O professor da UFBA, Marco Aurélio Salvino (foto acima), hematologista e transplantador de medula óssea, lança o livro “A Hematologia do Futuro”, no qual explica como será a chegada de terapias inovadoras que substituirão a quimioterapia e radioterapia. A obra será lançada no dia 5 de maio, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), no Pelourinho, em Salvador. O médico atua como coordenador da Unidade Semi-Intensiva de Hematologia e Terapias Celulares do Hospital São Rafael e é membro da ABHH, SBTMO e das sociedades europeia e norte-americana de hematologia. O prefácio é da professora emérita da Universidade de Paris, Eliane Gluckman, que realizou o primeiro transplante de cordão umbilical no mundo.
De 2012 até o momento, o médico já atuou como investigador principal de mais de 20 estudos clínicos multicêntricos internacionais para a descoberta de novos medicamentos para a cura de doenças onco-hematológicas. Cerca de 200 pacientes da Bahia participaram de pesquisas que hoje já contribuem para o tratamento de doenças, que até então, não tinham cura ou para a chegada de tratamentos inovadores, o que posiciona a Bahia como um celeiro de estudos para doenças como leucemias, linfomas e mieloma múltiplo. Com destaque para o desenvolvimento do CAR T-cell, terapia que utiliza as células de defesa do próprio paciente, que após serem modificadas geneticamente e devolvidas ao corpo dele, possuem alta capacidade de destruir as células cancerígenas.
O livro fala sobre como será a hematologia daqui a 15 anos. “Não estamos falando de um futuro distante, mas algo palpável. Parece que está logo ali, pois está tão rápida a evolução nessa área da medicina, que podemos, na verdade, utilizar o termo revolução, uma vez que daqui a 15 anos os tratamentos atuais estarão ultrapassados”, explica Salvino.
O resultado de tanta pesquisa se transformou neste guia útil para alunos de áreas da graduação em saúde que queiram pensar sobre o futuro profissional, para residentes de clínica médica que ainda não escolheram a especialidade, residentes de hematologia que podem saber qual a área de atuação tem mais afinidade, além de ser um grande apoio para pacientes e familiares que enfrentam doenças hematológicas e estão à espera de um tratamento e querem entender em detalhes o que está acontecendo. E, principalmente, para os gestores da área de onco-hematologia.
“Hoje em dia, a (r)evolução científica é tão rápida, que tomar ações sobre esse futuro equivale a dirigir um veículo de altíssima velocidade e ter que desviar dos buracos. Mas o único jeito de você não cair num buraco quando é desviar muito antes, pois não dará tempo de desviar nem frear. E o único jeito de escapar é antever e saber onde está o buraco”, reflete o médico e professor hematologista.
Como ver esse futuro da medicina preparando as especialidades? Será que eu tenho que aumentar o número de leitos de hematologia ou reduzi-los? Ou teremos que ter leitos específicos para transplante de medula óssea e CAR T-cell? Essa obra ajuda a chegar a visualizar as respostas.
Os tratamentos utilizados atualmente para leucemias, linfomas, mieloma múltiplo e demais doenças onco-hematológicas ainda são semelhantes aos que existem há 15 anos. Porém, essas gerações terapêuticas, que antes demoravam cerca de 30 anos para evoluir, estão se inovando num intervalo menor, de 15 anos a cinco anos. Então, nós próximos 15 anos, o médico explica que vamos presenciar a chegada de três novas gerações de terapias. O que se traduz em um universo de possibilidades de novos tratamentos para os pacientes que aguardam a luz no fim do túnel.
Ao longo da carreira de quase 25 anos na medicina, Salvino se dedicou à hematologia e ao transplante de medula óssea. “Mas o que realmente sou apaixonado é pelo ensino e pesquisa. Atuo fortemente como pesquisador clínico de novas terapias da hematologia, sempre focado na inovação. Desde os estudos ultra inovadores, como a Terapia Celular e CAR T-cell, considerados uma revolução no paradigma terapêutico, até os novos medicamentos, moléculas e anticorpos inéditos que estão deixando para trás a convencional quimioterapia, que num futuro nada distante, será substituída pelas terapias-alvo, as quais relato no livro”, enfatiza o transplantador de medula óssea.
Por trabalhar com inovação, ele relata que sempre se questionou qual seria o futuro da hematologia. A resposta é que, na verdade, “eu já estou vivenciando um pouco desse futuro, pois atuo com inúmeros estudos, trato de pacientes com medicamentos que serão aprovados para uso somente daqui a 10 anos. Só que fazendo isso ao longo dos últimos 15 anos, eu pude ter acesso, literalmente, aos medicamentos do futuro, que são utilizados agora, mas utilizados bem antes”, exemplifica o médico.
Afinal, para um medicamento estar em uso, ele leva quase uma década de estudos, e o médico Salvino sempre esteve envolvido no que há de mais moderno na hematologia. “Hoje, eu tenho essa vontade de adivinhar um pouco do futuro da área a que mais me dedico. Não ouso jamais falar do futuro de outras coisas”, diz.
O conteúdo do livro dialoga também sobre a medicina 3.0 e como ela se torna acessível para a população, abordando o que temos pela frente e sobre a velocidade que isso está mudando.
O livro foi finalizado em 2019, junto com a pandemia de COVID-19, daí a impossibilidade de lançá-lo. A pandemia acabou se tornando parte do final do livro, porque, sendo imprevisível, nos ensinou que nem tudo é controlável. “Tudo que ponho no livro é um cenário que tem a pandemia no centro das nossas decisões, para mostrar que nem tudo é previsível e não dominamos. Precisamos estar prontos, mas não temos o controle nas mãos. Afinal, sempre temos que ter a humildade de saber que há algo acima de nós”, conclui o pesquisador.
Agora, num melhor cenário da pandemia, o professor da UFBA faz o lançamento do livro que reverterá toda a renda para grupos voltados à área assistencial, pacientes e associações da hematologia. A versão digital do livro está disponível na loja da Amazon.