Focada em preconcepção, pré-natal, parto e pós-parto por meio de uma metodologia e plataforma de cuidados online, a startup de saúde Theia, fundada por três mães, Flavia Deutsch, Paula Crespi e pela obstetra Laura Penteado, alcançou um marco importante no país da cesárea: realizou mais de 500 partos, desses 60% pela via vaginal, ou seja, quatro vezes o índice 15% de partos normais realizados pelos planos de saúde em 2019, segundo dados do Painel de Indicadores de Atenção Materna e Neonatal, da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Desde o primeiro parto assistido, no final de 2021, a Theia já acompanhou o nascimento de mais 500 bebês, e atualmente, oferece atendimento presencial em São Paulo (capital) e realizou mais de 12 mil atendimentos apenas neste ano, um crescimento de 270% em comparação a 2022.
O Brasil tem o segundo maior número de cesáreas no mundo, apesar dos riscos aumentados da cirurgia tanto para mãe quanto para o bebê, atrás apenas da República Dominicana. O índice indicado pela Organização Mundial da Saúde para essa via de parto varia entre 10% e 15% para redução da mortalidade materno neonatal, contudo o “país da cesárea” está no extremo oposto em percentuais.
Isso vem com consequências importantes: enquanto a meta da Organização das Nações Unidas (ONU) era, até 2015, atingir menos de 35 mortes por 100 mil nascimentos, hoje no Brasil estamos com 107 mortes a cada 100 mil nascimentos de acordo com o Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna.
Para referência, nos Estados Unidos, um dos piores países desenvolvidos, houve 32.9 mortes a cada 100 mil partos segundo o CDC. “Infelizmente temos mais de três vezes a taxa americana de morte materna, e muitas poderiam ser evitadas” afirma Flavia Deutsch, CEO e uma das fundadoras da empresa.
Além do recorde em cesáreas e o índice assustador de morte materna, o Brasil também está entre os dez países do mundo com maior taxa de prematuridade, com 340 mil bebês nascendo prematuros todos os anos. A prematuridade é a principal causa de morte infantil. Estudos mostram que um bom pré-natal, que integra profissionais de diversas especialidades em um atendimento sistêmico, pode mudar esse cenário. Na Theia, a taxa de prematuros está em 4,8%. Ou seja, ⅓ da taxa do Brasil de 12,4% (Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e do Ministério da Saúde.
“Praticar obstetrícia baseada em evidências e de forma transdisciplinar é o que nos permite entregar melhores desfechos clínicos” afirma a Diretora Médica e co-fundadora da Theia, Laura Penteado. “A própria OMS, já em 2015, indicava a revisão e atualização das diretrizes clínicas, tanto com materiais educacionais e treinamentos de profissionais, como uma das formas mais eficazes de estímulo ao parto normal”.
“Para conseguir promover essa transformação, em escala, nos apoiamos no que há de mais atual na ciência sobre a obstetrícia, entendendo que oferecer uma assistência transdisciplinar, um pré-natal conjunto – com obstetras, obstetrizes, enfermeiras obstetras, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogas, entre outras especialidades, além de educação perinatal que ajude as gestantes a fazerem escolhas conscientes e empregar tecnologia com excelência nos dá o potencial para oferecer experiências de parto mais positivas e melhores desfechos”, completa Flávia.
Não são apenas os desfechos clínicos que merecem atenção no país, a assistência em si muitas vezes é traumática para as mulheres. “Eu tive um pré-natal anterior muito ruim e um parto cheio de violência na minha primeira gestação. Cheguei à Theia com muito medo de passar por tudo isso outra vez. Conheci uma assistência que eu não tinha ideia que podia existir – fisioterapeuta, nutricionista, pediatra, enfermeiras obstetras, obstetras falam a mesma língua e a gente se sente cuidada”, afirma Marina Soldera, que teve seu primeiro filho há 12 anos e ressignificou a experiência de parir com a assistência transdisciplinar da Theia.