A indústria farmacêutica enfrenta desafios únicos e complexos, que exigem precisão, conformidade e eficiência operacional. Com um portfólio extenso e dinâmico, o setor lida com quase 7 mil produtos comercializados no Brasil, abrangendo 14 mil tipos de apresentação e quase 2 mil princípios ativos, segundo dados da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Essa complexidade se agrava devido às exigências regulatórias, ao impacto das patentes e aos altos investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Além disso, a cadeia logística é altamente sensível às variações globais, o que dificulta ainda mais a gestão eficiente do setor.
Outro grande desafio é a gestão comercial, que exige uma visão estratégica entre sell-in, ou seja, vendas do fabricante para varejistas ou distribuidores, e sell-out, que são as vendas do varejista para o consumidor. Grandes players do mercado podem influenciar a demanda, tornando o planejamento ainda mais desafiador.
Para complicar, cada país da América Latina possui regulamentações e dinâmicas de mercado próprias, o que torna ainda mais necessário a unificação do planejamento sob uma plataforma integrada, garantindo uma operação regional mais eficiente e segura.
Diante desse cenário complexo e bastante desafiador, a tecnologia é mais do que uma aliada indispensável quando se trata de integrar planejamento e operação, oferecendo visibilidade total às farmacêuticas na cadeia de suprimentos.
Com o uso de ferramentas avançadas, é possível modelar múltiplas plantas industriais, otimizando a produção de acordo com capacidades, custos e prioridades estratégicas.
No que diz respeito à demanda, tecnologias como Machine Learning (Aprendizado de Máquina) e algoritmos estatísticos analisam padrões de consumo e volatilidade, gerando variações mais precisas. Isso permite que as empresas antecipem cenários e ajustem suas estratégias com agilidade.
Além disso, uma solução de planejamento fortalece a rastreabilidade e a conformidade regulatória, permitindo um controle rigoroso de lotes, listas técnicas e parâmetros de qualidade. Em momentos delicados e de crise, como os enfrentados durante a pandemia, modelos de otimização possibilitam simulações rápidas, ajudando as empresas a reajustarem estratégias para manter o atendimento aos clientes e a rentabilidade.
Seja de forma regional ou global, quando integramos a cadeia de suprimentos conseguimos obter visibilidade das informações e melhoria da capacidade analítica, sem contar com a possibilidade de criar uma base única para todo o negócio, fatores esses que são relevantes e vão além das questões de custos e eficiências.
Entretanto, é importante frisar que apenas adotar tecnologia não é o suficiente. É essencial que as equipes estejam capacitadas para interpretar os dados gerados e transformá-los em ações práticas. Investir nessa capacitação é primordial, pois processos bem definidos garantem resultados consistentes e acessíveis a todos os envolvidos.
A solução, portanto, está na integração entre tecnologia e estratégia. Com ferramentas robustas e o apoio consultivo para ligar as questões de negócios às tecnologias aplicáveis, tanto para o planejamento quanto para as demandas relacionadas à operação, ao somar com a inteligência aplicada, é possível ter um modelo de indústria farmacêutica que supera os desafios de um mercado dinâmico e altamente exigente, transformando complexidade em oportunidade.
Nesse quesito, o futuro do setor não precisa ser uma incógnita. Com inovação e planejamento estratégico, é possível garantir previsibilidade, controle e, acima de tudo, competitividade e sustentabilidade das operações.
José Ferreira, head da prática de IBP (Integrated Business Planning) da Ábaco Consulting.