O Brasil de 2025 observa atentamente os efeitos do envelhecimento acelerado de sua população. A longevidade, celebrada como conquista social, traz consigo um novo desafio: o aumento expressivo de doenças oculares, em especial a catarata. Hoje, mais de 600 mil brasileiros aguardam por uma cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados do Ministério da Saúde, tornando esse o procedimento oftalmológico mais requisitado da rede pública.
A fila, que cresce rapidamente, não é consequência apenas do envelhecimento populacional. A catarata, condição quase inevitável com o avanço da idade, demanda um tratamento relativamente simples, de baixo risco e realizado por meio de cirurgia. A tecnologia, grande aliada da oftalmologia, tem revolucionado esse cenário globalmente, reduzindo o tempo do procedimento e acelerando significativamente a recuperação pós-operatória, com índices de complicações quase inexistentes.
Contudo, apesar do cenário promissor no campo tecnológico, a catarata continua comprometendo a qualidade de vida de milhares de pessoas no país. A fila para cirurgias, principalmente no sistema público, cresce de forma exponencial — reflexo não apenas do envelhecimento, mas também de desafios estruturais e logísticos persistentes na saúde pública. Uma gestão focada na identificação precoce da doença pode evitar o acúmulo de pacientes em busca de tratamento tardio. Dessa forma, o sistema poderá se organizar melhor para oferecer um atendimento eficaz e oportuno, acolhendo e cuidando da população brasileira no tempo certo.
Inovação
Enquanto isso, o mercado global de cirurgia de catarata vive um momento de efervescência. A tecnologia é uma aliada poderosa: a facoemulsificação com laser de femtosegundo, por exemplo, reduziu o tempo da cirurgia para menos de 15 minutos, com riscos mínimos e recuperação mais rápida. Lentes intraoculares premium — como as multifocais e trifocais — não apenas restauram a visão, mas também corrigem problemas como astigmatismo e presbiopia, devolvendo ao paciente uma autonomia visual que parecia perdida.
Entretanto, o acesso a essas inovações ainda é desigual. No setor público, a maioria das cirurgias utiliza lentes monofocais básicas, enquanto as opções mais avançadas permanecem restritas ao setor privado ou exigem coparticipação dos pacientes. A lacuna entre o que é tecnicamente possível e o que é efetivamente acessível se amplia — e, com ela, cresce o risco de que milhares de idosos percam não apenas a visão, mas também sua independência.
O futuro da cirurgia de catarata no Brasil dependerá da capacidade de integrar tecnologia, gestão eficiente e políticas públicas inclusivas. Enxergar esse desafio com clareza é o primeiro passo para garantir que o envelhecimento da população não seja um fardo, mas uma etapa da vida vivida com dignidade e visão plena.
Henock Altoé, médico oftalmologista.