O envelhecimento da população mundial é um movimento que vem se tornando cada vez mais acentuado. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que o número de idosos com 60 anos ou mais duplique até 2050, alcançando 2,1 milhões, e atinja 3,1 milhões até 2100. No Brasil, conforme dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no ano passado, o país registrou alta expressiva de 57,4% no número de idosos entre 2010 e 2022. O aumento da idade pode influenciar no avanço de casos de câncer, sendo uma das razões o acúmulo progressivo de lesões no DNA das células por diversos fatores. A incidência de neoplasias em idosos deve aumentar e chegar a 35 milhões de casos em 2050, representando um avanço de 77% em relação a 2022 – estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Com um cenário que inspira preocupação para o futuro, a Oncoclínicas&Co, maior grupo dedicado ao tratamento do câncer na América Latina, tem feito diversos movimentos para oferecer terapias de ponta com o objetivo de assegurar qualidade de vida ao paciente durante a jornada da doença. Além de expandir suas unidades ao redor do país – conta atualmente com 145 unidades em 39 cidades brasileiras – também vem atuando fortemente no desenvolvimento de estudos científicos e de suporte por meio do Instituto Oncoclínicas. Um deles, que tem como foco a saúde dos idosos com câncer, ganhou destaque internacional recentemente ao receber R$ 4 milhões de investimentos da fundação suíça Rising Tide, tornando-se o primeiro estudo em um país em desenvolvimento a ser apoiado pela instituição, cujo intuito é subsidiar pesquisas clínicas inovadoras de combate à doença.
Com duração de quatro anos, o estudo, intitulado Geriatric Oncology Care in Brazil: Remote Geriatric Assessment – Driven Interventions with Supportive Care, objetiva avaliar a eficácia de uma intervenção que combina a avaliação geriátrica com tratamentos direcionados às necessidades identificadas. O foco é melhorar a função física, minimizar os sintomas de depressão e promover a qualidade de vida em pacientes idosos com câncer, com 65 anos ou mais. Este estudo é apoiado pelo renomado William Dale, que atua como mentor e integra outras iniciativas semelhantes realizadas nos Estados Unidos, com o suporte do Cancer and Aging Research Group (CARG).
De acordo com Cristiane Bergerot, pesquisadora, psico-oncologista e líder da especialidade Equipe Multidisciplinar da Oncoclínicas&Co, que foi a ganhadora deste grant competitivo (prêmio financeiro concedido por uma entidade governamental), essa conquista é um importante reconhecimento do compromisso selado pelo Instituto Oncoclínicas com a pesquisa de excelência e a prestação de cuidados inovadores aos pacientes oncológicos. “O estudo será conduzido em unidades selecionadas da Oncoclínicas, o que ressalta ainda mais a importância do nosso grupo na liderança de iniciativas que buscam transformar a realidade da assistência aos pacientes idosos com câncer no Brasil”, destacou Cristiane.
“O envelhecimento da população está diretamente ligado ao aumento do número de casos de câncer no mundo. Muitas vezes, esses pacientes chegam a um estágio que requer uma assistência integrada e focada em suas necessidades. É fundamental entender como melhorar a qualidade de vida e o enfrentamento da doença para proporcionar melhores prognósticos por meio de medidas simples que podem, inclusive, ter impactos positivos na redução dos custos totais gerados pela doença para o sistema de saúde público e privado”, complementa Cristiane.
Segundo a pesquisadora, o estudo, 100% independente e alinhado às diretrizes da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), tem vários objetivos. Dentre eles, detectar a eficácia das avaliações geriátricas lincada ao suporte multidisciplinar conduzido por telessaúde para melhorar a função física dos pacientes, e também os sintomas ligados a doenças como ansiedade e depressão, proporcionando melhor qualidade de vida a eles durante a jornada da doença.
Mecânica do estudo
Durante o período estipulado, Cristiane e uma equipe multidisciplinar da Oncoclínicas&Co farão a triagem de 350 pacientes com 65 anos ou mais que estejam no início do tratamento programado e sejam atendidos pela instituição, além de 50 pacientes em tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
O acompanhamento deles terá a duração de 12 semanas e será feito por meio de consultas via telessaúde com profissionais como geriatra, psiquiatra, psicólogos, nutricionistas e preparador físico. “Em um primeiro momento, os pacientes responderão à avaliação geriátrica para identificar as necessidades. Em seguida, serão randomizados para um dos dois grupos: de intervenção ou controle. No grupo intervenção, os pacientes terão consultas com os profissionais de acordo com as necessidades identificadas. No braço controle, o médico assistente receberá o resumo das principais necessidades dos pacientes. Todo o acompanhamento será fornecido sem custos para os pacientes”, ressalta Cristiane, principal investigadora do estudo.
Ao final dos três meses, Bergerot destaca que será avaliado o impacto do cuidado e a melhoria da qualidade de vida dos pacientes. “Nosso objetivo é fornecer suporte para que eles enfrentem melhor o tratamento e o diagnóstico, mantendo uma boa qualidade de vida”.
Segundo a líder da Oncoclínicas&Co, a intenção também é utilizar a ampla cobertura do grupo em todo o Brasil para oferecer assistência de qualidade, alinhada aos padrões internacionais, a todos os pacientes, independentemente da localidade.
Reconhecimento internacional
Cristiane Bergerot tem uma atuação intensa e dedicada na pesquisa clínica do câncer, destacando-se pelo seu conhecimento profundo e pela capacidade de gerar um impacto positivo e global. Ela já conduziu estudos reconhecidos internacionalmente sobre a avaliação geriátrica em pacientes com câncer, além de ter sido designada chair do guideline da ASCO de avaliação geriátrica global. Este é o quarto Grant Internacional que ela recebeu desde que retornou ao Brasil.
Dos 10 grants atualmente ativos no Brasil concedidos pelos National Institutes of Health (NIH), todos estão vinculados a instituições públicas, como Fiocruz, UFBa e UFMG, e direcionados para a área de doenças infecciosas. Em um contexto de alta competitividade, o projeto de oncologia liderado por Cristiane se destaca ao captar uma soma que supera todos os demais grants, com exceção de um projeto da Fiocruz, que obteve recursos para infraestrutura de uma unidade de pesquisa.
Além disso, a pesquisadora desempenha um papel ativo em diversas iniciativas da ASCO. Desde 2018, é “Featured Voice” da ASCO e foi recentemente convidada para compor um seleto comitê científico do ASCO Quality Care Symposium. Esse evento, organizado pela ASCO, promove debates e estudos sobre qualidade assistencial em oncologia para os anos de 2024, 2025 e 2026. Cristiane também é membro do Comitê de Comunicação e Editora Associada do Cancer.net e da revista Journal of Clinical Oncology – Oncology Advances.