Há uma frase batida, mas que nunca perde sua validade: prevenir é melhor do que remediar. O problema é que na prática, a saúde brasileira, e nós como sociedade, ainda insistimos em ignorá-la.
Seguimos vivendo em um sistema de saúde, tanto público, quanto privado, que trata os sintomas quando já estão avançados, mas pouco faz para agir antes deles aparecerem. E isso tem um custo altíssimo: financeiro, emocional e estrutural.
Um levantamento recente da Clínica da Cidade revelou um dado interessante: 60% das mulheres buscam consultas de prevenção, enquanto apenas 29% dos homens fazem o mesmo. Ou seja, sete em cada dez homens esperam que algo esteja errado para ir ao médico. Mais do que estatística, isso é reflexo de uma cultura, que ainda associa cuidado à fraqueza.
Outro ponto de atenção é a faixa etária. A maioria das buscas por cuidados preventivos vem de pessoas entre 25 a 29 anos, um dado que pode até surpreender, mas que aponta o quanto essa nova geração parece enxergar o autocuidado de forma mais integral e consciente. Saúde para eles não é apenas ausência de doença, mas parte de um estilo de vida. E isso se manifesta nas escolhas, nos hábitos e nas prioridades.
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No entanto, ainda estamos longe de democratizar esse pensamento. O Brasil convive com desigualdades profundas no acesso à informação, diagnóstico e cuidado preventivo. Enquanto alguns já monitoram indicadores de saúde por smartwatch e agendam exames pelo celular, outros seguem com dificuldades para marcar uma consulta básica na atenção primária.
E é aqui que precisamos ampliar o debate: por que ainda é tão difícil prevenir em um país que gasta tanto remediando? De acordo com a OMS, 80% das doenças crônicas poderiam ser evitadas com ações simples de prevenção, como alimentação adequada, prática de atividade física e check-ups regulares. No entanto, o sistema continua girando em torno da urgência, e não da antecipação.
Acredito que está na hora de mudarmos a pergunta. Não é mais “por que prevenir?”, mas sim “o que nos impede de prevenir?”. A resposta passa por educação em saúde, acesso, tecnologia e, acima de tudo, por uma mudança cultural que valorize o cuidado antes da dor.
Não podemos mais deixar para depois o que pode ser evitado agora. Porque saúde não é apenas uma ausência de doença, é a presença do cuidado. E cuidar, em qualquer área da vida, é sempre um ato de responsabilidade com o futuro.
Rafael Teixeira, CEO da Clínica da Cidade.
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