A saúde mental é um tema recorrente na área de tecnologia. E não é por menos, uma vez que há um notório esgotamento de profissionais do setor, devido às longas jornadas de trabalho, seguidas de cronogramas apertados e pressão para efetuar entregas.
De acordo com pesquisa realizada pela Pfizer em parceria com Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), 53% dos profissionais da área avaliam que o próprio bem-estar “poderia ser melhor” e cerca de 6% já apresentam sinais de burnout ou síndrome do esgotamento profissional. Isso nos leva a acender um sinal de alerta no setor de tecnologia.
De fato, o ritmo do trabalho na tecnologia é muito acelerado. Há uma corrida eminente entre as empresas pelo pioneirismo em lançar seus produtos, pois o custo do atraso pode ser muito alto. Isso leva a uma pressão enorme para que as equipes entreguem cada vez mais rápido, respondendo às demandas do negócio por mudanças e atualizações .
Além disso, a baixa maturidade de algumas empresas relacionada aos processos de desenvolvimento tem influência direta nessa sobrecarga. É bastante comum times de negócio modificarem diversas vezes os pedidos para as equipes de desenvolvimento num curto espaço de tempo, o que pode despertar ansiedade e afetar a autoestima dos profissionais de tecnologia devido ao mal planejamento desse processo.
Em contrapartida, quando essas alterações são respostas a mudanças bruscas de mercado ou há possibilidades de um ganho rápido e estratégico para a organização, isso pode gerar resultados excelentes para o ânimo da equipe. Contudo, o mais comum é que essas mudanças sejam solicitadas de maneira desordenada, impedindo que o time entregue tanto o que já havia sido planejado, quanto o que foi solicitado depois. Os colaboradores entram num ciclo vicioso de solicitação, que funciona basicamente em: não entrega, nova solicitação, não entrega, e assim por diante. Isso acaba sendo bastante frustrante para todos.
Além dessas mudanças desordenadas, é comum nas empresas o sentimento de “sempre cabe mais uma coisinha”, como uma solicitação rápida, um pedido extra, entre outras demandas pontuais que, quando somadas à quantidade de trabalho já existente, torna o cenário inviável.
O que fazer, então, para não causar esse desgaste na saúde mental dos profissionais de tecnologia? Como protegê-los do temido burnout? A primeira coisa é ter um bom processo de priorização de tarefas. Se há uma mudança brusca no mercado, ou se uma correção de rota no desenvolvimento se faz necessária, é importante garantir que a nova solicitação seja finalizada, não apenas iniciada e deixada de lado, e repensar a quantidade de trabalho planejado para a semana. Desse modo, o time não precisa ter uma carga extrema de horas extras e consegue manter um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal.
Além disso, quanto mais experientes são os profissionais de tecnologia, mais eles precisam ver sentido nas atividades que desenvolvem. Executar tarefas sem entender onde elas se encaixam, ou apenas porque foi solicitado, traz um sentimento de afastamento do trabalho que leva à frustração. Nesse sentido, é importante trazer contexto ao profissional sobre por que ele está desenvolvendo aquela tarefa. Algumas vezes, esse engajamento com o trabalho conta mais para o senso de realização do profissional do que o próprio salário.
Em suma, para garantir a saúde mental dos profissionais de tecnologia, os gestores de TI devem investir em processos bem definidos de priorização de atividades e engajar o time contextualizando-os na grande estratégia da empresa, gerando o sentimento de pertencimento e motivação.
*Neylson Crepade é CDO (chief data officer) da A3Data, consultoria especializada em dados e inteligência artificial.