Casos de câncer entre os homens devem aumentar em 84% até 2050

Homens vivem menos do que as mulheres em boa parte do globo e têm maior taxa de mortalidade. O que vale para doenças em geral, também se aplica à oncologia. Uma nova pesquisa, recém publicada pelo veículo científico Cancer, da American Cancer Society, traz pela primeira vez um recorte alarmante de como os números de incidência de tumores entre pessoas do gênero masculino devem subir nos próximos anos – e atingir de forma mais acentuada a população de países em desenvolvimento, como o Brasil. O estudo da Escola de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Queensland aponta que, até 2050, os casos de câncer entre os homens devem aumentar em 84% e, as mortes devem ver um aumento de 160% em países com IDH médio e baixo entre adultos mais velhos.

“Boa parte desses resultados se deve ao fato de que, em geral, os homens são mais arredios em relação a estratégias de rastreamento. Então, em tumores que acontecem nos dois sexos, de homens e mulheres, como no caso do câncer colorretal, a adesão dos homens a estratégias de colonoscopia é bem menor do que a das mulheres. A outra é de estruturação do sistema de saúde mesmo. O diagnóstico para tumores femininos é melhor estabelecido no mundo, inclusive no Brasil, do que para tumores masculinos, por exemplo, o câncer de próstata. E há também os fatores ambientais: em geral, os homens fumam mais e bebem mais do que as mulheres”, comenta Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas&Co e presidente do Instituto Oncoclínicas.

Outros achados apontam que as mortes relacionadas ao câncer devem subir de 5,4 milhões para 10,5 milhões, um aumento de 93%. Espera-se que os homens com 65 anos ou mais vejam um crescimento de mais de duas vezes nas mortes por câncer, com um salto de 117%. Para o estudo, foram utilizados os dados estimados de 2022 do GLOBOCAN, desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para apresentar as estatísticas de câncer em homens em 185 países e territórios ao redor do mundo.

Envelhecimento da população impactará saúde

Os idosos devem chegar a quase 38% da população do Brasil em 2070, apontam novas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se de um dos sinais do processo de envelhecimento do país, que tende a ser intensificado nas próximas décadas. Segundo a instituição, pessoas com 60 anos ou mais representavam 15,6% da população em 2023. A proporção tende a saltar a 37,8% em 2070. O fenômeno acontece em boa parte dos países subdesenvolvidos e tem impacto significativo na saúde, aponta Carlos Gil.

“Iremos observar esse aumento de incidência mesmo, porque o câncer é uma doença muito ligada à idade, tem maior recorrência nas populações mais velhas. Então esses estudos são muito importantes, pois ajudam no desenho de políticas públicas e desenvolvimento de estratégias de prevenção, conscientização e rastreamento específicas para o sexo masculino. E até formas de comunicação com os homens diferentes da comunicação com as mulheres, em termos da importância dessas estratégias de prevenção e diagnóstico precoce”, explica.

Mas há boas notícias também, aponta o especialista, desde a criação da Política Nacional de Controle de Câncer, que trouxe uma conscientização, uma awareness muito maior. “Nunca tivemos no Brasil um momento tão favorável à proposição e, eventualmente, desenvolvimento de políticas específicas para controle de câncer. Nos últimos anos, houve uma grande mobilização para vários projetos, principalmente projetos de lei, e também pautas e debates sobre o tema, como o Congresso do Câncer de Pulmão, o evento da ‘Aliança contra o Câncer de Pulmão’, com audiência no Plenário do Senado, algo que era inimaginável alguns anos atrás. Então, acredito que teremos impactos positivos também”, finaliza Carlos Gil Ferreira.

Panorama global do câncer

Atualmente, considerando uma prevalência de 5 anos da doença, a OMS informa que aproximadamente 53,5 milhões de pessoas estão vivendo com câncer em todo mundo, sendo que 1,6 milhão delas estão no Brasil – um número que, conforme as perspectivas da entidade, seguirá crescendo.

As projeções indicam uma tendência de elevação dos índices mundiais de detecção do câncer, chegando ao patamar médio de aumento de 77% em 2050 quando comparado ao cenário registrado em 2022, com 20 milhões de novos casos da doença. Isso significa que nas próximas décadas uma a cada 5 pessoas terá câncer em alguma fase da vida.

Em 2022, 10 tipos de câncer representaram dois terços dos novos casos e dos 9 milhões de óbitos decorrentes da doença. O de pulmão foi o mais comum em todo mundo, com 2,5 milhões de diagnósticos (12,4% do total), seguido do câncer de mama feminino (2,3 milhões, ou 11,6%), colorretal (1,9 milhão, 9,6%), próstata (1,5 milhão, 7,3%) e estômago (970 mil, 4,9%). Globalmente, tumores de pulmão (18,7%), colorretal (9,3%) e fígado (7,8%) foram as principais causas de óbito pela doença.

No Brasil, dos 1.634.441 pacientes oncológicos em 2022 — incluindo os novos casos e aqueles diagnosticados em cinco anos —, 278.835 morreram, principalmente de tumores de pulmão, mama feminino e colorretal. As três maiores incidências foram próstata (102.519), mama feminino (94.728) e colorretal (60.118). O risco de desenvolver qualquer tipo de câncer no país antes dos 75 anos foi de 21,5%, sendo maior (24,3%) entre os homens.

Considerando a previsão de novos casos em 2050, o Brasil deve registrar 1,15 milhão de novos casos, um aumento de 83,5% em comparação a 2022. As mortes por câncer também devem ter um aumento considerável: 554 mil, 98,6% a mais do que o atual volume registrado de óbitos pela doença no país.

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