Com objetivo de alertar a população sobre a importância de se prevenir contra as doenças que afetam o sistema fonatório, a Campanha Nacional da Voz segue até o próximo dia 31 de julho, oferecendo exames gratuitos de laringoscopia em 22 estados da federação. Os interessados em receber o atendimento gratuito devem se cadastrar através do site da campanha. Caso confirmada alguma alteração, o paciente é encaminhado para o atendimento especializado em unidades públicas cadastradas.
Desde o início da campanha, em abril, quase 3 mil atendimentos já foram agendados por meio da iniciativa, que tem o patrocínio do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia e é organizada pela Academia Brasileira de Laringologia e Voz (ABLV), em parceria com a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Do total de agendamentos feitos até agora, mais de 500 exames já foram realizados.
Ações de conscientização, focadas em públicos específicos, também estão sendo realizadas durante o período. Na quinta-feira passada, 15, docentes e profissionais de saúde bucal participaram de um bate-papo com o médico Domingos Tsuji, uma das referências nesse segmento, no Sesc Vila Mariana, na cidade de São Paulo.
O encontro também teve a participação da fonoaudióloga Bruna Rocha. Juntos, eles expuseram aos presentes uma série de questões que envolvem a saúde da voz; tiraram dúvidas e ensinaram técnicas de aquecimento e relaxamento das pregas vocais. “O uso excessivo da voz acaba provocando lesões nas cordas vocais, o chamado fonotraumatismo. É um problema que, na maioria das vezes, é sanado com descanso e hidratação, mas é importante estar atento. Rouquidão que persiste em mais duas, três semanas, é sinal de alerta. O sintoma mais clássico de câncer de laringe é justamente a alteração da voz”, enfatizou Tsuji, lembrando que o Brasil é um dos países com maior taxa de diagnósticos da doença. “Embora a curabilidade seja alta, é fundamental o diagnóstico precoce e isso nem sempre acontece.”
Na mesma linha, a fonoaudióloga destacou a importância da hidratação como principal forma de evitar lesões nas pregas vocais e também ensinou técnicas de aquecimento e desaquecimento da voz. “O autoconhecimento é fundamental para avaliarmos possíveis alterações. Os exercícios de fonação contribuem muito para isso e servem como indicativo importante em casos de alteração que precisam ser investigados”, afirmou Bruna.
Anos de docência e rouquidão crônica
O bate-papo foi mediado pelo biólogo Octávio Weber, que atualmente compõe a gerência de educação para sustentabilidade e cidadania do Sesc, e tem um histórico de problemas relacionados ao sistema fonatório. No início dos anos 2000, após 11 anos atuando como professor em escolas da rede pública e privada, ele passou a ter rouquidão crônica. “Tive uma fissura nas pregas vocais que, mesmo tratada, até hoje ainda compromete minha voz. Uma das causas, acredito eu, foi justamente a falta de hidratação. Antigamente, os professores eram orientados a não tomar água em frente aos alunos. O entendimento era de que isso despertaria sede neles e, por isso, pediriam para sair da sala.”
Pesquisa do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinprosp), em parceria com o Centro de Estudos da Voz, aponta que 63% dos professores já tiveram problemas com a voz. No setor público, dados do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) indicam que a perda de voz é um dos motivos que mais justificam o afastamento de professores por questões médicas.