A pandemia de COVID-19 impossibilitou, em muitos casos, a realização presencial de intervenções necessárias à manutenção da saúde e da qualidade de vida da população idosa. A dificuldade tem sido ainda maior para pessoas com distúrbios neurodegenerativos. Nesse contexto, pesquisadores das áreas de fisioterapia, gerontologia e medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) iniciaram um projeto de pesquisa que visa testar um programa de telerreabilitação, ou seja, que propõe o uso de recursos tecnológicos de informação e comunicação para viabilizar intervenções a distância para idosos com demência e seus cuidadores.
A iniciativa, realizada pelo Laboratório de Pesquisa em Saúde do Idoso da UFSCar, é apoiada pela FAPESP. O objetivo é analisar os efeitos desse programa de telerreabilitação em relação a três aspectos no cotidiano da população-alvo: saúde mental, qualidade de vida e capacidade funcional (habilidade de realizar atividades físicas e mentais no dia a dia, garantindo a autonomia da pessoa).
Em entrevista à Coordenadoria de Comunicação Social da UFSCar, Larissa Pires de Andrade, coordenadora do projeto, conta que, apesar de os principais sinais clínicos da demência envolverem comprometimentos cognitivos, como prejuízos à memória e à atenção, estudos mostram que ela também traz, com frequência e em seus estágios iniciais, prejuízos motores e funcionais, que exigem intervenções fisioterapêuticas precoces para prevenir agravamentos na parte física.
Em estudos anteriores, Andrade, juntamente com orientandos, desenvolveu um protocolo de intervenção para ser aplicado em ambiente domiciliar.
“Durante a avaliação física, o paciente comumente demonstra dificuldades em relação às intervenções fisioterapêuticas propostas, não pela habilidade física em si, mas por um não entendimento do exercício. Outras vezes, ele possui distúrbio de comportamento, como irritabilidade ou agressividade, e não quer fazer o exercício. Por isso a importância de um acompanhamento próximo tanto do idoso como do cuidador, mostrando caminhos para superar essas barreiras”, diz a pesquisadora.
Antes da pandemia, os pesquisadores iam até a casa do paciente para testar o protocolo, orientando o cuidador pessoalmente. Nesse estudo inicial, os resultados mostraram alta adesão às sessões (93,75%) e o protocolo se mostrou eficaz, considerando a mobilidade dos idosos, pois aumentou significativamente a força muscular e a capacidade funcional dos idosos, além de diminuir o risco de quedas.
Com a pandemia e o confinamento, o acompanhamento e as orientações foram adaptados para o formato on-line.
Avaliação
Para a percepção da saúde mental e da qualidade de vida, que se tornaram aspectos ainda mais importantes nesse período, há a aplicação de questionários, aos quais tanto o idoso como o cuidador respondem, para avaliação de similaridades e discrepâncias nas respostas. Outro instrumento avalia a saúde mental específica do cuidador, para, se necessário, dar suporte emocional a ele também.
Atualmente, o projeto busca pessoas com mais de 60 anos, que tenham diagnóstico de demência leve ou moderada e não tenham restrição de atividade física, para participar voluntariamente do estudo e testar o protocolo que envolve especificamente a telerreabilitação.
A ferramenta deve ser acessada pelos voluntários por meio de uma plataforma on-line e os pesquisadores realizam uma capacitação prévia com o cuidador. Em seguida, aplicam os questionários e acompanham as intervenções com os idosos, que correspondem à realização de exercícios físicos três vezes por semana.
Durante as duas primeiras semanas, o acompanhamento é integral e on-line. A partir da terceira semana, o cuidador deve fazer os exercícios com o idoso sem acompanhamento.
Pessoas interessadas em participar podem entrar em contato pelo telefone (45) 99960-4522 ou pelo e-mail telessaude.alzheimer@ufscar.br.
As informações são da Agência Fapesp, com informações da Coordenadoria de Comunicação Social da UFSCar.