Já não é mais novidade que o e- commerce passou a ficar sob os holofotes depois da pandemia do coronavírus, quando as pessoas encontraram nas vendas online a possibilidade de abastecer as suas casas diante do isolamento social. O comércio eletrônico atingiu diversos setores da economia e chegou a crescer mais de 70% em 2020, no auge da crise sanitária. Diante do cenário, acredita-se que a indústria farmacêutica também será impactada pela nova tendência, no entanto é preciso fazer uma análise minuciosa do setor e suas peculiaridades, antes de tirar uma conclusão.
Dados da Future Market Insights apontam que até 2032 o segmento farmacêutico deve atingir US$ 273,6 bilhões. No Brasil, segundo a Neotrust, o setor de Saúde e Farma aumentou em 40% o faturamento este ano. Já a consultoria IQVIA, mostra que o País caminha para se tornar o quinto maior mercado mundial de suprimentos médicos, com um crescimento esperado de 10,5% somente este ano.
São exatamente esses números, que têm levado especialistas a observarem o e-commerce como uma das saídas para dar conta da demanda, já que o Brasil dispõe de aproximadamente 84 mil farmácias, além de 4 mil distribuidores de medicamentos. Ou seja, seria necessário ampliar os canais de acesso aos produtos. E a indústria farmacêutica tem realmente interesse em incrementar a sua atuação por meio do comércio eletrônico.
Porém, acredito que as empresas vão seguir o modelo de omnichannel (integração de processos online e offline), sendo o e-commerce apenas um dos canais de vendas. Nas regiões metropolitanas, que possuem hospitais, médicos e dentistas com alto volume de pacientes e grande importância para a saúde, observamos que os profissionais continuarão sendo atendidos pelos representantes comerciais. O comércio eletrônico deverá ter maior participação em regiões mais remotas, do interior do País, onde seria muito alto o custo de implementação de propagandistas , que costumam levar os produtos até clínicas e hospitais para apresentação.
Nesse caso, o e-commerce vai ajudar a levar as opções de produtos ou medicamentos para regiões mais afastadas, beneficiando as vendas online para a indústria farmacêutica. O comércio eletrônico traz esse benefício de ampliar a sua capilaridade de operação e atingir regiões que, até então, não teriam acesso aos medicamentos.
Vale destacar que o e-commerce não precisa, necessariamente, ser divulgado publicamente. É possível também criar uma área voltada apenas para os especialistas/doutores, em que apenas um grupo fechado tem acesso, por meio de cadastro do CRM. Então, nesse sentido, também vejo o crescimento de portais de médicos, dentistas, biomédicos, onde será possível acessar os produtos e adquiri-los com descontos diferenciados, sobretudo diante do volume maior de compra.
De todas as formas, seja para o público final ou no formato mais restrito à especialistas, o e-commerce se tornou uma realidade mundial que, consequentemente, tem levado as empresas a novos investimentos em tecnologia para atender os anseios do consumidor cada vez mais exigente e ansioso por entregas rápidas e eficientes, sem intercorrência nas operações.
Ricardo Canteras, especialista em cadeia fria e logística farmacêutica.