A doença de Chagas afeta cerca de 6 a 7 milhões de pessoas na América Latina, sendo aproximadamente 2 a 3 milhões de casos no Brasil. A enfermidade, que compromete igualmente homens e mulheres, é uma das principais causas de morte súbita por arritmias cardíacas na região, com estimativa de 10 mil óbitos anuais. Em meio a esse cenário, um estudo inovador, recentemente publicado no Jama Cardiology, trouxe novas perspectivas para a prevenção desse tipo de morte em pacientes com doença de Chagas.
O estudo, liderado por Martino Martinelli-Filho do Instituto do Coração (InCor), com participação da Unifesp, do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), é o primeiro ensaio clínico controlado que comparou o impacto do Cardioversor Desfibrilador Implantável (CDI) com o uso da amiodarona, uma medicação amplamente empregada em situações de arritmia cardíaca.
Entre os autores do estudo, está Angelo Amato de Paola, professor titular da disciplina de Cardiologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e diretor do Hospital Universitário 2 (HU2). Ele destaca a importância desse trabalho como um marco no tratamento invasivo da doença de Chagas. “Esse estudo é um divisor de águas ao demonstrar que, apesar de não ter reduzido a mortalidade geral, o CDI foi eficaz na diminuição da morte súbita e das hospitalizações por insuficiência cardíaca”, explica o professor.
O CDI mostrou-se mais eficaz do que a amiodarona, frequentemente utilizada para controlar arritmias em pacientes com doença de Chagas. O estudo revela que o desfibrilador implantável, ao identificar e corrigir arritmias graves automaticamente, pode salvar vidas ao evitar paradas cardíacas inesperadas. Com essa tecnologia, os pacientes também apresentaram menor necessidade de internações por complicações cardíacas.
A doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi, é considerada um problema de saúde pública na América Latina. Embora avanços no diagnóstico e tratamento tenham sido alcançados ao longo dos anos, a prevenção de eventos graves, como a morte súbita, ainda é um desafio significativo. A pesquisa publicada reforça a necessidade de investir em novas tecnologias e terapias eficazes para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a mortalidade associada.
O professor ressalta que os resultados abrem caminho para novas abordagens terapêuticas e reforçam a importância de estudos clínicos bem conduzidos. “É fundamental continuar investindo em pesquisa para que possamos oferecer aos pacientes o melhor tratamento disponível e, assim, promover mais saúde e qualidade de vida para aqueles acometidos por essa doença negligenciada”, afirma.
A pesquisa aponta para a necessidade de expandir o acesso à tecnologia do CDI na rede pública de saúde, oferecendo uma opção mais eficaz e segura para pacientes com doença de Chagas e estabelece uma base sólida para futuros estudos e incentiva a continuidade das investigações sobre a doença de Chagas. A implementação desse dispositivo em maior escala pode representar uma mudança significativa na redução de mortes evitáveis e na melhoria dos cuidados cardíacos.