025, o que representa um crescimento de 74% em relação a 2024. Entre os setores econômicos mais representativos nestes investimentos estão, em ordem decrescente: Tecnologia da Informação, Serviços Financeiros e Saúde.
Mas como a Inteligência Artificial (IA) pode impactar a saúde? De forma global, o setor deve investir cerca de US$ 70 bilhões em IA neste ano. Segundo um estudo recente da Mckinsey, 85% das empresas de saúde ouvidas, desde fontes pagadoras até prestadores de serviços, já reportam a adoção de algoritmos inteligentes em graus variados de profundidade. Os principais benefícios alvo têm sido a melhoria de eficiência administrativa, produtividade clínica e engajamento de pacientes ou beneficiários. Além disso, 65% dos players ouvidos relatam retorno positivo sobre os investimentos feitos em IA.
Trazendo para a realidade brasileira, uma pesquisa feita pela PwC, uma rede global de firmas de serviços profissionais que oferece auditoria, consultoria tributária, consultoria de negócios e assessoria em transações, revela que o setor da saúde é o que apresenta maior nível de confiança na adoção da IA por parte das lideranças em comparação com outros setores da economia avaliados. As aplicações são diversas: redução de fraudes, melhoria de eficiência operacional, gestão de dados de pacientes permitindo a predição de problemas de saúde e adoção de ações personalizadas, uso de algoritmos para identificação de padrões em exames de imagem detectando com maior precisão eventuais problemas e otimização da capacidade instalada – sejam leitos, equipamentos ou pessoas, melhorando, inclusive, o atendimento aos pacientes. Também não podemos deixar de citar como a AI tem acelerado os processos de descoberta de novos medicamentos e vacinas.
Do ponto de vista humano, assim como em outras revoluções tecnológicas que a humanidade já experimentou, a IA traz oportunidades, mas também preocupações e ansiedades. Estamos longe de compreender todos os impactos que ela trará para a sociedade. Mas, no que diz respeito às habilidades humanas e a nossa relevância nessa nova realidade, o caminho passa pela integração entre as inteligências orgânica e artificial. Há todo um contexto de reconfiguração de competências essenciais. Profissionais de saúde estão sendo chamados a desenvolver novas habilidades, como compreender os fundamentos da IA, como ela funciona, suas limitações e como interpretar suas recomendações. Isso inclui:
- Alfabetização digital e fluência em IA
- Entendimento básico de algoritmos e modelos preditivos;
- Capacidade de avaliar a confiabilidade de sistemas baseados em IA;
- Uso seguro e ético de ferramentas digitais no cuidado ao paciente.
- Julgamento clínico aprimorado por IA
A Inteligência Artificial não substitui o julgamento humano, mas o complementa. Os profissionais precisarão:
- Integrar insights gerados por IA com conhecimento clínico e contexto do paciente;
- Saber quando confiar e quando questionar uma recomendação algorítmica;
- Manter a autonomia clínica mesmo em ambientes altamente digitalizados.
- Competências éticas e de governança
- Compreensão de princípios como justiça, transparência, responsabilidade e não discriminação;
- Capacidade de identificar e mitigar vieses algorítmicos;
- Participação ativa na governança e avaliação de tecnologias emergentes.
- Colaboração interdisciplinar
Com a IA sendo desenvolvida por engenheiros, cientistas de dados e designers, os profissionais de saúde precisarão:
- Trabalhar em equipes multidisciplinares;
- Comunicar necessidades clínicas de forma clara a desenvolvedores;
- Co-desenhar soluções tecnológicas centradas no paciente.
- Adaptação a novos fluxos de tarefas administrativas e operacionais (como agendamento, triagem e documentação clínica). Isso exige:
- Flexibilidade para adotar novos processos;
- Capacidade de usar ferramentas automatizadas com eficiência;
- Participação na reconfiguração de rotinas clínicas e administrativas.
- Foco no cuidado humanizado
Na medida que a IA assume tarefas técnicas, o diferencial humano será a empatia, escuta ativa e comunicação com o paciente. Assim, competências como:
- Inteligência emocional;
- Comunicação clara e compassiva;
- Sensibilidade cultural e social ganham ainda mais importância.
Novos papéis tendem a surgir. Funções como médicos especialistas em IA clínica, gestor de saúde digital, Chief Medical Information Officer (CMIO) e outras que ainda não conseguimos prever. Sem falar no papel dos gestores de áreas não clínicas, que assim como em outros segmentos econômicos, precisarão desenvolver novas competências.
Por fim, é importante ressaltar que por trás de tudo isso há um aspecto cultural extremamente relevante. Estudos feitos pela divisão de Consultoria em Cultura Organizacional da ZRG demonstram que as transformações tecnológicas, sobretudo as movidas por IA, são indissociáveis da transformação cultural. Organizações que negligenciam a cultura tendem a fracassar na adoção da IA, enquanto aquelas que a priorizam têm desempenho superior. Atributos culturais como Propósito, Pensamento Coletivo, Coragem, Curiosidade, Transparência, Aprendizagem, Empoderamento e Cuidado com as pessoas são chaves para o sucesso nessa jornada.
Leonardo Ribeiro, sócio-diretor da ZRG Partners Brasil.