Desde o início da pandemia o sistema de saúde privado, como esperado, rapidamente se organizou e concentrou esforços para oferecer testes para a Covid-19, incluindo os limitados sorológicos, mas, em especial, o RT-PCR, que detecta a presença do vírus. Em momento de grande dificuldade de obtenção de insumos, competindo com países desenvolvidos e limitações de logística para importação, a rede privada conseguiu, em certa medida, aumentar a oferta de testes, incluindo os complexos testes de biologia molecular RT-PCR, arma fundamental na luta contra o novo coronavírus, que ainda não possui cura definitiva ou vacinação.
No entanto, as limitações da estrutura do sistema de saúde privado brasileiro foram expostas durante a pandemia.
No nosso sistema, estamos em uma fase em que coexistem em extremos opostos o pagamento por serviços (fee for service) e a verticalização total, geralmente sem controle da qualidade dos resultados de saúde obtidos. Embora em muitas cidades a assistência aos casos mais graves e a oferta de leitos hospitalares tenha sido bem equalizada com a redução de atividade médica de caráter mais eletivo, o sistema se mostrou especialmente inepto na prevenção de uma virose que consumiu vidas e causou estragos na atividade econômica.
No sistema em que prestadores e pagadores estão constantemente em disputa, pacientes mais uma vez ficaram com o pior lado, uma cobertura muito limitada pelos planos aos testes, preços elevados e pagos, na maioria das vezes, do próprio bolso dos usuários, refletindo limitações estruturais e regulatórias.
A testagem em larga escala continua a ser um pilar fundamental da prevenção e controle da pandemia, com importantes avanços da indústria na criação e produção de novos testes, bem como em procedimentos de segurança pelas instituições de saúde e pela sociedade em geral, com muitos casos de sucesso envolvendo por exemplo bolhas em eventos esportivos.
Precisamos nos organizar melhor para oferecer os melhores testes, programas de prevenção e tratamentos a valores justos para toda a população Brasileira, de maneira sustentável. Precisamos alinhar incentivos aos participantes da cadeia para que os incentivos do sistema estejam focados no bem estar do usuário.
Prevenção e diagnóstico são premissas fundamentais para se obter sucesso no combate à Covid-19, assim como no combate à maioria das patologias que afetam a humanidade. Permitem abordar a maior parte das afecções em estágio inicial e evitar fases em que a qualidade de vida e o custo do tratamento tornam o peso das doenças muito mais evidente.
Um sistema de remuneração por qualidade de saúde e performance, embora de difícil implementação, deve nos levar a um sistema mais eficiente, centrado no paciente, trazendo grandes vantagens a toda a sociedade.
Doutor Juan José Cevasco Jr., diretor Médico do Grupo Alliar.