Horas de treinamento são necessárias dentro de um simulador, antes do piloto comandar um avião de verdade e com passageiros. Faz parte do curso efetuar treinamentos de baixa intensidade e alta frequência, onde é preciso ter o domínio de atitudes e habilidades do dia a dia, como pousos e decolagens, assim como treinamentos de alta intensidade e baixa frequência, em que podem ocorrer situações mais graves, como pegar fogo em uma turbina, que vão demandar decisões rápidas e assertivas do profissional. No ensino da medicina, o cenário é muito semelhante. As mais recentes inovações e melhores práticas em simulação em saúde estão revolucionando o setor de educação médica, pois criam uma conexão com a realidade e funcionam como uma importante ferramenta educacional ao permitirem que os alunos pratiquem habilidades físicas e emocionais, e procedimentos em um ambiente controlado de ensino.
Na simulação realística os estudantes de medicina e os profissionais de saúde que estão se especializando conseguem, em um espaço simulado totalmente equipado e capacitado, praticar desde as situações mais cotidianas, até as mais graves, como paradas cardiorrespiratórias, infartos, intubações, entre outros casos que podem ser potencialmente fatais e necessitam de atuação rápida do médico. Este é o lugar passível de erro. Eles vão praticar, estudar, melhorar a cada treinamento, para que lá na frente, ao lidar com uma situação de paciente real, estejam de fato preparados.
Ao mesmo tempo, este método de aprendizagem busca a autonomia do estudante, fazendo dele o protagonista de sua própria formação profissional. Enquanto, para os professores médicos, fica o papel de tutor e facilitador, servindo de guia em toda essa jornada. A combinação de prática e conhecimento, nos treinamentos de simulação, possibilita ainda o aprimoramento de habilidades sociais e qualidades essenciais, como autocontrole emocional, capacidade de liderança, trabalho em equipe, raciocínio lógico e muitas outras. Tudo isso, quanto colocados juntos em prática, traz diversos benefícios.
Além dos alunos e todo o setor de saúde, os grandes beneficiários dessa inovação são os próprios pacientes. Os treinamentos geram ganhos de performance dentro do simulador, ao permitirem reflexões e repetições de condutas para alcançar a expertise necessária. Os profissionais se formam e se tornam aptos a cuidar do paciente em momentos mais críticos, onde decisões rápidas, assertivas e corretas precisam ser tomadas, proporcionando um atendimento mais seguro e de maior qualidade na assistência à saúde.
No Brasil, em janeiro de 2023, o ITPAC Palmas (TO), atual Afya Faculdade de Ciências Médicas, foi a primeira instituição de ensino no País dedicada à graduação em saúde a receber o Selo de Acreditação da Sociedade de Simulação em Saúde (SSH, na sigla em inglês). O reconhecimento ao Centro de Simulação em Saúde coloca suas práticas pedagógicas em simulação no mesmo patamar que as verificadas nas melhores instituições internacionais, como a Universidade de Stanford, Harvard e a Universidade da Califórnia.
Portanto, a tecnologia tem sido cada vez mais uma aliada determinante da prática médica, proporcionando treinamentos e formações de qualidade. São possibilidades e oportunidades surgindo para que o aluno vivencie de perto aquilo que tempos atrás só era possível nos cenários de prática com pacientes reais. E poderemos avançar ainda mais, aperfeiçoando o ensino e, dessa forma, levando mais benefícios aos pacientes em todo o Brasil.
Prof. Dr. José Roberto Generoso Júnior, médico clínico e intensivista com ampla formação e titulação internacional. Atualmente é Presidente da Sociedade Brasileira para Simulação na Saúde e, desde 2016, atua como Adviser em Simulação para a Afya.
