Nos últimos anos, temos testemunhado uma rápida evolução tecnológica e uma das áreas que mais têm se beneficiado é a medicina. Existe um campo emergente que tem possibilitado uma série de transformações no cuidado ao paciente, o da internet das coisas médicas (IoMT – internet of medical things), que diz respeito a objetos interconectados que são capazes de compartilhar informações entre si.
Por meio dela, houve uma inovação na maneira como são tratadas e monitoradas doenças crônicas, principalmente no cuidado domiciliar. No congresso da European Respiratory Society (ERS) de 2022, pude apresentar um estudo que marcou um importante avanço no impacto causado por esta tecnologia. A pesquisa demonstrou a eficácia do telemonitoramento baseado em IoMT para a melhoria de pacientes que requerem ventilação mecânica.
Foram abrangidos diversos tipos de padecimentos, incluindo neuromusculares, neurológicos e pulmonares. A análise se estendeu por um ano e contou com a participação de 110 pacientes, sendo 75% deles em uso de ventilação mecânica invasiva (intubados) e 25% utilizando interfaces oronasais.
Neste processo, a IoMT permitiu conectar os aparelhos de ventilação mecânica a profissionais de saúde remotamente, viabilizando o monitoramento em tempo real e de forma contínua, o que possibilitou a realização de intervenções precoces quando necessárias. No período, 63% dos pacientes tiveram melhorias clínicas relacionadas à utilização do telemonitoramento. Fora isso, a tecnologia reduziu significativamente as despesas em até 45% para as fontes pagadoras, gerando menos demanda por leitos hospitalares e abrindo oportunidades para expandir a cobertura dos planos de saúde.
Os resultados positivos desencadearam uma segunda fase do estudo, apresentada este ano no congresso da European Respiratory Society em Milão. Com mais de 225 pacientes participando, 171 demonstraram avanços significativos em seu tratamento e 22 receberam alta. Isso significa que 85% deles puderam desfrutar dos benefícios do telemonitoramento, e tiveram o conforto e a sincronia otimizados com ajustes indicados por profissionais à distância, o que permitiu antecipar potenciais complicações.
Além de validar a eficácia da IoMT, as investigações realizadas permitem o vislumbre de um futuro promissor para a assistência médica domiciliar no país. Essa evolução não se resume em compartilhar conhecimento médico especializado, mas também abre a possibilidade de mitigar erros, agilizar ajustes e conceder um tratamento mais humanizado e personalizado.
As vantagens são tanto para pacientes, quanto para as operadoras de saúde, já que ocorre a otimização de recursos financeiros e o aumento da capilarização da oferta de atendimento em todo o território nacional. Com a tecnologia, o acesso à assistência médica de qualidade deixa de ter como fator limitante a presença física. Dessa forma, a atenção se torna mais eficiente, acessível e, sobretudo, mais humanizada.
*João Paulo Silveira atua há 20 anos no setor de assistência médica domiciliar e sono, é fundador da Domicile Home Care e sócio da holding Plural Care, além de membro do Conselho Fiscal Efetivo da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP).