No Brasil, há 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Destas, cerca de 6% têm Alzheimer, de acordo com dados da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). Já quando se fala em lúpus, doença inflamatória crônica e autoimune, estimativas indicam que existem cerca de 65 mil pessoas acometidas por ela no país, sendo a maioria mulheres. No caso da fibromialgia, de acordo com estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, há pelo menos 4 milhões de brasileiros acometidos pelas dores crônicas provenientes da doença.
A doença de Alzheimer é um transtorno neurodegenerativo progressivo, que se manifesta por deterioração cognitiva e da memória. Dessa forma, interfere no comportamento e personalidade do paciente, reduzindo as capacidades de trabalho e relação social. Apesar de não ter cura, vários estudos vêm afirmando que a cannabis medicinal pode ser utilizada como um complemento ao tratamento convencional, trazendo benefícios comportamentais aos pacientes com Alzheimer.
A médica Karin Mitiyo Corrêa, neurologista e especialista em cannabis medicinal, que atua na Clínica Gravital no tratamento de pacientes com a doença, afirma que o Alzheimer é a principal causa de demência e que a quantidade de diagnósticos tem aumentado rapidamente, devido ao crescente envelhecimento da população. “Na doença, observamos alterações de comportamento, cognição e funcionais. Tem início mais comumente com lapsos de memória, progredindo para comprometimento de atividades mais complexas, como controle das finanças, uso de aparelhos e dificuldade para se adaptar a mudanças”, explica.
Atuação da cannabis na doença
A neurologista afirma que os canabinoides têm importante papel no controle dos sintomas provenientes da doença. De acordo com ela, o sistema endocanabinoide em nosso organismo está relacionado com o equilíbrio bioquímico de várias funções, como cognição, inflamação, dor e ansiedade. “Os fitocanabinoides, como CBD e THC, são capazes de modular o sistema endocanabinoide, com ações anti-inflamatórias e antioxidantes, além de efeito neuroprotetor. Alguns pacientes apresentam melhora em alterações comportamentais como agitação, agressividade, apatia, ansiedade e insônia, especialmente se usada a combinação de extrato rico em canabidiol com baixas doses de THC”, diz ela.
Como os familiares já têm ciência do quadro degenerativo e irreversível da doença, as expectativas com o uso do óleo de cannabis sempre são muito bem manejadas. Com um tratamento individualizado, os efeitos variam de paciente para paciente, porém os primeiros sinais de melhora costumam ser notados com relativa rapidez, em um período que varia de duas a quatro semanas. Ainda de acordo com a médica Karin, os resultados obtidos com a cannabis têm um impacto positivo não somente no paciente, mas em toda a família. “Também já foi observada melhora na aceitação dos cuidados de familiares e cuidadores, e melhor controle de dores, descontinuando ou reduzindo uso de opioides e ansiolíticos”, diz. Karin salienta que a terapia com cannabis constitui um tratamento complementar ao medicamentoso, além da associação de medidas clínicas, de reabilitação e orientação aos familiares e cuidadores.
Fibromialgia e lúpus
A fibromialgia é caracterizada por uma dor neuropática, ou seja, em pessoas acometidas por ela, o sistema de dor está constantemente ativo, mesmo sem causa ou lesão aparente, o que causa grande desconforto. Segundo Karin, a cannabis tem se mostrado bastante eficaz pois tem a capacidade de controlar os estímulos neuropáticos. O resultado é uma diminuição significativa nos sintomas da fibromialgia. Há ainda estudos que sugerem que uma disfunção do sistema endocanabinoide do corpo pode ser a causa da fibromialgia, sendo sua manipulação uma abordagem terapêutica potencial. Dessa forma, no tratamento com cannabis, os canabinoides derivados da planta interagem com o sistema endocanabinoide do corpo para reduzir e controlar a dor.
Já o lúpus é caracterizado como um distúrbio crônico, no qual o corpo produz mais anticorpos que o necessário. Eles, por sua vez, atacam o organismo causando inflamações nos pulmões, rins, articulação e na pele. A cannabis atua positivamente nesses sintomas, pois possui ação anti-inflamatória e imunossupressora, sendo capaz de modular a resposta celular e regular as inflamações, diz Karin. Outra grande vantagem apontado por ela é o fato de oferecer poucos efeitos colaterais, algo altamente vantajoso para portadores da doença, cujo tratamento tradicional, assim como no caso de outras doenças autoimunes, é feito com corticoides que podem desencadear outros diversos problemas no corpo.
Fundada no Rio de Janeiro em 2019, a Clínica Gravital é a primeira clínica médica focada em tratamento à base de cannabis medicinal do Brasil. Possui seis unidades no país, sendo uma delas em Sorocaba, onde possui uma equipe multidisciplinar que atende pacientes em tratamento de condições clínicas como insônia, doenças autoimunes, dores crônicas, fibromialgia, enxaqueca, autismo, doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer, entre outras.