Com 89.632.912 habitantes e 303.886 médicos, o Sudeste possui uma razão de 3,39 profissionais da área por mil habitantes, maior entre regiões do Brasil, segundo dados da Demografia Médica no Brasil 2023. Mesmo assim, a distribuição de médicos é desigual nos estados e municípios da região e, na comparação com outras regiões, evidencia problemas de infraestrutura e de valorização da classe, contribuindo para a falta de acesso de parte da população a serviços básicos de saúde.
Apesar de ficar acima, inclusive, da média Brasil, onde a razão de mil habitantes por médicos é de 2,41 e estar bem à frente de regiões como o Norte, cuja razão é 1,45, no Sudeste existem diferenças regionais e nos municípios. Nos estados do Sudeste, a razão entre profissionais da área por mil habitantes é de 3,77 no Rio de Janeiro, de 3,5 em São Paulo, de 3 no Espírito Santo e de 2,91 em Minas Gerais, que tem a menor proporção da região, embora tenha uma população maior que o Espírito Santo e o Rio de Janeiro.
As variações também se aprofundam nos diferentes municípios. Enquanto as capitais do Sudeste possuem uma razão de 6,64 médicos por mil habitantes, o interior tem 2,70 e as regiões metropolitanas 1,51, menor que a média de estados como o Pará (1,18), cuja razão é a menor do Brasil.
Embora existam essas diferenças entre regiões, Estados e municípios, os dados mostram que houve o aumento no número de médicos no Brasil. Ainda segundo o estudo, realizado pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB), em pouco mais de 20 anos, o número de médicos mais que dobrou no País. Em janeiro deste ano, havia 562.229 médicos inscritos nos 27 Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), o que corresponde a uma taxa nacional de 2,6 médicos por mil habitantes. Nessa perspectiva, deverão ser mais de um milhão de médicos em 2035.
De acordo com o médico Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), o Brasil sofre com uma grande desigualdade na distribuição da população médica. Isso significa que, segundo o especialista, o volume não resolve o problema de saúde do Brasil. Além disso, a proporção de profissionais da área atuando em municípios pequenos e mais distantes dos grandes centros urbanos é ainda menor.
“Analisando o cenário, não é difícil constatar que a má distribuição de profissionais não resulta de um suposto desinteresse dos médicos, que até chegam a migrar para essas regiões. O grande problema é que acabam desistindo de atuar nessas cidades, onde notam a ausência de uma infraestrutura mínima: não há hospitais, postos de saúde, unidades especializadas, remédios, transporte. Não há o mínimo para atender com dignidade.”, aponta o presidente Anadem.
Essas desigualdades relacionadas à demografia médica também se fazem presentes em recortes entre gêneros. O estudo mostra que as mulheres ganham, em média, R$ 13 mil a menos que os homens, ainda que exista a estimativa que elas serão maioria daqui a apenas um ano, com 50,2% do total de profissionais. Em 2035, a expectativa é de que a porcentagem aumente para 56%. “Essa desigualdade na renda entre homens e mulheres também deve ser trazida à baila nas discussões com os órgãos competentes e autoridades. Se as mulheres possuem a mesma formação e obedecem aos mesmos trâmites burocráticos que os homens ao longo de sua trajetória profissional, não há explicação racional para que haja essa diferenciação salarial”, esclarece Canal.