A pandemia trouxe um explosivo crescimento da telemedicina e agora enfrenta o desafio de se consolidar como um novo modelo de serviços médico-assistencial, buscando oferecer melhor qualidade com menos custo que os sistemas de entrega tradicionais. Já avançou rapidamente no último ano e agora enfrenta os desafios de criação de um novo modelo de negócios que virá pós-pandemia, com o aumento da competição e participação de novos players.
Nesta terça-feira, 29, abrindo o segundo painel do Fórum Saúde Digital, Luiz Ary Messina, diretor de Relações Institucionais em Saúde da RNP-RUTE e presidente da ABTms Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde, falou das muitas dificuldades enfrentadas para regulamentar o atendimento remoto no país.
“Há 20 anos esperamos por uma maior compreensão dos avanços científicos para o diagnóstico remoto e também a conectividade que nos colocaria e muito mais à frente no mercado mundial no que se refere às conquistas da telemedicina e telessaúde”, comentou o especialista.
Segundo ele, tanto os desafios são grandes como também as oportunidades neste sentido. “A prática da telemedicina envolve entre outras barreiras a serem vencidas sejam elas éticas, médico legais, riscos, responsabilidades, de licenciamento, qualificação, padrões e complementando tudo isso, legislação”, ressaltou.
Como objetivou Messina, a intenção da telemedicina é que a saúde chegue depressa e com qualidade a todos os cantos do Brasil e para tanto foram desenvolvidos várias frentes e programas foram implementados como o Programa Nacional de Telessaúde Brasil Redes, Universidade do SuS (Unisus) e a Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) todas com foco na formação e na qualificação e capacitação profissional, em parceria com países da União Europeia e da América Latina.
“Nesse trajeto de construção de redes de formação houve a Pandemia acelerando os processos. Hoje não há mais como voltar atrás. O que nos resta agora é investir nos processos de saúde, nas boas práticas nas especialidades que devem ser seguidas, nos vários níveis de interação seja através de leis como entre os próprios profissionais da telessaúde. Estabelecida no país como prática, juntamente com os debates por meio dos conselhos da área, a oportunidade de emitir resoluções e diretrizes levarão à consciência da prática eficiente entre os envolvidos”, ressaltou.
Para o Dr. Jamil Cade, médico e CEO da W3.Care, hoje não tem como levar acesso ao paciente, com um custo aceitável, caso a telemedicina não for implementada. “Os questionamentos à teleconsulta, além das discussões, não devem voltar atrás, a questão custo, mas a territorialidade suplanta qualquer outro contraditório pois todo profissional pode atender em todo o país”, reforçou.
Conforme disse, a teleconsulta nunca foi questionada, a telessaúde era tão grande e complexa para aplicação, que muito havia neste contexto a ser racionalizado. Entretanto a pandemia nos ensinou que se não fosse isso haveria um caos completo na saúde de vários países, incluindo o Brasil.
“A tecnologia e a sociedade proporcionaram as métricas e scores para a percepção do valor deste tipo de atendimento. Hoje a telemedicina alivia os prontos socorros, reúne profissionais para segundas opiniões, mas mais que isso viabilizou acesso a todos da sociedade. De outro lado, vemos que sua implementação permitiu um sistema saudável, colaborou com a desospitalização, especialmente no home care e passou a integrar diretrizes e critérios de atendimento dos pacientes, como nunca se havia feito antes”, disse o CEO da W3 Care.
Segundo o Dr. Caio Soares, diretor de Medicina da Teladoc Health Brasil, a telessaúde e telemedicina permitiram realmente não só melhorar o acesso, mas também chegar até aqueles pacientes, uma maioria, que deveriam ser encaminhados para o procedimento, mas que pelo impedimento com a Pandemia, acabam não tendo acesso ao atendimento presencial.
De outro lado, como lembra Soares, a telemedicina permite que toda a cadeia de atendimento, remoção, internações, provisões etc dos centros de atendimento fossem dimensionados adequadamente quando integrados a este tipo de atendimento a distância.
“Observamos também que além de reduzir o custo houve um aumento de acessos e passamos a dar suporte adequado e muitas vezes até identificando que alguns pacientes deveriam mudar cuidados por não terem recursos apropriados”, comentou Soares.
Para ele, a telemedicina é uma realidade seja pela sua expansão seja pelos benefícios para clientes e profissionais. A possibilidade de chegada de um novo patamar de conectividade como o 5G irá permitir, segundo ele, o barateamento das demais redes e consequentemente a ampliação do acesso a localidades que ainda não são atendidas pela tecnologia de telemedicina.