A qualidade do atendimento prestado no setor de saúde está intimamente ligada às condições de trabalho dos profissionais da linha de frente. Pensando nisso, o Synergos Brasil, em parceria com a FGVsaúde e apoio da J&J Foundation, lançou a 2ª edição do relatório Diálogo sobre Políticas para Resiliência e Bem-Estar dos Profissionais de Saúde, que aborda os principais desafios enfrentados por esses trabalhadores, além de propor soluções para melhorar o ambiente de trabalho.
O documento, que resulta de uma colaboração entre profissionais de saúde, instituições do setor público, sociedade civil, iniciativa privada e organismos internacionais, aponta quatro áreas prioritárias que exigem atenção dos gestores de saúde: a prevenção ao assédio e à discriminação; a diversidade, equidade e inclusão; a gestão de pessoas e as mudanças climáticas.
“É fundamental que os gestores de saúde se atentem aos problemas que afetam a saúde e o bem-estar dos profissionais da linha de frente, pois são eles que mantêm o sistema de saúde em funcionamento, oferecendo cuidados essenciais à população. Esses trabalhadores enfrentam desafios constantes, como longas jornadas de trabalho, alta carga emocional e física, além do risco constante de exposição a doenças e violência. A falta de atenção a essas questões pode gerar sérios prejuízos não apenas para os próprios profissionais, mas também para a qualidade do atendimento prestado aos pacientes e para a eficiência do sistema de saúde como um todo”, frisa a professora titular da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ana Maria Malik.
No ambiente de trabalho da saúde, o assédio e discriminação geram desgaste emocional, ansiedade, baixa autoestima e insatisfação no trabalho, além de afastamentos e aumento da rotatividade de funcionários. “Profissionais desvalorizados ou que não se sentem apoiados têm maior probabilidade de abandonar a profissão ou mudar de instituição, o que gera custos elevados para o sistema de saúde, como gastos com recrutamento, treinamento e perda de experiência”, fala a diretora para a América Latina do Synergos, Silvia Morais. “A rotatividade também pode afetar a continuidade do cuidado e gerar desconfiança por parte dos pacientes, que dependem da relação de continuidade com seus profissionais de saúde”, acrescenta.
Outro ponto que traz impactos negativos é a falta de diversidade, equidade e inclusão, o que limita oportunidades de crescimento e cria ambientes excludentes, prejudicando o senso de pertencimento e a motivação dos profissionais.
A ausência de estratégias eficazes na gestão de pessoas, por sua vez, resulta em má distribuição de tarefas, sobrecarga, falta de reconhecimento e dificuldades em manter equipes engajadas e produtivas.
Já no aspecto das mudanças climáticas, o cenário intensifica a pressão sobre os trabalhadores devido ao aumento de doenças relacionadas ao clima, condições extremas de trabalho e desafios logísticos, especialmente em regiões vulneráveis.
“Gestores e líderes de instituições de saúde precisam ver essas questões não como desafios isolados, mas como componentes essenciais de suas agendas estratégicas. Ao adotar medidas que promovam o bem-estar e a resiliência dos profissionais, não estamos apenas cuidando deles; estamos garantindo a qualidade do atendimento que a população merece. É preciso refletir sobre as mudanças que podemos implementar hoje, para construir um sistema de saúde mais justo, equitativo e preparado para os desafios do futuro”, salienta Ana Maria.
“O relatório é um convite à reflexão e uma chamada de atenção para os gestores e líderes de organizações da saúde, que devem considerar essas questões como parte de suas agendas estratégicas. Nosso objetivo com esse documento é oferecer diretrizes práticas que possam inspirar as instituições de saúde a adotar medidas concretas e eficazes para a promoção do bem-estar de seus profissionais”, ressalta Silvia. “Apenas assim conseguiremos construir um sistema de saúde mais resiliente e capaz de enfrentar os desafios do futuro”, conclui Silvia.